Fui visitar minha família há algumas semanas. Fazia tempo que não via o pessoal reunido e alguns há mais de cinco anos. Havia muito para atualizar e saber. Primos pequenos para conhecer. Novos nomes para decorar. Quilos a engordar. Tudo o que uma festa de família brasileira tem direito.

Entre as conversas, tive que responder aquela pergunta básica “e os namoradinhos?”. Respondi que estava solteira (porque estava) e ouvi três comentários:

Tiozão casado há 15346 anos: tá encalhada!
Primo folgado e queridão: Vida de casado é boa, só perde para a de solteiro!
Prima mais nova, gata e casada: Bem que você faz!

Essas falas me fizeram refletir sobre as projeções que as pessoas têm. Como acredito que não sou a única a vivenciar algo assim, acho que podemos fazer isso juntos. Vamos lá?

O primeiro comentário diz respeito ao modelo que eu deveria seguir, mas não “consegui”. Estou encalhada, atrasada, meus óvulos estão apodrecendo. Foi o comentário de alguém que, devido a uma criação tradicional, interpreta que minha solteirice era um sinal de fracasso. Realmente, se a vida dele for um parâmetro, já deveria estar criando um casal de filhos.

O segundo, inspirado no poeta Wesley Safadão (risos), carrega a ideia de que a solteirice é um paraíso no qual saio por aí beijando várias bocas entre outras coisas. O casamento até pode ser bom, mas estar solteiro é melhor. Festa, farra e qualquer outro sinônimo.

O terceiro traz a concepção mais otimista da minha situação e mais pessimista de uma relação. Nesse, o namoro/casamento é ruim e eu deveria mesmo ficar sozinha, sem dar satisfações para ninguém. Eu era, na verdade, uma privilegiada.

Como é possível perceber, alguns acham que estou ficando para trás, enquanto outros pensam que estou vivendo o melhor momento da minha vida e que deveria aproveitá-lo (de uma maneira muito específica, não necessariamente a minha favorita).

Independente de como vivo, minha resposta foi apenas um gancho para que eles pudessem falar de suas situações. Creio que se houvesse um tempo maior e um ambiente mais apropriado (e menos alcoolizado), os comentários seriam estopim de uma autoanálise, para eles.

Algumas perguntas sugestivas: Que modelo é esse que tem prazo final de ingresso? O que significa estar encalhada? O que é uma vida boa? O que é casamento? Que ideia é essa de relacionamento?

Não pretendo responder essas perguntas, até porque dariam apenas a minha visão.

Se eu tivesse me deixado levar por qualquer uma das três proposições, teria ficado para baixo. Estaria encalhada, não estaria aproveitando minha solteirice como deveria e não deveria entrar em uma relação monogâmica. Qual seria, então, a alternativa? Nenhuma.

Nenhum deles sabe como eu vivo minha vida e/ou como me sinto com ela. Se estou feliz ou triste, se me sinto completa ou insatisfeita. Ninguém fez essas perguntas! Partiram do princípio de que estou vivendo minha vida de maneira errada ou muito certa (se levarmos em conta a terceira fala). Ninguém sabe a verdade. Ao menos não a minha.

Independente do que outras pessoas pensem ou falem, só você sabe sua experiência. Podemos aprender sim e muito com outras pessoas, mas temos que lembrar que cada um parte do que sabe e do que vivencia e nem sempre isso se aplica.




2 COMENTÁRIOS

  1. Acho interessante os padrões que a sociedade de hoje nos impõe, o que nos leva ao início de uma autoanálise,mas fiquei totalmente satisfeito por a resposta ser nenhuma. Não estar nos padrões não nos torna diferente das pessoas. Parabéns pelo post, e principalmente por essa frase:

    “Nenhum deles sabe como eu vivo minha vida e/ou como me sinto com ela”.

    Porque somente nós sabemos a nossa experiência.

  2. Oi Edimilson
    Valeu pelo comentário e pela participação.
    Qdo discutimos a experiência humana é difícil ter respostas definitivas, por isso precisamos discutir e nos livrar das pressões!

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