Quando comecei a escrever, me deparei com um texto que muito me agradou. Um texto que questionava se as mulheres queriam realmente criar um filho ou ter um bebê.

O texto fez um tremendo sucesso, sendo aplaudido por muitos e rendeu também alguns comentários grosseiros como todo texto importante gera.

A agressividade decorre, em minha opinião, do vislumbre de fantasmas internos que preferimos ocultar de nós mesmos.

Quando alguém diz algo com que concordamos, mas não queremos concordar, normalmente reações agressivas explodem. Na verdade estamos brigando com a gente mesmo e o outro é apenas um canal para a nossa raiva contida.

As pessoas costumam rotular de egoístas as mulheres que não querem ter filhos. Mas talvez realmente egoísta seja a mulher que não quer ter um filho, mas mesmo assim o tem.

Infelizmente nem todas as mulheres nascem com a vocação para serem mães. Quando entrei em contato com este tema pela primeira vez fiquei um pouco chocada pois na minha cabeça ter filhos era fundamental para todas as mulheres. Me pareceu estranho uma mulher não ter nascido para ser mãe.

Mas acontece e ninguém deveria se sentir obrigado a ter filhos por nenhuma razão que fosse o verdadeiro desejo de ser mãe e a real intenção de se comprometer com a educação do filho.

Sei que colocarei o dedo na ferida, mas infelizmente vemos muitas mulheres sem instinto maternal e desprendimento lutando para serem mães.

Mulheres que trabalham 14 horas por dia e que se colocam em primeiro, segundo e terceiro lugar querendo ser mães. Por quê? Para cumprir um preceito social? Para dizer que conquistou tudo que é importante para uma vida próspera?

Filhos não são bonecas com quem brincamos quando queremos. Filhos são seres humanos extremamente dependentes e exigentes que vão desejar o melhor dos nossos sentimentos, o melhor do nosso tempo e energia.

Criar bem um filho não se resume a pagar a mensalidade de uma boa escola e encher a criança de presentes caros. Criar bem um filho não se resume a decorar um quarto lindo para ele e levá-lo para a Disney nas férias de julho.

Filhos precisam da companhia das mães. Filhos querem ouvir histórias antes de dormir. Filhos querem ser abraçados e beijados. Filhos querem contar o que aconteceu na escola e pedem ajuda para fazer os deveres. Filhos não querem ser filhos apenas nas férias, feriados prolongados e meia hora por dia, entre a chegada do trabalho e os cuidados com a beleza.

Não digo que uma mulher não possa conciliar uma carreira com maternidade. Claro que pode. Pode e deve. Mas mulheres muito voltadas para as sua carreiras, viciadas em trabalho, que vivem viajando a negócios e fazendo horas extra deveriam pensar calmamente se nasceram mesmo para serem mães.

Quem deseja uma vida livre de horários, quem deseja fazer amor no meio da sala e tirar férias em qualquer época do ano, quem não se comove com o universo infantil e não se vê assistindo a teatrinho de escola, deveria ser sincero consigo mesmo e dizer “Não nasci para ser mãe”. A mulher não pode sentir que está desperdiçando a sua vida ao cuidar do filho.

Se ela assim o sente, além de sofrer muito, fará a criança sofrer também. Crianças criadas com pouco afeto e paciência tendem a não conhecer limites e têm mais dificuldade para estabelecer vínculos afetivos fortes.

É muito triste ver tantas crianças vivendo de migalhas afetivas, aproveitando as sobras de tempo que a mãe oferece. Se o tempo é escasso mas carinhoso, ainda vai. E quando a mãe chega sempre tensa e nervosa , louca para se esfoliar e se hidratar e a criança aparece cheia de demandas? Ser mãe não é carreira nem emprego. É vocação e missão.




Profa. doutora , idealizadora da Pós em Cinema do Complexo FMU, escritora e psicanalista. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

34 COMENTÁRIOS

  1. Gostei e concordo com o texto. Mas o título não é coerente na minha opinião, acho que altruísmo é justamente o amor de uma mãe, talvez o único amor altruísta. Uma pessoa que não deseja ter filhos dever receber outro termo, mas não é altruísta.

    • Isso é irrelevante. Ela não está defendendo nem quem quer e nem quem não quer. Está apenas pontuando o que tornaria uma mãe frustrada e uma criança carente de amor e cuidados.

    • “Grandes pessoas discutem sobre idéias, pessoas medíocres falam sobre coisas e já pequenas pessoas resumem-se a falar apenas sobre outras pessoas.”

  2. Silvia, falou tuuudo! Eh exatamente o que penso e sinto! Filha de uma mae que sentia que estava desperdicando a vida cuidando dos filhos (4, diga-se de passagem)…. Decidi nao cometer o mesmo erro. Muitos tentam me convencer do contrario, mas minha conviccao e tao grande que nem sinto a critica.
    Obrigada pelo texto!

