Todo mundo sabe o que a palavra “dependente” significa. O dicionário Webster define a palavra como “determinado ou condicionado por outro, contando com outro para suporte.” Mas poucas pessoas já ouviram o termo “contradependência”. Não é um termo de uso comum. Na verdade, é usado principalmente por profissionais de saúde mental.

A contradependência é o extremo oposto da dependência. Refere-se ao medo de depender de outras pessoas. Se você é contradependente, você fará grandes esforços para evitar pedir ajuda. Pode ter um grande medo de ter ou parecer ter necessidades. De fato, a palavra “necessidades” pode fazê-lo ranger os dentes.

A contradependência é uma das principais consequências do crescimento com Negligência Emocional Infantil (NEI). Veja um exemplo de como uma criança emocionalmente negligenciada cresceu para ser contradependente.

James

Quando James veio me procurar para terapia, ele era um empresário bem sucedido de 40 e poucos anos com uma esposa e três filhos. Ele se saíra muito bem financeiramente, e seus filhos eram todos jovens adultos que logo sairiam de casa. James veio em busca de ajuda para uma depressão de longa data. Ele inicialmente descreveu sua infância como feliz e livre. Mas conforme ele contava sua história, ficou evidente que ele havia sido muito afetado pela ausência de um ingrediente vital.

James era o mais novo de sete filhos. Ele foi uma surpresa, nascido nove anos depois de seu irmão mais novo. Quando James nasceu, sua mãe tinha 47 anos e seu pai 52. Os pais de James eram pessoas boas e trabalhadoras que tinham boas intenções, e ele sempre soube que o amavam. Mas, na época em que James nasceu, eles estavam cansados de criar filhos, então James, essencialmente, se criou sozinho.

Quando criança, os pais de James não pediam para ver seus boletins (todos com notas altas), e ele não lhes mostrava. Se ele tivesse algum problema na escola, ele não contava para seus pais, ele sabia que deveria lidar com isso sozinho.

James tinha total liberdade para fazer qualquer coisa que desejasse depois da escola porque seus pais raramente perguntavam onde ele estava. Eles sabiam que ele era um bom garoto, então eles não se preocupavam. Mesmo que James apreciasse essa liberdade de regras e estrutura, ele cresceu sentindo profundamente dentro de si que estava sozinho.

A mensagem que James internalizou de toda essa liberdade foi “não pergunte, não conte”. Ele entendeu desde muito cedo que suas realizações não deviam ser compartilhadas, nem seus fracassos, dificuldades ou necessidades. Mesmo que ele não pudesse se lembrar de seus pais, na verdade, dizendo-lhe tal coisa, ele absorveu em cada fibra de seu ser que a vida era assim para ele. Tornou-se uma parte de sua identidade.

Quando conheci James, ele parecia um tanto sem emoção e autocontido. Sua esposa, depois de 15 anos de casamento, estava no limite. Ela sentia que James era incapaz de se conectar com ela emocionalmente. Ele dizia a ela que a amava com frequência, mas raramente mostrava qualquer emoção, positiva ou negativa. Ela dizia que ele era um provedor maravilhoso, mas descrevia seu relacionamento como vazio e sem sentido. James se descrevia como vazio por dentro. Ele revelou que a única pessoa no mundo pela qual ele se sentia alguma emoção era sua filha adolescente, e que às vezes ele se ressentia por ela ser importante para ele.

A fantasia frequente de James era fugir para morar sozinho em uma ilha tropical deserta. Toda a sua vida ele experimentou desejos periódicos de estar morto. Ele ficava desconcertado sobre os motivos de se sentir assim, já que ele sabia que tinha uma vida ótima.

Você consegue adivinhar o ingrediente que estava faltando na infância de James? Era conexão emocional. Emoções eram tratadas como inexistentes em sua família. Houve pouca interação de qualquer tipo entre James e seus pais. Nem positivas, nem negativas tampouco.

Ele não conseguia ver alegria nos olhos de seus pais quando checavam seu boletim escolar ou vivenciar a ansiedade ou raiva deles quando ele voltava da escola muito depois do anoitecer. O relacionamento de James com seus pais poderia ser resumido em uma palavra: cordial.

A mensagem que os pais de James involuntariamente lhe ensinaram, de forma inconsciente, era “não tenha sentimentos, não demonstre sentimentos, não precise de nada de ninguém, nunca”.

As fantasias de James sobre estar morto ou fugir para uma ilha tropical eram as melhores maneiras que ele podia imaginar para cumprir o ordenado. Ele era um bom menino que aprendeu bem a lição.

7 sinais e indícios de contradependência

1. Outras pessoas às vezes percebem você como indiferente

2. Você se lembra de sua infância como solitária, mesmo que fosse feliz

3. Você às vezes tem fantasias sobre fugir da sua vida atual

4. Entes queridos queixam-se de que você está emocionalmente distante

5. Você prefere fazer as coisas por si mesmo

6. É muito difícil pedir ajuda

7. Você tende a se sentir desconfortável em relacionamentos íntimos

Se você se vê na minha descrição de James ou nos 7 sinais acima, não se desespere, porque há esperança para você! Sua contradependência é provavelmente causada pela Negligência Emocional Infantil (NEI). E uma coisa muito boa sobre a NEI é que ela pode ser curada.

Você pode corrigir o que deu errado em sua infância, dando-se o interesse emocional e a validação que você não teve quando criança. Ao fazer isso, você não apenas se curará, mas se tornará fortalecido por suas conexões com os outros. E você gradualmente perceberá que é, na verdade, sua capacidade de confiar emocionalmente nos outros que o torna forte.

(Fonte: psychcentral)

*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah da equipe Fãs da Psicanálise

*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui