Pulsada por uma energia que está sempre em direção ao prazer, a mudança é inevitável e necessária, e existe em função da adaptação das pessoas e das coisas ao mundo, e vice-versa.

Nesse embalo, as relações interpessoais nos casamentos também mudaram e, na tentativa de adaptar-se à demanda contemporânea, traduziram-se em um novo modelo de comportamento, que envolve os homens, as mulheres e, até mesmos, seus filhos.

Observa-se que as relações de poder foram historicamente construídas numa perspectiva de gênero, em que o modelo histórico-cultural, com papéis claramente estabelecidos, foi legitimado, por repetição, de geração em geração: Para o homem – maior liberdade quanto às escolhas, explícita busca pelo prazer sexual, responsabilidade de provedor financeiro e detenção absoluta das leis e das regras éticas e morais dentro da família.

E para a mulher – repressão de sua liberdade de escolha, substituição do prazer sexual pelo afetivo e terno, responsabilidade pela gerência do lar, pelos afazeres domésticos e pela educação dos filhos, defensa de um ambiente harmonioso e afetivo, cumprimento dos deveres de esposa e das leis impostas pelos homens.

Mesmo com esses papéis bem determinados, os conflitos pessoais e interpessoais no casamento sempre existiram, entretanto, se diferenciavam de acordo com a subjetividade de cada época.

Antes, esses conflitos eram reprimidos e tratados internamente, tempos em que se dizia: “roupa suja se lava em casa”. Era como se existisse uma ‘cartilha’ que estabelecesse regras de comportamentos familiares, sociais e culturais saudáveis e, segui-la, era garantia a do acerto. Mas, hoje, resolver os conflitos atuais à luz desta ‘cartilha’ é certeza de insucesso.

Essas regras já não tem tanta eficácia, devido ao fato de que cada geração trouxe mudanças, tanto no comportamento social, quanto aos seus desejos e anseios relacionados à vida profissional e aos relacionamentos. Mas, a grande mudança que se deu em relação à convivência no casamento, teve sua principal causa na oferta educacional para a mulher e no advento da informação, que atingiu ambos os sexos.

Hoje, a informação é abundante, rápida e de fácil acesso, diferentemente do que ocorria no passado, e essa acessibilidade à informação é a principal responsável pela globalização dos comportamentos, pois não há acontecimento histórico ou cultural, anterior, que possa se comparar à velocidade das mudanças de hoje. Nem a influência das grandes guerras mundiais, nem a psicanálise e nem a revolução sexual, nada mobilizou mais o mundo, transformando as ideias e as relações, do que o fenômeno da informação.

Considerando-se os padrões anteriores, é possível notar uma ‘feminilização’ do homem e uma ‘masculinização’ da mulher, traduzida por uma mistura de papéis, ou melhor, uma complementaridade nas diferenças.

Com a revolução sexual, a mulher saiu do seu lugar de administradora do lar, permitiu que o homem o fizesse e foi em busca da realização de seus desejos – anteriormente reprimidos – e das necessidades que surgiram junto às mudanças sociais. Ela encontrou, na educação, um caminho profissional, reconheceu sua igualdade de direitos e deveres e se ofereceu como força de trabalho remunerado. E hoje, é ela que escolhe quando e quantos filhos deseja ter, além de dividir as despesas e afazeres do lar, impondo ao homem mudanças cotidianas no casamento.

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A geração jovem tem assimilado melhor essas mudanças e luta para aprender a se posicionar diante delas. É comum, hoje, rapazes saberem cozinhar, lavar, passar, arrumar, e, o mais importante, eles estão conscientes que deverão participar efetivamente da educação dos filhos e estão dispostos a lidar com bebês, trocar fraldas, dar banho, alimenta-los e a executar outras tarefas, que, antes, eram exclusivas da mulher.

Tornou-se corriqueiro, também, as moças dividirem as despesas em restaurantes e motéis, e, no casamento, as companheiras arcarem com boa parte do orçamento doméstico.

Com prestígio profissional, as mulheres são competitivas no mercado de trabalho e, agora, ganham o respeito e a admiração do marido, dos filhos e da própria sociedade.

Todas essas mudanças atendem às necessidades atuais e trazem grande prazer aos que conseguem sair da inércia e se adaptar. Particularmente, eu gosto muito e apoio a complementaridade entre homens e mulheres no casamento.

Tenho certeza de que estamos atravessando uma época de mudanças em prol de mais valia tanto para os homens, quanto para mulheres, e que ambos devem investir muito amor para processar essas transformações.

Por fim, para alguns homens, ainda resistentes à mudança, eu ofereço, por intermédio da poesia de Noel Rosa, uma mensagem “otimista”:
“Gosto que me enrosco de ouvir dizer,
que a parte mais fraca é a mulher.
Mas o homem com toda fortaleza,
desce da nobreza e faz o que ela quer”!




Colunista da Revista Atrevida cerca de 6 anos, tem formação e trabalho em Psicanálise e Terapia Ericsoniana. Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior, Psicologia e Psiquiatria da Infância e Adolescência, Neuropsicologia e Teologia. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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