  3. Não concordo com tudo no texto. Eu nasci para ser mãe, sei disso e quem me conhece sabe disso, mas nunca senti a segurança de colocar uma criança num mundo tão hostil onde você tem que estar preparado financeiramente para possibilitar acesso ao seu filho às oportunidades. No mais, eu não em emociono com teatrinhos infantis das escolas mas me emocionaria com qualquer coisa que fosse importante ao meu filho. No meu caso não é questão de tempo mas de preservação a esse filho que não vou ter… não aguentaria ve-lo sofrer por nada…

  4. Muito bom o texto, mas esperei um pouquinho mais. No entanto entendo e concordo com o título, mas realmente ele nos dá ideia de outra história. Pois bem, a parte autruista está quando uma mulher decide não ser mãe e fazer sofrer um filho…Eu concordo plenamente com isso. Parabéns pelo trabalho. Aguardando mais. ?

  5. Parabens pela sua inspiracao em escrever esse lindo texto.Concerteza nos coloca como autores de nossa historia, sem a possibilidade de nos vitimizar por nossas escollhas….

  6. Filho é algo muito sério, eu não quero ter pelo simples motivo de não ter achado o parceiro bacana. Além do mais colocar um ser em um mundo tão ruim me faria uma carrasca! Desculpa a sinceridade.

  7. Exatamente como eu penso! Tenho 30 anos nunca quis ter filhos e agora quero menos ainda, é confortador saber que não estou sozinha nessa.

  8. Texto excelente! Filho é coisa séria. É um compromisso para o resto da vida. Colocar filho num mundo física e ecologicamente limitado, escasso, competitivo e bagunçado, com mais de 8 bilhões de pessoas — e aumentando assustadoramente — para disputar uma vaga à escassa felicidade e autorrealização, para sofrer tudo o que a gente passa num mundo (ou país) que está longe de ser o ideal por bel-prazer de ser pai/mãe tem que ter muita coragem — ou insensibilidade e excesso de descuido ou vaidade.

    Costumo dizer que eu amo tanto o meu filho(a), que jamais o traria para este mundo do jeito que está.

  9. Nao quis ser mãe porque nao podia parar de trabalhar já que meu marido vivia desempregado. Eu nunca aceitei nao poder ficar com meu filho, no mínimo até os seus 7 anos de idade.

  10. Interessante, mas decepcionante. O texto acaba na metade, ao meu ver. Falta a contra argumentação. Foi só um ponto de vista! Não teve a defesa da mulher que é mãe, mas queria achava que não queria filhos, ou da mulher que detestava crianças mas passou a amar seus filhos de sobremaneira que nem ela imaginava! Conheço tantas assim.

    Aqui, nesse texto, foi só a defesa de um ponto de vista apenas. Desculpe, esperava mais. Não está ruim, apenas incompleto. Frisa-se “ao meu ver”.

  11. Já fui chamada de egoísta por dizer que não queria ser mãe e tive esse mesmo pensamento exposto nesse artigo. A criança realmente precisa de afeto para se desenvolver saudável psicologicamente, filhos não são descartáveis. Minha mãe teve filhos para dar uma satisfação à família, mas nunca deu afeto ou esteve presente na vida de nenhim dos seus filhos. Cresci sentindo um vazio imenso e o que sinto hoje é que na verdade nunca tive mãe. Maternidade é algo que deve ser muito bem pensado. Hoje não quero ser mãe porque sei que não sou capaz de dar o que não tive. Tomara que outras mulheres que se sentem assim consigam desenvolver esse mesmo raciocínio para não fazer outras crianças sofrerem. Obrigada pelo artigo!

  12. Concordo plenamente! Ser mãe é algo que vem na alma e não querer ter filhos não nos torna mal e sim alguém livre de regras! Mais somos obrigados a nada a não ser, sermos felizes! O importante é fazer o que o coração sentir vontade! Mãe ou não o importante é sermos pessoas melhores e evoluirmos sempre!

  13. O filho a que a autora se refere no texto é uma produção independente? Ele não tem um pai? Porque absolutamente tudo recai sobre a mãe como se apenas ela existisse.
    Esse papo de vocação e instinto materno já está superado.
    Existe milhões de motivos altruístas para não ser mãe, como alguns leitores colocaram nos comentários. Mas os da autora me pareceram muito frágeis. Esperava mais.

  14. Sempre quis ser mãe, mesmo sem casar mas era complicado na época. Realizei meu único desejo na vida e não me arrependo, pois tive duas filhas que até hoje me faz feliz . Tentei dar tudo que não tive da minha mãe, carinho e orientação de vida. Mesmo sem experiência de vida o amor ensina agir. Mas concordo, só devemos ser mãe se for de verdade.

  15. Concordo plenamente. Existem varios aspectos que devem ser considerados antes de uma mae ou pai colocarem um filho no mundo. Filho nao eh brincadeira, boneco. Nunca quis ter filhos e nunca me senti mal por isso, hoje em dia vejo que foi a melhor decisão que fiz. Fui casada duas vezes, os dois maridos gostariam de ter filhos mas eu avisei logo no começo que nao tinha a menor vontade.

