Santo Deus, estou sendo influenciado por meus imitadores

O texto abaixo parece um daqueles falsos artigos com meu nome que aparecem na internet. Santo Deus, estou sendo influenciado por meus imitadores. Tudo bem, porque não aguento mais falar da Dilma, Petrolão e das delações premiadas. Falemos das neomulheres e dos homens-objeto. Vamos a isso.

Antes, os homens desejavam a mulher. Hoje, queremos ser desejados. No tempo de meus pais, elas não davam: só casando. Os noivos galopavam como centauros para o quarto nupcial avançando sobre as noivas pálidas de terror. Filho dessa geração, eu achava que o desejo da mulher era “consequência” do nosso, que elas ansiavam por nosso assédio, em delíquios desmaiados. Eu achava que levar uma mulher para a cama era algo só de minha responsabilidade, que elas cumpriam cabisbaixas, trêmulas e, depois, gratas (ou não…). Elas “davam” como uma tarefa obrigatória. Histéricas, elas só amavam os que as rejeitavam. Nelson escreveu a parábola do “cafajeste do smoking impecável”.

A mulher insultava o amante aos berros; ele imóvel, num smoking perfeito, fumando de piteira, indiferente às ofensas que ela atirava, de dedo espetado e olho em brasa. Aí, ela arriscou: “Você não é homem!” O cafajeste jogou o cigarro fora, guardou a piteira com discreta elegância e assestou uma bofetada rutilante na mulher. Pronto! Banhada em lágrimas de paixão ela agarrou-se às suas pernas. Era o amor, enfim.

Hoje, os homens é que dão. Elas comem. Os homens se raspam, para ficar com o corpo feminino. Os homens malham, para ficarem magníficos objetos de prazer. Antes, não. Eram barrigudos informes, sórdidos, com lindas damas ao lado, brutais machões dominando ninfas. Hoje, elas escolhem: “Aquele ali. Vou comer…”.

Somos analisados minuciosamente nas conversas dos vestiários. Dizem-me informantes traidoras que o papo é mais grosso que conversa de marinheiro. Os pintinhos são analisados com régua e compasso. A barriga derruba um apaixonado, a bunda (isso é novo) passou a ser um objeto sexual fundamental para as moças: “Que bundinha ele tem!” Nosso pobre feminismo deu nisso: as mulheres analisam os homens como imaginam que são analisadas por nós: “Que gato, eu ia te comer todinho…” Hoje, nós somos as caricaturas das caricaturas que fazíamos delas.

Fui educado pelos jesuítas, o melhor caminho para a perversão. Sempre imaginei as mulheres como usáveis, romanticamente ingênuas, ou santas ou decaídas… Mas nunca imaginei ver esse exército de rostos lindos mas duros, implacáveis na avaliação do sujeito, nos olhando como sargentos examinando recrutas. O que nos excitava, fazia-nos apaixonados, era ver em seus olhos a busca de proteção, quase um apelo de socorro. Nossa virilidade era quixotesca, salvadora. Sua fragilidade, mesmo fingida, era erotizante. Outro dia, vi um documentário antigo com a Jackie Kennedy falando com a voz fininha; parecia uma meninha, uma “Barbie” ingênua. Era a moda.

É claro que não me refiro às pobres desamparadas socialmente, às desvalidas; falo das peruas de esquerda (elas existem…) e de direita, falo da vanguarda das gostosas. Transar com uma mulher hoje é passar por um teste. E surge a dúvida máxima: o que dar às mulheres? Carinho? Proteção? Porrada? Desprezo? Companheirismo? Dar o quê? Dinheiro? Já servimos para sustentá-las, mandar nelas: “Oh, bobinhas… não é assim, é assado…” Mas, não sabemos mais o que oferecer.

Diante disso, o amor vira uma batalha de desencontros e dores, uma guerra constante e excitante, ciúmes afrodisíacos, ódios excitantes para o “make-up fuck” (a f… melhor que há). Os amores duram semanas; casou, perdeu a graça. Os jovens ricos vivem em haréns de luxo. (ahh, verde inveja…). Claro que o amor dos desvalidos continua igual: porrada, alcoolismo, e abandono. Repito que falo das “vanguardas” neossacanas.

Creio que a revolução sexual se deu mais por via das mulheres do que dos homens. Elas mudaram desde a pílula até hoje, impulsionadas pela tecnologia veloz, pela industria da punheta das revistas pornô, pelo fetichismo das partes ao contrário do todo. São pedaços que vemos.

O conjunto nos angustia. Disse-me uma psicanalista outro dia que o que mudou foi a transformação do sexo em ginástica, num atletismo em que as perversões proibidas se transformaram em brincadeiras polimorfas. Ninguém peca mais. E a culpa? O que foi feito dela? O limite é o quê? A morte? Há um recrudescimento da sacanagem como parques de diversões. As famosas surubas de antigamente (oh, crime nefando…), hoje são cirandas-cirandinhas felizes e gargalhantes. O bom e velho orgasminho não basta mais. É preciso ir mais longe. Até onde?

