Muitas pessoas por aí falam de amor.

Buscam o amor, recomendam o amor.

Ele rejuvenesce, alegra, nos torna mais capazes de vencer os desafios da vida, sem falar que seria a própria realização humana na existência.

Por conta disso, somos estimulados – e também naturalmente – buscamos ter uma pessoa ao nosso lado enquanto companheira, ou buscamos estar em diversas ocasiões rodeados de amigos, com os quais queremos contar em nossas vidas.

Mas…o que é esse amor que nos une a essas pessoas?

Quando me apaixono pela fulana, o que me faz querer estar com ela?

Bom, possivelmente ela tenha traços físicos que minimamente me são interessantes (ou não me incomodam). Logo, ela se adequa a um critério estético ou tátil que me agrada, se adequa a desejos meus.

Ela também pode me ser atraente pelo seu jeito de ser. Um jeitinho mais tímido ou mais bem humorado me fazem ter interesse nela. Afinal, me sinto bem quando estou diante de uma pessoa que não chama muita atenção, ou que me faz rir.

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Também posso me sentir atraído pelo que ela é capaz de fazer. Ela canta, dança, escreve, cozinha. Nossa, perfeita para mim! Se eu percebo que ela é capaz de tudo isso, me apaixono na hora! Afinal, quem não quer uma cantora para admirar de pertinho, ou uma habilidosa dama no forró. Quem não quer alguém que cozinhe com você nas horas vagas, ou que faça um delicioso prato para degustarmos juntos?

Interessante. Parece que o que me une a essa pessoa é um conjunto de características que me são agradáveis.

São traços que refletem valores que tenho para mim como bons. Alguns deles eu mesmo tenho, outros eu desejaria ter em mim ou para mim.

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E se algo mudar? Se a pessoa que era tímida se tornar extrovertida ou até mesmo eufórica durante o relacionamento?

Se a pessoa que antes era magra, engordar muitos quilos? Se a pessoa que canta e dança entrar em depressão e se tornar “sem sal” para mim? Será que a paixão permaneceria? Será que o simples desejo de estar perto permaneceria?

Muito do que é chamado de amor por aí reflete uma mera idealização.

Estar com quem me agrada é muito fácil. É, inclusive, muitíssimo natural que se queira estar perto de quem porte traços que lhe sejam agradáveis.

Mas não se pode negar que é uma busca por si mesmo, através do outro. Não existe aí uma relação verdadeira e desinteressada (logo genuína) com quem eu busco ter comigo.

Talvez esse tal amor, sentimento de união se revele justamente nos momentos em que há uma ruptura com os ideais.

Quando uma pessoa perfeita para mim me decepciona, aí está o momento de provar o amor que se sente.

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Não necessariamente mantendo o relacionamento (porque ele precisa ser pelo menos sustentável), mas é quando tenho a oportunidade de compreender e aceitar, integralmente, o que o outro é, para além do que queria que ele fosse.

Uma vez, li uma frase assim: “Amor é para quem está disposto”.

Querer se doar e estar perto de quem se encaixa em padrões meus é fácil. Pois se de um lado vou doar, do outro vou receber, até mesmo a ponto de ostentar para que outros vejam. Esse é o amor que barganha.

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Entretanto, se não recebo exatamente o que idealizo e me entrego mesmo assim, não há mais barganha, uma relação de troca.

Seja em relacionamentos afetivos ou em amizades, talvez aí, nessa atitude desinteressada, que esteja o tal do amor…




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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