Porque em tempos de discussão sobre machismo e igualdade de gêneros, é bom que as mulheres se coloquem no lugar delas, de uma vez por todas! (Homens: por favor, nos ajudem!).

Sim, eu sou mulherzinha. Adoro passar parte do meu tempo cozinhando e pesquisando receitas. E outra parte pedindo pizza e comendo no sofá, de pijama (ou sem), sujando até as almofadas.

Eu sou mulherzinha. Adoro frufrus, estampa de bichinhos, lápis de cor e adesivos que brilham. E quando me deparo com uma lindeza assim, não resisto a expressar meu encantamento com um delicado “PORRA, ISSO É FOFO PRA CARALHO!”

Eu sou mulherzinha. Às vezes me pego pensando no absurdo de calorias que tem uma coisa tão besta como queijo branco. E outras – muitas outras – entro de cabeça na coxinha e no amendoim sem sequer me lembrar que calorias existem.

Eu sou mulherzinha. Minha mãe me ensinou a limpar a casa (o que, modéstia à parte, sei fazer maravilhosamente bem) e a passar roupa (o que sei fazer, mas não tão maravilhosamente bem assim). Apesar disso, normalmente opto por deixar os móveis empoeirados por mais tempo e invisto meu dia livre em filmes, livros e longas sonecas no sofá. E se mesmo depois disso a vontade teimar em não chegar, a maravilhosa da minha diarista chega.

Eu sou mulherzinha. Quero (re)conhecer o meu príncipe encantado. E do príncipe encantado eu espero apenas disposição, não preciso nem do cavalo branco. Preciso só do bom humor, da vontade genuína e dos braços abertos pra me acalentar depois de um dia difícil, depois de um dia feliz, depois de um dia qualquer. E eu, a princesinha imperfeita, quero estar lá com braços e coração abertos também, ambos lotados de reciprocidade. Se seremos felizes para sempre não sei – e não me importa. Mas enquanto estivermos ali, dispostos e inteiros, vai ser de verdade. E vai ser lindo do nosso jeito, no nosso tempo.

Eu sou mulherzinha. Adoro sair em boa companhia. Mas tem dias que gosto mesmo é de sair sozinha. Gosto de entrar no bar, seguir em linha reta até o balcão e pedir um chopp gelado pra esfriar minha cabeça quente, pra fazer compressa no meu coração partido. Ou apenas pra brindar a delícia de estarmos ali: eu e eu mesma.

Eu sou mulherzinha. Gosto de colo de mãe, gosto de lavar as panelas enquanto estou na cozinha com ela preparando o almoço de domingo. Mas nos outros dias eu moro sozinha (e longe dela). Chego do mercado tropeçando pelas escadas com um monte de sacolas pesadas. Faço cálculos mentais pra lavar e estender roupas em horários estratégicos. Faço planos mirabolantes pra me livrar das formigas que invadiram meu apartamento – o último deles inclui um tamanduá que vai se chamar Bartolomeu. Aprendi a trocar chuveiro. Aprendi a regular o pé da geladeira depois de passar uma puta vergonha com o técnico da Electrolux em casa. Montei nichos de madeira pra guardar meus livros e ganhei duas bolhas na mão direita (não vou entrar no mérito de ter encontrado 8 parafusos sobrando depois de terminar tudo. E sim, os parafusos vieram na quantidade exata). Acho que só isso já me renderia um belo currículo vitae.

Eu sou mulherzinha. E nunca gostei de brincar de boneca. Minha mãe me dava bola de presente (mãe, te amo!). Os meninos da rua construíram um carrinho de rolimã pra mim – e eu arrebentei vários tênis tentando freá-lo na descida. Eu subia em árvores. Eu me estatelei numa cerca de arame farpado com uma Caloi Cecizinha sem freio. As pessoas diziam que eu era o moleque que a minha mãe não teve. Mas vou reforçar: eu sou mulherzinha.

