Você sabe como é. Um sujeito diz o que pensa, o outro discorda, os dois discutem, se elevam, se exaltam, se zangam.

Na melhor hipótese se dão as costas e tomam cada um o seu rumo esbravejando baixinho: “fulano é um arrogante, sicrano é um metido”.

Acontece o tempo todo.

Pena. Um e outro perderam a chance de tornar este mundo melhor. Era só aceitar que cada um tem o direito de pensar o que quer, do jeito que bem entender, e que discordar não é um problema.

É só mais uma prova de que as pessoas ainda são livres para ser quem são. E quem não gostou que vá procurar a “sua turma”: aqueles com quem queremos estar.

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Cá entre nós, eu acho que as coisas bem podiam ser assim. Mais simples. Cada um seria o que é e pronto.

Acontece que bater o pé e insistir em ser você mesmo quase sempre vai ser visto por aí como “falta de humildade”.

Faz o teste. Discorde de alguém convencido de que a verdade é uma só: ele vai dizer que você não é pessoa humilde. Que não sabe “ouvir”.

É que na cabeça dele, lá dentro, “saber ouvir” e “concordar” são exatamente a mesma coisa. Se você não aprovar sem ressalvas o que ele diz, é porque você “não sabe ouvir”.

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Nestes tempos de valores invertidos, humilde é só quem aceita se dobrar ao argumento alheio, quem engole a vontade dos outros, concorda com tudo que lhe dizem, faz o que lhe mandam e cala a boca. O resto é afetado, pretensioso, convencido, prepotente, esnobe, pedante e essas coisas. Gente que padece de “falta de humildade”.

Olha, eu engulo sapos de toda sorte. De todos os tipos e todas as cores. Pequenos, médios e grandes. Sapos de texturas e temperaturas diversas escorregam pela minha traqueia e mergulham no meu estômago faz tempo. Faz parte. Mas esse eu não engulo, não.

Prefiro viver sozinho a aceitar o que não me agrada. E isso não me torna menos humilde. Só faz de mim um sujeito mais livre.

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Humildade não é servilismo. É qualidade de gente simples. E ser simples não é ser simplório. Simplicidade, entre outras definições, é ausência de complicação. Falta de frescura, sem-cerimônia, franqueza. Coisa de quem tem mais o que fazer, que discorda ou concorda quando quer e não tem medo de cara feia.

Sejamos quem somos! Humildes, sim. Jamais capachos!




Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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