Estou aqui, vendo-a ir embora com aquele rapaz que conheceu na faculdade. O cara é alto, magro, sorridente, e parece ser bem legal pra falar a verdade.

Meu Deus, como pude deixar isso acontecer? Não me conformo comigo mesmo. Ainda ontem eu acordava com mensagens de bom dia que ela enviava diariamente, e que por muitas vezes ficaram sem resposta. Lembro de um dia em que disse a ela que não estava dormindo direito devido algumas preocupações, e naquela mesma noite antes de dormir encontrei um “ei, dorme bem ;D”, no meu celular.

Sempre tão bonita! Achava incrível a forma como de jeans e camiseta ela deixava muita minissaia no chinelo. Aquele cabelo sendo levado pelo vento e tomando conta de seu rosto. Os batons sempre enfeitando sua boca, e deixando o sorriso ainda mais claro. Linda! Linda e inteligente. Quando começava a falar sobre qualquer coisa ia longe. Parecia até que carregava o Universo dentro de si, e hoje me pergunto: afinal, ela carregava em si o Universo ou ela era o próprio cosmos?

Vez ou outra ela deixava de lado seu jeito palhaça de ser, e expunha o mulherão que havia lá dentro. As gírias eram substituídas por palavras rebuscadas; a voz ganhava uma entonação firme, os olhos brilhavam e de repente, ali, como se fosse a coisa mais normal do mundo, aquela linda mulher estava discorrendo sobre direitos das mulheres, paz mundial, política, futebol, bolinha de gude… Sobre qualquer coisa, qualquer uma mesmo.

Ela fazia tudo por mim, desde acompanhar até estar junto quando estava doente. Conversava com meus pais, perguntava sobre minha família quando não os via, me ajudava a organizar minha agenda e minha vida. Ficava quieta com a cabeça recostada em meu peito, apreciando o momento. Tornava-se uma fera, me beijava loucamente, arranhava minhas costas, me fazendo apreciá-la.

Mas eu, bem, eu só estava ali quando queria. Gostava de sua companhia, de seus beijos e abraços, mas não queria me prender. Pensava sempre que amanhã ou depois poderia surgir uma garota melhor, mais bonita, talvez até mais inteligente, e com isso, mantinha-me longe de qualquer compromisso.

Inventava defeitos; ora ela era grudenta, ora era expressiva demais. Era caseira, não gostava de sair. Era risonha, dava espaço demais para qualquer pessoa. Era falante, e pior, falava com todos da mesma forma; eu queria ser tratado com exclusividade, ser o único a ser chamado de “amor”. Era amiga de qualquer um, e uma garota assim sempre se torna o centro das atenções, o que iria me fazer sentir ciúmes, e eu não estava disposto a arranjar problemas. Tínhamos vidas completamente diferentes; nem ao menos frequentávamos os mesmos lugares, e é claro que isso não iria dar certo.

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A deixava sozinha, pensando sobre onde eu estaria. Ela não era minha namorada, ao menos não mais. Eu queria sossego, balada, festas, e conhecer o máximo de garotas possível, por isso, decidi ficar solteiro. Todos perguntavam por ela; alguns por curiosidade, outros por saber o quanto ela gostava de mim, e eu só fazia responder: “ah, tá lá”, com aquele desdém de quem está pensando em qualquer coisa, menos nisso.

Até que um dia fui ao bar com meus amigos, e ao entrar me deparei com uma mulher linda, maquiada, num sensacional vestido preto, sorrindo para um loiro que estava do outro lado. Para minha surpresa – ou não, não sei ao certo – a mulher do vestido preto era ela. Estava com as amigas conversando, e quando me viu, nem se deu ao luxo de cumprimentar. Coincidência ou não, a música que tocava dizia “Um dia ela já vai achar o cara que lhe queira como você não quis fazer. Sim, eu sei que ela só vai achar alguém pra vida inteira, como você não quis”.

Foi então que parei para pensar e fazia mais de uma semana que não recebia nenhuma mensagem sua. Conferi seu Facebook na esperança de encontrar algo, talvez uma localização indicando que eu a encontrasse, mas não, não havia nada disso. Não havia versos, textos, localizações, nada. Só uma foto sua com a legenda “Obrigada por me fazer perceber que eu sou o melhor que posso ter”.

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Meu Deus, o que eu havia feito? Conferi nossas mensagens e pela primeira vez enxerguei a situação pelos olhos dela. Ela me enviava bom dia, boa tarde, boa noite, e eu, respondia três dias depois com um oi e uma carinha sorrindo. Ela enviava corações, e eu, pontos finais. Ela enviava enormes mensagens, falando sobre seus dias, perguntando sobre os meus, e eu só respondia com um ok, isso, quando respondia.

Fui embora dali, disposto a recomeçar do zero no outro dia e mostrar a ela o quanto eu podia ser legal, inteligente, simpático e tudo mais que ela quisesse. Levantei cedo, enviei bom dia e fiquei no aguardo. Eram 15:15 quando a ansiedade me invadiu, e tive de enviar um “tudo bem por aí?”, mas assim como na mensagem anterior, a resposta não veio.

Tentei pensar que ela poderia estar ocupada ou algo assim, mas depois de uma semana enviando mensagens, percebi que na verdade estava ocupadíssima! Comecei a publicar coisas em minha página na esperança de que ela visse e compreendesse que aqueles versos de Nando Reis eram feitos para ela. Ia todos os dias naquele bar tentando encontra-la, mas não, não encontrei. Enviei mais mensagens, mas ela não respondeu.

Era quarta-feira, e eu havia acabado de sair do trabalho. Passei em frente uma floricultura e em 20 segundos de coragem insana, comprei um buquê de rosas para levar em sua casa e pedir perdão por ter sido aquele idiota enquanto ela fazia tudo para chamar minha atenção. Queria explicar que estava imaturo, com medo de me prender, medo de amar, e que por isso não pude ver a mulher incrível que todos os dias batia em minha porta. Queria lhe beijar com força, abraçar o máximo de tempo que conseguisse, e dar todo aquele excesso de saudade que me invadia. Saí da floricultura feliz, sorrindo para tudo e todos com o enorme buquê de rosas na mão. Uma vez a ouvira dizer às amigas que nunca havia recebido flores, então, com certeza se emocionaria com o gesto.

Mas assim que cheguei na porta de meu carro percebi que o destino havia me reservado uma surpresa: ela estava ali, em pé, usando jeans e camiseta, com o cabelo despenteado, um batom arroxeado e aquele riso fácil que ilumina o dia de qualquer um. Olhava para frente, e logo pude ver que “a frente” na verdade era um rapaz alto e magro. Assim como eu ele lhe trazia flores, e antes mesmo de lhe entregar, ela já estava perdida em lágrimas. Ele delicadamente limpou de seu rosto aquele misto de emoção e felicidade e beijou sua testa, mostrando o quanto desejava cuidar daquela menina tão pequena e ao mesmo tempo tão grande.

Então rapaz, não faça o mesmo. Não perca sua garota por medo de estar bem ao lado de uma pessoa sensacional. Não se permita acordar sozinho quando há alguém querendo dar-lhe o peito por travesseiro. Não fique pensando que há de chegar uma mulher melhor que ela, porque, bem, não chegará. O que há de acontecer é que um dia, quando você menos esperar, vai perceber que ela achou o cara que lhe quer, como você não quis.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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