  16. Mas que bobagem… Tudo na vida é uma escolha a ser feita. Não existe dom de ser mãe. Nenhuma mulher nasce sabendo ser mãe. São escolhas da vida. Quem não nasce pra ser mãe é um homem que não tem útero nem seios para amamentar um bebê faminto. Falta lucidez nesse texto.

  17. Ser Mae é mais do que querer ter filhos. Eu não concordo com mães que tem Babá o tempo todo. Discordo das mães e pais que se matam de trabalhar, como foi dito mais de 14 horas por dia, só para oferecer “tudo do bom e do melhor para os filhos”, mas sempre tem as babás as escolas particulares etc. Eu mesma deixei de trabalhar tempo integral, não tenho dinheiro no momento para viagens a Disney, vendi o carros, casa grande, nem gosto. Se depender de mim meu filho jamais conhecera a Disney. Mas tenho o privilégio de ter tempo para o meu filho, de ter um apartamento maravilhoso, que ele ama, ler para ele todas as noites ir ao parque, levá-lo ao futebol, andar de bicicleta, cozinhar com ele, ir à bibliotecas, museums,simplesmente deixar-lo ser criança. Essas coisas bastam no momento. Ressalvo que fui Mae aos 43 anos, um filho sempre foi desejado, mas creio que eu não faria de tudo para ter um filho e jamais aceitei ficar com um homem que não queria ter filhos. Porque para mim essa questão é a mais natural de todas, ou seja, Se tiver de ser será. Eu respeito muito as mulheres e homens que optaram por não ter filhos, afinal também é uma decisão é de cada um.

  18. Texto bem medíocre para uma pesquisadora titulada com doutorado.
    Esse “infelizmente” só reforça a maternidade como suposta inclinação natural e destino!
    Mulher não é útero a serviço do Estado, se até na Seara jurídica ( naturalmente conservadora ( já se chegou a essa conclusão, na psicanálise uma adjetivação assim é lamentável!

    • você não pode obrigar alguém que não quer ter filhos a ter. Inclinação natural é o desejo de ter. Ninguém é feliz tendo que fazer o que não quer. Eu por exemplo não quero ter filhos. Se eu tivesse, me sentiria na obrigação de cuidar, e obrigação pra mim é o oposto de felicidade. Não seria feliz, e meu filho muito menos. Não recebi amor e carinho da minha mãe quando era pequena, isso me trouxe muitos problemas, e não quero que ninguém passe pelo o que eu passei, e acredito que o desejo de cada mulher tem que ser respeitado.

  19. “Infelizmente nem todas as mulheres nascem com a vocação para serem mães.” Porque infelizmente? Ler uma pesquisadora com doutorado, afirmar que “infelizmente” algumas mulheres não nascem com vocação para maternidade me espanta!

  20. Um texto muito reflexivo, é muito bom ter o prazer de poder pensar em certas coisas de diversos pontos de vista. É muito raro escrever algo que agrade à todos, mas nunca podemos desistir de expressar nossos pensamentos por medo do julgamento alheio.
    O ser humano tem a necessidade de criticar e julgar tudo, as vezes nem pensa e nem entende a mensagem, apenas pelo prazer do EGO, ele julga para alimentar esse vazio que ele tem dentro dele e é insaciável, pois uma das coisas mais difíceis hoje em dia, é antes de dormir, aproveitar aquele momento de total solidão com sua mente e poder pensar, eu sou completa, eu sou feliz, eu sou grata a tudo que tenho, raridade total quem consegue fazer isso.
    Continuando minha humilde opinião, que é claro, não é absoluta, quis comentar mais para desabafar, eu sou mãe e compreendo muito bem o texto, até chorei, porque é isso mesmo, ser mãe, é uma luta constante contra você mesma, será que isso é melhor para meu filho, o que faço agora, o que falo, dou de tudo, ensino o valor da conquista, deixo de castigo, dou umas palmadas??? Não existe receita, nem formula, e é um amor inexplicável, é difícil, é cansativo, é prazeroso, é muito amor, é alegria, é dor, é tristeza, é cansaço e você consegue e sempre da um jeito de terminar em felicidade.
    Conheço sim, muitas mães, que não são mães, por isso entendo o texto, mas aprendi a não julgar ninguém, porque julgar é como a autora falou, é ativar seus medos interiores e bichos e se colocar em guerra com você mesmo, julgar é se comparar, e nada, nem ninguém é igual a nada e nem ninguém.
    Homem, conhece-te a ti mesmo, Homem, realiza-te!

  21. Parabéns, mil vezes parabéns. Concordo com cada linha do seu texto. Nascer mulher ainda é ter a obrigação de ouvir a pergunta: mas você não vai querer filhos? Feliz da mulher que sabe ouvir seu coração: ela vai saber se há ou não espaço na sua vida (e no seu coração) para acolher uma criança (para o resto da vida).

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