Pensei em inúmeras maneiras de escrever esse texto. Entre as alternativas, creio que a melhor seja te convidar a embarcar em uma viagem. Use sua imaginação.

Estamos em guerra. Você não sabe como chegou ali exatamente. Talvez tenha sido obrigado a se alistar ou uma dessas coisas que acontecem sem que se dê conta. Está quente, muito quente. É possível sentir gotas de suor escorrendo pelas suas costas. É possível ouvir ruídos vindos de todas as direções. Falas bafadas, insetos, seu próprio corpo. O cheiro é horrível. Uma mistura de suor e angústia tornam o ar pesado ao seu redor. O gosto ruim e amargo na sua boca dá a sensação de fome interrompida.

Foi lhe dada uma arma, munição e roupas camufladas. Ensinaram você a atirar, a ficar atento, a se defender. Você se preparou para identificar o inimigo. Treinou. Preparou-se para o impacto da arma sobre seu ombro quando você puxa o gatilho.

Depois de algum tempo, horas, dias, semanas, você está cansado. Ninguém te explicou que a arma pesaria o dobro, que não é possível dormir sem ter medo, que o gosto da comida mudaria. Cansaço apenas não define. Exaustão. Mesmo estando no meio de todo o batalhão, solidão.

De repente, você percebe algo ao seu redor. Não é possível saber com certeza. Mas naquele lugar, a melhor hipótese é o inimigo. Tenta avisar seus companheiros, mas ninguém parece perceber. Todos parecem alienados em sua própria solicitude. Seu comandante está silencioso. No meio daquele inferno nem se sabe se ele está ali, se está vivo. De repente, se dá conta de que está cercado. É o fim. É a morte. Não há mais o que fazer.

O que eu descrevi é a sensação de uma crise de pânico. Ou o mais perto que pude chegar.

O pânico é devastador, doloroso e solitário. Nos atendimentos terapêuticos desses pacientes, a sensação mais palpável é a de exaustão. Não é por menos. São pessoas em contante sensação de perigo e, durante as crises, de morte. A maioria consegue perceber que o perigo não é real, que está só “na cabeça”, mas isso não afasta ou evita a sensação de desespero.

Leia Mais: O que caracteriza um ataque de pânico e como prevenir uma nova crise

Existem dois problemas básicos no quadro de pânico: leitura alterada da realidade e a intensidade da resposta do corpo. Em relação ao primeiro aspecto, o sistema de alarme interno, que todos tem, está desregulado. O paciente percebe os aspectos do ambiente como estímulos ameaçadores e perigosos. Essa avaliação independe do grau de consciência. Eles “sabem” que não há nada de errado, mas não é isso que seu corpo diz. A leitura que o organismo faz é de que o mundo é aversivo e é preciso se defender.

O segundo aspecto é a intensidade da resposta. Uma pessoa sem o diagnóstico, quando se depara com algo perigoso, tem seu sistema de luta ou fuga acionado. Portanto ela “decide” enfrentar a situação ou escapar. Pessoas com pânico tem uma resposta exagerada, que não permite que o sujeito escape ou fuja da situação. A carga hormonal liberada, que deveria proporcionar alternativas de defesa, paralisa o paciente ou elicia uma resposta inadequada, como choro, gritos, desespero, falta de ar. Isso acontece muito rápido e de maneira tão intensa que é muitas vezes confundida com outras comorbidades, como infarto.

É importante salientar que o que descrevi foi apenas um vislumbre de uma crise, que pode acontecer de maneiras e frequências inesperadas. Mesmo o melhor autor não seria capaz de transmitir em totalidade a sensação aterradora que essas pessoas vivenciam. Creio, porém, que o exercício de empatia pode ajudar os que não vivenciam essa realidade a compreender o sofrimento e a gravidade dos que enfrentam essa batalha.




2 COMENTÁRIOS

  1. O pânico é pior que tudo isso …unido.É uma sensação de que o cérebro saiu para passear e você está lá ,sem noção do que fazer ,sem respirar ,algo sufocante,sensação de coração acelerado ,sem idéia se onde está e que caminho seguir ,rua ou calçada rir tudo igual ,o medo do medo te dominando ,resumo assim a crise do pânico…medo do medo …

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