Eu sou mulherzinha. Não sei pregar nem um botão. Não sei bordar. Não sei sequer fazer uma mísera trança no cabelo. Mas já fui campeã num torneio de truco; e sim, eu era a única mulher(zinha) participando.

Eu sou mulherzinha. Tive poucos namorados. Casei. Fui feliz, muito feliz. Depois descasei. Não tive filhos. ‘Me’ enrolei. ‘Me’ desenrolei. Desejei muito. Investi. ‘Me’ lasquei. Desisti. ‘Me’ diverti. Chorei litros. Ri toneladas. E assim vamos. Vivenciar esses tantos “verbos emocionais” sem medo faz parte do meu show, porque me agrega experiências riquíssimas. E se as pessoas comentarem? Foda-se. E se não sair como o planejado? Foda-se. E se você quebrar a cara em milhões de pedacinhos? Foda-se. Otimismo é o que me move. E é com consciência e com relativa maturidade (além, claro, do imprescindível botão do FODA-SE) que eu sigo adiante.

Eu sou mulherzinha e gosto de dividir a conta depois de um jantar.

Eu sou mulherzinha. Adoro um bom perfume. E odeio salão de beleza. Só vou pro cabeleireiro quando minha agenda (quando não o próprio cabeleireiro!) me lembra que já faz três meses que não faço uma hidratação e que não “atualizo” o corte. E ainda assim levo umas duas semanas pra vencer a preguiça – mais emocional que física – e aparecer por lá.

Eu sou mulherzinha. E não acho que todas as cantadas são desrespeitosas. Pelo contrário, me divirto horrores com algumas. Não acho que todos os olhares são de lobo-mau. Não acho que todos os elogios estão cheios de segundas, terceiras e quartas intenções.

Eu sou mulherzinha. Choro com filmes de amor, choro com animações, choro em casamento. E não gosto de receber flores. Não gosto de cuidar de flores. Morro de preguiça de tirá-las do buquê e ajeitá-las num vaso (by the way, acho que nem tenho um vaso decente em casa. Tenho uma garrafinha fofa de cerveja belga que foi promovida a vaso – e lá só cabem duas florzinhas de plástico). Depois morro de preguiça de regá-las. Prefiro ganhar abraço ou carinho nos cabelos. Ou comida japonesa.

Eu sou mulherzinha e me sinto completamente à vontade pra dizer que você tá um gato hoje – sem te desrespeitar, claro.

Eu sou mulherzinha e não tenho problemas em te chamar pra tomar um chopp comigo naquele balcão de bar que por diversas vezes frequento sozinha. E isso não quer dizer que estou desesperada atrás de homem, nem que “tô sobrando na sua reta”. Isso quer dizer apenas que seria legal tomar um chopp com você no balcão do bar (espero não ter te confundido com essa explicação tão complexa…).

Você só precisa aceitar essa revelação bombástica: eu sou mulherzinha. Você só precisa perceber que o meu lugar é simples: é onde eu quiser estar. Mas sugiro que você pondere tudo com muito cuidado… Porque, ao entender essas coisas, você corre o sério risco de fazer parte desse lugar incrível e grandioso no qual tantas mulherzinhas gostariam de estar.




Graduada em Letras, com MBA na área de Engenharia da Qualidade, não trabalha nem numa área, nem na outra - o que mostra que nem tudo é linear nessa vida. Não é terapeuta, nem psicóloga; está começando a tatear seus caminhos profissionais na astrologia (porque é por ali, no meio das estrelas, que o coração dela estacionou há tempos...). Tirando a parte dos rótulos, ela é apenas uma dessas pessoas que tentam viver com ética, bom humor, leveza e autenticidade - e que nem sempre conseguem, mas continuam tentando. Escrever foi a forma que ela encontrou, desde muito criança, para organizar a bagunça da mente e do coração. Por sorte, tem funcionado desde então. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui