Dias atrás estava eu com uma puta ressaca literária após o término d’O lobo da Estepe. Com o intuito de procurar no Google um meme para dizer sobre minha ressaca, eis que uma das coisas mais pesquisadas era: “como curar ressaca literária?”.

Fiquei intrigada com isso e fui estudar a fundo sobre o assunto fazendo uma pesquisa muito séria e confiável pelo Facebook. Lancei para meus amigos a seguinte questão: O que você faz para curar-se de uma ressaca literária? Encontrei algumas boas respostas, mas descobri, concomitantemente, que meus amigos, ou grande parte deles, são bons cachaceiros.

Transcrevo aqui algumas das dicas encontradas, vai que ajuda (omiti os nomes dos sujeitos da pesquisa para não causar constrangimento):

Sujeito 1: Como com água: quanto mais se bebe, mais sede se tem.
Pesquisadora: Você bebe água pra curar a ressaca literária, é isso?
Sujeito 1: Eu leio mais kkk.

Sujeito 2 (lacônico): Lendo mais!

Sujeito 3 (a fila anda): Eu pego o próximo livro da fila!
Pesquisadora: Logo na sequência ou dá um tempinho?
Sujeito 3: Geralmente termino tarde da noite, então o tempo entre eles é de aproximadamente meia noite! Já entro no carro para trabalhar carregando o próximo, rsrs.

Sujeito 4 (não acredita na cura possível): É um tipo de ressaca que não cabe cura. Há apenas distrações até ser provocado novamente por outro livro.
Pesquisadora – ativa: Gostei disso. Como se sempre fôssemos sofredores, né?
Sujeito 4: (in)felizmente isso.

Sujeito 5: Lendo!
Pesquisadora: Em seguida? Nem chora um tempinho?
Sujeito 5 (o insensível): Sim, sem piedade! Nem café…

Sujeito 6 (perdido): Que é ressaca literária? Estou por fora.
Pesquisadora: A angústia que sente quando um livro de que gostou muito acaba.
Sujeito 6 (encontrando um rumo na vida): Ai, estou assim desde que terminei “Nossas noites”, de Kent Haruf. Curtinho e me deixou com vontade ler outros textos do autor. E Lucia Berlin? É desesperador saber que nada mais será publicado depois de “Manual da faxineira”, volume que reúne todos os seus contos.

Sujeito 7 (bebum): Tequilas!

Sujeito 8 (usa do recurso da negação para não ter que lidar com o luto): Vou diminuindo a leitura até não conseguir terminar. Me interna. Kkkkk
Pesquisadora-interpretadora selvagem: Mas daí é problemático.
Sujeito 8 (em fase de aceitação): Muuuito! Patológico.

Sujeito 9 (livro como fetiche): A lista dos livros para serem lidos sempre está enorme. Tenho fetiche por livro novo. É só curar a ressaca bebendo mais.
Pesquisadora: Sem intervalo pro luto?
Sujeito 9 (bem resolvido): Tem que digerir, mas sem sofrimento. Já fico com fome do próximo.

Sujeito 10 (o retorno ao útero): Dizem q o único jeito de curar ressaca alcoólica é bebendo de novo. No meu caso isso não funciona, fico doente na cama por 3 dias. O mesmo acontece na ressaca literária, trancada no quarto escuro em posição fetal emitindo grunhidos por aproximadamente 72h.

Sujeito 11: Procuro ler leituras mais tranquilas que te envolve mais rápido como uma HQ por exemplo.

Sujeito 12 (que faz bom uso da própria neurose): Haha boa questão. Digo a mim mesmo (com nó na garganta) que “não morro sem ler de novo, um dia essa obra estará nublada na minha memória!”. Assim, já mato dois coelhos: balizo a morte pra longe e consigo desapegar logo do livro pra não estragar a expectativa do flashback kkkk ele está sempre lá na frente de novo. Não é um “adeus”, é sempre um “até logo” kkkk a neurose às vezes ajuda.

