Nestes tempos modernos as doenças emocionais são diagnosticadas numa velocidade que algumas vezes beira o desleixo com o ser humano. Hoje é comum ouvirmos as pessoas anunciarem com orgulho que possuem algum transtorno de comportamento, a que a Psicanálise chama de Neuroses (Transtorno Obsessivo Compulsivo, Síndrome do Pânico, por exemplo) ou de Psicoses (Esquizofrenia, Transtorno Bipolar, Paranoia). Parece que receber o diagnóstico alivia e explica as atitudes e sofrimentos vivenciados pelo indivíduo e seus familiares, talvez alivie a culpa por ter falhado em alguma coisa, mesmo que este diagnóstico seja o de uma doença mental grave, como o são as Psicoses.

Recentemente conversando com uma conhecida, ela me contou sobre sua irmã de 15 anos, que foi diagnosticada pelo psiquiatra como portadora do Transtorno Bipolar. Olhei admirada e perguntei o que a irmã fazia que justificasse o diagnóstico.

Minha conhecida disse, desolada, que a irmã não tem mais jeito! Que faz coisas malucas em casa, como ameaçar se jogar do prédio onde mora sempre que a mãe diz não a algum capricho, ameaçar quebrar a casa toda quando é contrariada pela mãe, fumar de forma afrontosa diante da mãe, que não quer que ela fume, sair vestida de forma bem vulgar e ter aventuras sexuais com muitos meninos. O engraçado disso tudo é que a garota só surta quando é contrariada. Quando a mãe vai leva-la em alguma “baladinha”, ela vai o caminho todo ofendendo a mãe e ameaçando se jogar do carro se a mãe diz não para alguma de suas vontades. Se a mãe ameaça contar aos amigos o tipo de comportamento que ela tem, na hora ela muda de atitude. Neste dia em que conversamos minha conhecida me falou que estava preocupada com a irmã, que simplesmente tinha feito as malas e ido, sozinha e sem a autorização da mãe, passar uma semana numa outra cidade, na casa de algum parente. Também estava preocupada com a mãe, que estava ficando deprimida com toda essa situação conflitante. A garota abandonou a escola, porque não queria acordar cedo para estudar, então faltava, faltava e faltava. Faltou tanto que acabou perdendo a vaga. O médico que diagnosticou o Transtorno Bipolar passou a medicação, mas a moçoila se recusa a tomar.

Enfim a situação nos lembra um trem bala sem freios!

Bem… não conheço a irmã da minha conhecida. Nunca a vi, mas posso inferir (fazendo o que chamamos de Psicanálise Selvagem, aquela que a maioria dos leigos faz, dando palpites nas situações) que a garota sofre de… falta de educação, mais precisamente de falta de limites!

O Transtorno Bipolar, antes chamado de Psicose Maníaco Depressiva, é uma patologia grave caracterizada pela alternância de estados depressivos e maníacos, sendo estes entendidos como estado de imensa euforia, onde o indivíduo se acha um deus, se acha invencível, acredita que tudo pode fazer. Fica inconveniente, faz coisas impensáveis, pois perde a inibição social. Na fase depressiva o humor fica depressivo, a auto estima fica baixa, o sujeito só quer ficar na cama, dorme o dia todo, mas não é um sono reparador. Do nada o estado pode se alterar para o estado oposto extremo.

As causas do Transtorno Bipolar ainda são desconhecidas. As pesquisas mostram-se inconclusivas. Acredita-se que a combinação de múltiplos fatores deflagre a doença, entre eles a genética facilitadora e a influência de fatores ambientais e psicossociais.

Levando em consideração que a adolescência é uma fase da vida marcada por grande “stress”, onde o jovem está mais inseguro, indefinido, sendo invadido por uma enxurrada de hormônios, que o levam a uma maior exposição a comportamentos de risco, regados a irresponsabilidades, tais como uma sexualidade desregrada e o uso de drogas ilícitas, este pode ser o cenário perfeito para o surgimento da doença.

Todos nós passamos por variações de humor ao longo da vida. Um dia estamos mais tristes em outros mais eufóricos. Porém isso não quer dizer que sejamos portadores desta patologia.

No caso da irmã da minha conhecida, vejo sintomas de uma rebeldia adolescente, aliada a questões edipianas mal resolvidas, a uma baixa auto estima, a um sentimento masoquista consigo mesmo e sádico com a mãe que precisa ser punida em função do conflito edipiano. Também há a possibilidade de um possível agravante de assédio sexual sofrido pela menina na infância. O que esta adolescente mostra é a existência de muitos conflitos recalcados que devem ser resolvidos para que não evolua para uma patologia psicológica realmente mais grave, como a que foi diagnosticada pelo médico.

Sugiro uma boa terapia para as duas, mãe e filha! Uma para se reconhecer no papel de mãe, deixando de se deixar manipular pela jovem de 15 anos e a garota para que possa se entender, resolver seus traumas e conflitos… ambas merecem parar de sofrer.

(Autor: Claudia Pedrozo

trabalha na Educação Pública de São Paulo há 26 anos.

Já foi professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola e atualmente está na Supervisão de Ensino.

É Pedagoga de formação, pós graduada em Gestão Escolar pela Unicamp, em Psicopedagogia pelo CEUNSP e é Psicanalista)

 




Professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola e atualmente está na Supervisão de Ensino do Estado de SP. Pedagoga de formação, pós graduada em Gestão Escolar pela Unicamp, em Psicopedagogia pelo CEUNSP e formada Psicanálise Clinica. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

3 COMENTÁRIOS

  1. Me identifiquei com o problema descrito, pois tenho um irmão diagnosticado como sendo bipolar, confesso que quando surta nossa família perde o chão sem saber o que fazer para amenizar as consequências que a doença traz a toda a família. Meu irmão tem 39 anos e a doença foi diagnosticada a mais ou menos 18 anos. Hoje ele encontra-se em surto há alguns dias e se nega a tomar os remédios, minha tem 64 anos e mora sozinha com ele, ela sofre demais com o problema, pois dessa última crise ela se debilitou demais, ajudo a medida do possível, mas sem muito sucesso, pois meu irmão não aceita certas coisas que falo, por ter uma inteligência fora do normal. O que devemos fazer para termos um pouco de paz e tentar fazer com que ele sofra menos e aceite a vida como ela é, com seus altos e baixos.
    Desde já agradeço a atenção.
    Ricardo Magno R. Dorneles

  2. Sofro com a mesma doença e desde 2010 venho tratando com 6 comprimidos diários fora as injeções. Tive a oportunidade de organizar a minha vida com acompanhamento psiquiátrico, igreja e família hoje através de uma campanha feita por minha mãe chamada campanha sobre natural vivo uma vida normal.

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