O ciúme é um sentimento poderoso. É um desejo de posse com relação a uma outra pessoa, e que tem a capacidade de inventar histórias, de inspirar planos sinistros, gerar desejo de vingança, músicas, poesias, brigas… e devastar amizades e relacionamentos afetivos.

Mas é algo inevitável. As pessoas o sentem em graus maiores ou menores, mas quem o flagra em si não tem como deixar de sentir. Então fica a questão: e agora?

A saída habitualmente escolhida é a mais hostil – e a que mais desgasta os relacionamentos. A saída da agressividade.

Geralmente, quando uma pessoa sente ciúme, ela mal percebe que uma angústia forte e violenta nasceu dentro dela.

Essa inconsciência faz a pessoa responsabilizar e atacar o outro por isso. “Mas VOCÊ é um idiota mesmo por dar trela pra ela”, “VOCÊ não está nem aí pra mim!”, são alguns de milhares e milhares de frases que podem ser ditas com esse impulso.

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É mais fácil atacar o outro e dizer que ele é causador daquilo que estou sentindo. Entretanto, essa saída não gera diálogo e troca entre os membros. Ela apenas gera ressentimento e dor. Quando ataco o outro, este não mais vai querer me ouvir, mas vai revidar ou se defender, afinal está sendo atacado. Nascem então as brigas e muitos rompimentos entre pessoas.

Outra saída adotada por alguns é a do “está tudo bem”. A pessoa sente a mesma angústia violenta no peito, mas prefere se calar. Por algum motivo ela tem claro para si que ciúme é errado, e que faz mal para os relacionamentos.

Sim, até certo ponto é verdade, mas o que se fazer com o ciúme?

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Escolher o silêncio, nesse caso, é o famoso “empurrar para debaixo do tapete”. O que acontece com a sujeira acumulada embaixo do tapete? Imagino que o leitor saiba. Evidente que mais tarde ela vai se revelar, acumulada. Aquele ciúme omitido, após alguns episódios vai, INEVITAVELMENTE surgir, devastador. Ao invés de uma briguinha, vai gerar uma grande briga, uma grande reação, a ponto de surpreender os dois (ou mais) envolvidos, inclusive o ciumento. E vai aparecer provavelmente como uma grande acusação agressiva.

Uma terceira saída, mais franca, é a do diálogo. Quando o ciúme aparece, porque não dialogar? Mas dessa vez, diferentemente da primeira saída, a pessoa percebe de alguma forma que isso é algo que nasce nela. Ao invés de tocar no assunto atacando sua companhia, prefere se referir A SI MESMO.

Comparando com as frases exemplificadas anteriormente, ficaria assim agora: “Eu me sinto incomodada quando você dá tanta atenção para ela” e “Sinto falta de sua atenção”. Dessa forma o ciúme, sentimento de posse, geralmente agressivo, pode ser transformado em diálogo.

A companhia, quando realmente gosta de você, certamente vai te dar atenção quanto a isso. Vai esclarecer pontos que vão me ajudar a compreender a situação e amenizar o ciúme, e mesmo que não haja amenização, provavelmente ela vai buscar compensar alguma coisa ou repensar alguma atitude para atender esse anseio.

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Quem está com você, seja em um relacionamento afetivo ou amizade, se realmente te dá importância, quer te ver bem, e provavelmente vai buscar uma forma de conciliar interesses.

O ciúme é inevitável. Sua natureza possessiva e agressiva também. No afeto existe muitas vezes oculto o desejo de posse com relação ao outro. Faz parte do ser humano, não há nada de errado em senti-lo. Agora, podemos sempre escolher uma forma melhor de lidar com ele, e até mesmo fazer dele um aliado, ao invés de inimigo dos nossos relacionamentos.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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