“Mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos. Esses é que são a essência viva da alma.” – Johann Goethe

Geralmente pensamos que ansiosas, de fato, são aquelas pessoas que vivem roendo as unhas com os olhos arregalados e uma cara de expectativa não se sabe do quê. Ou aquela que tem palpitações ou mal-estares que a fazem verificar a pressão arterial ou, até mesmo, ir parar no pronto-socorro. Mas não é bem assim.

De repente você, que se achava “minimamente ansioso e em questões muito pontuais e esporádicas”, para e presta atenção. Vê que não consegue fazer apenas uma coisa por vez. Que mil ideias, tarefas, desgostos e necessidades vivem passeando pela sua mente, não lhe dão sossego.

Tenta, enfim, meditar – dizem fazer muito bem! – e percebe que não consegue ficar um minuto sequer tentando “esvaziar a mente”, que já lhe dá uma agonia.

Constata que passa o tempo todo planejando, mentalmente, o que vai fazer (no resto do dia, da semana, do mês, da vida), assim como o que vão fazer os que estão ao seu redor (especialmente o filho, o marido e a empregada), procurando manter o controle integral de tudo.

Verifica que a sua respiração costuma ser curta e um tanto acelerada. Que os seus ombros e pescoço endurecidos entregam a constante tensão. Que não aguenta ficar esperando uma pessoa que se atrasa 5 minutos, logo tem que ligar para ver se está tudo bem (se é que não liga 5 minutos antes!). Que se surpreende tremendo quando está fazendo uma tarefa com várias outras por fazer.

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Que, sob o pretexto de ser “prático”, acaba atropelando as escolhas e atividades que possui, mas, no fundo, age assim só para se livrar logo de algo que, de alguma forma, o angustia. Que acorda pela manhã cansado demais, que volta das férias sem ter descansado e que vive exausto. É, meu caro, provavelmente você seja um ansioso! E crônico!

O diagnóstico, certamente, lhe foi um choque. Imagina, logo você, uma pessoa esclarecida, equilibrada e, de um modo geral, sem grandes problemas que pudessem ensejar tamanha apreensão.

Não há razão ou justificativa, eu sei. É assim mesmo. Mas, ao mesmo tempo, certamente lhe é esclarecedor. Tantas coisas agora fazem sentido, não é?! Parece que um quebra-cabeça começa a ser encaixado.

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E então, o que fazer? Correr a um psiquiatra, uma igreja, um terapeuta holístico, um centro espírita? Certamente todo apoio é bem vindo. Mas é só um apoio. Sinto lhe informar, mas você vai ter que AGIR se quiser melhorar. E é um trabalho constante, em turno integral, e que só o próprio ansioso pode fazer.

Começar se descobrindo e se compreendendo é uma boa pedida. O autoconhecimento é, realmente, libertador. Leia a respeito, tente reconhecer suas posturas, prestar atenção no seu comportamento. Irá, certamente, se dar conta de muitas coisas que jamais imaginou.

Entender-se (ao menos em parte, já que o ser humano é um oceano de emoções) irá ajudar a se controlar.

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Perceberá, por exemplo, quais atitudes o desviam da magnética rota da ansiedade, como respirar fundo, ouvir uma música, admirar a natureza, ler determinado texto… Você achará o que funciona melhor para si. Só precisa se dispor a, efetivamente, livrar-se dela que, em altas doses, é bem mais prejudicial do que pode parecer.

Você precisa dominar a ansiedade, e não ser dominado por ela. Certamente não é um caminho fácil e rápido de se percorrer, do tipo 7 passos, alguns dias e pronto, livrou-se da danada. Quem dera! Necessita se conscientizar de que viver assim não é legal. Não vale a pena. E que se gasta menos energia tentando mudar, melhorar e superar a ansiedade, do que vivê-la, de fato. Pode acreditar!

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É, sem dúvida, um vigiar contínuo. É tomar conhecimento dos gatilhos que a acionam e tentar desviá-los. É procurar desacelerar quando se der conta de que a respiração (e a mente) está a mil. É buscar, continuamente, novas formas de encontrar a paz interior. É não parar de se informar a respeito. É adotar uma nova postura perante a vida. E, evidentemente, procurar ajuda quando sentir necessário.

Contribui, também, se convencer de que você não tem o controle de tudo (e que nem seria bom que tivesse, afinal, é legal de vez em quando receber uma surpresinha do destino!).

Que não vai conseguir fazer tudo o que planeja para um dia (considerando que ele só tem 24 horas!), algumas coisas eventualmente ficarão pendentes, e isso não é o fim do mundo, portanto, escolha as prioritárias. Que, quando as coisas saírem diferente do que planejou, pode ser que elas sejam até melhores.

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Que os outros têm vontades próprias e, de um modo geral, não precisam que você seja sua bússola (eles sobrevivem – e crescem – sozinhos).

Que, independentemente de qualquer fato, o mundo segue girando e tudo, ora ou outra, de alguma forma, se acerta. Que de vez em quando é necessário dar uma parada para processar os acontecimentos (ficar em silêncio, nesse aspecto, ajuda demais). E que faz um bem danado estar com a cabeça mais vazia e o coração mais leve.

É uma liberdade imensurável sentir-se em paz, ainda que, volta e meia, ela – a ansiedade – vá aparecer para te importunar.

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Mas, já a conhecendo profundamente e sabendo o que funciona consigo, será mais fácil expulsá-la da sua vida de novo. E quantas vezes forem necessárias.

Definitivamente, ninguém deve se acostumar – ou se acomodar – com um viver angustiante.




Servidora pública de profissão, escritora de coração. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

2 COMENTÁRIOS

  1. O autoconhecimento é essencial para uma vida plena. Existem pessoas que envelhecem e simplesmente aceitam as coisas que ocorrem com elas, sem questionar. Se isso não parece incomodar a pessoa, ok. Mas algumas pessoas ousam questionar, investigar e assim entender o porque agem de determinada forma. É uma longa caminhada, a busca pelo conhecimento que liberta. Mas o importante é a direção e não a velocidade.

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