Sim, somos humanos. Temos desejos, vontades, carências, excitações. Podemos, eventualmente, nos sentir atraídos por uma pessoa de fora do nosso relacionamento. O mundo está aí, cheio de possibilidades e tentações. É possível dar uma “escapadinha” e continuar amando profundamente o seu namorado/marido. O problema é o que vai sobrar da relação depois desse acontecimento.

Trair implica desrespeitar. Ser desleal. Magoar. Quebrar um elo. Assumir o risco do fim.

Por mais que na hora da empolgação todas as possíveis drásticas consequências da traição percam um pouco a amplitude, é preciso ter consciência de tudo o que está se colocando a perder. Talvez anos de cumplicidade, de companheirismo, de compartilhamento de experiências e crescimento. Possivelmente muitos sonhos vividos, vários realizados, outros em vias de concretização. Um projeto de vida, um lar, uma família, filhos felizes, uma segurança reconfortante.

Para quem dá a “escapadinha”, a coisa pode parecer superficial, sem importância, afinal, no seu íntimo, nada mudou, o amor pelo companheiro continua intacto. Para o outro, porém, a traição do amado pode gerar uma dor incomensurável, a quebra do elo mais importante da sua vida, a perda do significado de tudo o que já foi vivido, uma sensação de ter sido iludido o tempo inteiro, do relacionamento nunca ter sido verdadeiro.

É claro que talvez nenhum dos extremos seja coerente, mas é indiscutível que “um cristal rachado nunca volta a ser o mesmo”. Na melhor das hipóteses, após a descoberta de uma traição, a relação irá continuar, mas o fantasma do desrespeito, da dor e da incerteza possivelmente dará as caras, volta e meia. E a angústia pela possível “reincidência” é provável que também apareça.

Para que todo esse drama não se torne real, é interessante que o casal, não importa há quanto tempo esteja junto, mantenha sempre um clima de FLERTE, de necessidade da CONQUISTA.

Aquela sensação gostosa de querer seduzir. Aquele gostinho de estar sendo desejado. Aquela urgência, vez ou outra, do encontro dos corpos. Aquela incerteza quanto à estabilidade, quanto ao futuro. Aquela vontade de descobrir o outro, de desvendar o mistério que é a sua existência. Um eventual sentimento de novidade, em algum aspecto.

Claro, tudo isso dá trabalho. Exige dedicação, planejamento, atitudes efetivas. Nada de comodismo. Nada de “felizes para sempre e fim”.

É aprender a lidar de modo positivo com as incertezas da vida e, consequentemente, dos relacionamentos. É não deixar esfriar muito em nenhum aspecto. É aceitar ter que estar em constante movimento. E saber com isso numa boa, sem neuras, de forma que venha a beneficiar o casal, não a afligir.

E podemos ter certeza que isso dá bem menos trabalho do que tentar remendar o cristal – ou o coração – partido.




Servidora pública de profissão, escritora de coração. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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