Talvez busquemos um êxtase permanente num mundo que se aquece, nas beiras da catástrofe, num presente enorme que não acaba. No Brasil, a ostentação de sexualidade é espantosa até em menininhas, miniperiguetes.

E que orgasmo é esse que atroará os ares? Que transgressão suprema acabará com todos os limites? Nesta neolibertinagem, queremos ir além das coisas que viramos. Há um desejo de aperfeiçoar os desempenhos, como se moderniza um avião ou um chip. Nas casas de swing, por exemplo, há uma utopia de se atingir um gozo além do ciúme, além da posse, um companheirismo pacífico entre putas e cornos. O swing sonha com uma democracia sexual. E há agora o novo hype do “poliamor” — não mais o velho ninguém é de ninguém, mas todos são de todos.

Dentro em pouco, talvez ressurja uma onda romântica, diante da angustia que a liberdade está gerando. Teremos amores melodramáticos, beijos eternos, fidelidades sem fim? No entanto, onde se aninharão os casais ? No campo? Nas neves derretidas? No pó das cidades? Onde? Não temos onde amar. Não há casulos disponíveis. Famílias, lares? Não. Haverá talvez bordeis românticos, motéis da paixão, onde a paz infinita irá alem dos gritos de tesão.

Ninguém aguenta mais tanta liberdade…(Pronto, escritores apócrifos, podem publicar que este é meu.

(Autor: Arnaldo Jabor)




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

7 COMENTÁRIOS

  1. Jabor tem minha admiração, mas não posso concordar. Será que o poliamor não é simplesmente uma forma de adaptação da liberdade da mulher? Tão suada conquista, essa guerra velada tem milhares de anos, e agora estamos bem mais avançados nesse quesito, ao menos no mundo ocidental, e a despeito de todo o machismo que ainda insiste em castrar o prazer feminino taxando-nos de frias, duras, ou pervertidas e promíscuas. Ser garanhão é o máximo, mas se for mulher, é galinha…confuso isso para mim…o mundo está evoluindo, e entre outras coisas, a mulher descobriu que pode ter prazer, além do homem, que por sua vez descobriu a impotência sexual e a ejaculação precoce. Os papéis se inverteram, a mulher agora tem que buscar seu prazer e satisfação, agora a mulher se vê capaz de tudo sem necessariamente precisar do homem! Ah…mas neste mundo machista, onde mulheres também são machistas…fica difícil…então surge o poliamor, para aqueles que acreditam que é possível amar mais de uma pessoa, que acreditam que afeição não precisa ser exclusiva! Será que é uma tentativa de homens e mulheres se tornarem necessários um para o outro novamente? Me parece uma boa interpretação!

  2. Mostre um caso de poli”amor” que sobrevive as bases do egoísmo absoluto do ser humano, sendo este o resultado de: em não se contentado com 1 precisa-se de 2 aos quais derrama – se o querer narcisista do colecionador de almas. A família constituiu o mundo, o fim dela o levará a ruína.

  3. O bom e velho Jabor! Sempre com seu estilo empolado, seu conservadorismo gritante que aqui se derrama em machismo virulento, sua fala dirigida a uma elite tão restrita que parece estar falando para o próprio umbigo. O bom é que desta vez ele até o reconhece que não fala dos (nem para, aliás) “desvalidos”, por sua vez deixados “prá lá”, nos escanteios da sociedade.
    Como se pode distilar tanto desprezo, tanto ódio por seus semelhantes em pleno século 21?
    Como se pode ousar um discurso tão sexista após tantas décadas de luta para as mulheres se libertarem da violência da dominação machista?
    Só se chamando Arnaldo Jabor, claro, que tudo pode!
    Ao mesmo tempo, ele expressa admiravelmente bem o temor que vive o homem machista e conservador que povoa ainda nossa sociedade (e como!), notavelmente a sociedade brasileira. Temor da perda de poder, única e exclusivamente baseado na violência da força física, das atitudes degradantes, das palavras insidiosas, das perversidades veladas. O tom sarcástico da sua escrita é revelador da insegurança do macho que não tem mais nada a opor ao empoderamento feminino já que seu pinto amoleceu por conta de sua frustração.
    Mas compreender que a alteridade para com a mulher começa por entender nossas diferenças e respeitá-las, que o papel do macho moderno que elas desejam não é o de subjugá-las e fazê-las de servas, mas sim de ajudá-las a conquistarem a justa e legítima igualdade social, profissional, econômica e, claro, sexual que ainda hoje se lhes nega.

  4. Adriana Nascimento, concordo em quase tudo q vc disse… so me deixou abismado essa parte de seu comentário: ”Os papéis se inverteram, a mulher agora tem que buscar seu prazer e satisfação, agora a mulher se vê capaz de tudo sem necessariamente precisar do homem!” Como a mulher se satisfaz sem um homem? Se for falar de relação sexual acho isso impossível a não ser que a auto-suficiência feminina ultrapasse os limites a ponto de buscar o prazer somente em si, substituindo o homem por outros objetos como as proprias mulheres. Sinceramente a mulher não vive sem um falo!

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