Sujeito 13 (o que apela à vontade): Você pode recomeçar devagarinho, mas tem que querer. 🙂

Sujeito 14: Com um outro tipo de ressaca.
Pesquisadora: Enche a cara? Entorta o caneco?
Sujeito 14 (já tinha ido pro bar e não respondeu).

Sujeito 15 (cético, pero intergaláctico): Eu não acredito em ressaca literária, até porque a quantidade de grandes livros para lermos é infindável. Daria para prosseguirmos com a leitura até o entrelaçamento da Via Láctea com Andrômeda. Por exemplo, agora estou na fase Sul-americana, que já dura alguns anos: Huidobro, Nervo, John dos Passos, Rúben Dario, Sarmiento, Horacio Quiroga, etc etc. Está quase no fim. Depois, literatura nacional, incluindo Isloany Machado (a pesquisadora fica feliz em ser útil). Até porque nos cursinhos da vida éramos obrigados a ler autores alheios à nossa vontade, razão de nutrirmos algumas birras meio infantes. Por exemplo, já parou para pensar que, por exemplo, Graciliano Ramos e Tobias Barreto são dois puta autores?? Somente na “adultez” temos as prerrogativas mentais necessárias para apreciar estas obras a contento…
Pesquisadora: zzzzzzzzzzzzz

Sujeito 16: Ando tomando cerveja. Coisa que não fazia. Depois de velho começar a beber parece ser ruim. Acho que o velho hábito de ler um de poesia outro de romance ou conto funciona melhor. Ah, ano que vem público dois, agora com mais tranquilidade e método. Boa sorte com sua ressaca.

Sujeito 17: É como dizem, para combater a ressaca, é só tomar outra.

Como vocês puderam ver, muita gente vai pro bar curar ressaca. Estas foram as respostas que obtive na pesquisa e acho que foram boas dicas dos meus amigos. Curei minha ressaca d’O lobo da estepe depois de alguns dias, iniciando a leitura de Presença de Anita, indicado por um amigo. Estou de ressaca de Presença de Anita desde 22 de outubro e ainda não me recuperei. Mas parece que cada um se cura à sua maneira. Escrever sobre o livro também pode ser um bom remédio!




Psicóloga clínica, psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano - Fórum do Campo Lacaniano de MS. Revisora de textos na Oficina do Texto. Especialista em Direitos Humanos pela UFGD e em Avessos Humanos pelo Ágora Instituto Lacaniano. Mestre em Psicologia pela UFMS. Despensadora da ciência e costuradora de palavras por opção. Autora dos livros Costurando Palavras: contos e crônicas (2012), Em defesa dos avessos humanos: crônicas psicanaliterárias (2014) e do romance Nau dos Amoucos (2017). Mãe do Adriano.

1 COMENTÁRIO

  1. Adoreei o texto! Descontrai além de ajudar. E estou precisando de muita ajuda! Rss
    Sou igual ao sujeito 10, principalmente quando se trata de livros que se passam em universos fantásticos com cenários históricos (aqueles livros que mostram cenários e costumes de uma sociedade na qual você se encaixaria perfeitamente e se sentiria pleno se vivesse nela). Além de ficar assim também com aqueles livros tiro e queda para nos deixar de ressaca: Os romances dramáticos.

    Atualmente estou passando por uma ressaca literária brava! Ao passar uma temporada em casa, resolvi reler uma trilogia da qual estava com muita saudade! Mas ao termina-la, entrei naquela ressaca literária de não querer mais seguir a minha rotina. Até aí tudo bem, já que eu estava em casa. Só que agora quero ler uma continuação ou outro livro da mesma autora, mas fico pensando que se eu fizer isso, não vou conseguir continuar minha rotina de estudo e trabalho, já que meu tempo de retiro esta quase no fim.
    Daí fico nesse dilema: Leio os outros livros dela e corro o risco de voltar a ficar de ressaca e prejudicar a minha atenção com as outras coisas, ou me distancio para poder garantir a saúde pscicológica necessária para voltar a rotina da vida contemporânea?

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