Diz a lenda que Pã, o deus do horror, matou sua própria mãe quando esta o olhou pela primeira vez.

Os gregos já tentavam explicar o horror, a ansiedade, a angustia e o pânico através de suas lendas.

Certa noite eu acordei. Meu coração parecera parar. Não conseguia respirar, não conseguia me mover, apenas me contorcia para esquivar de uma dor invisível que eu mal pude explicar.

Eu não sabia o que estava acontecendo, apenas senti aquele momento, como se fosse o último, como se nada mais existisse. Durou alguns minutos e depois parou, mas o medo de dormir persistiu, me perseguindo durante a noite. Eu tinha medo que adormecesse e não acordasse mais. Aquele tinha sido meu primeiro ataque de pânico.

Então o mundo se desdobra em opções. Para cada opção existe um resultado: não previsível e ruim. A mente de um ansioso funciona assim. A tentativa de jogar com possibilidades que vão além do nosso controle. Para o ansioso é melhor não agir, para não ter que sofrer consequências. Mesmo com a perspectiva distorcida, e um ansioso reconhecendo isso, sua mente não para de tentar prever acontecimentos vindouros, sempre com a ideia fixa de que algo

Pouco tempo depois fui diagnosticado com síndrome do pânico, os episódios se tornaram recorrentes, especificamente quando eu estava em meio a grandes multidões.

Sudorese, tremores, tontura, fadiga e medo, muito medo. Como posso descrever a experiência traumática de quem passa por um ataque de pânico.

Mas o que é o pânico? De acordo com o dicionário é o que assusta e amedronta, sem motivo específico, ao passo que a ansiedade é o mal-estar físico e psicológico, ainda que sem motivo específico ou circunstância.

Não há, até o momento, explicações cientificas para ambos, estamos atrasados em relação ao pânico e à ansiedade. Entretanto, sou grato por não viver na década de cinquenta para trás, onde tudo isso era tratado como desvios de caráter, de maneira brutal e desumana, diferentemente dos dias atuais.

Embora não haja explicação, é completamente crível que existe relação entre pânico e da ansiedade. Uma se inicia através da outra.

É preciso um estudo profundo e detalhado do histórico familiar, de depressão e de abuso de drogas, para que se possa chegar a um consenso da origem da ansiedade e do pânico. Ainda assim, o mistério permanece.

Primeiro vislumbramos a ansiedade, e em seguida, o pânico.

O ansioso, como eu, jamais viveu no presente. Pessimista e diversas vezes tenebroso. Não age com lógica, e mesmo que às vezes, só às vezes, reconheça sua visão deturpada, a ignora. Vivemos como um computador. Contabilizando possibilidades de coisas que nem aconteceram. Um futuro sombrio e incerto, que nos faz sofrer e pagar um preço caro por isso.

Falando por experiência própria, sempre fui ansioso. Quando criança, não podia esperar a meia noite de um natal para abrir um brinquedo. Se me disser “preciso falar com você”, e não falar na hora, é motivo para um infarto fulminante. A mente não racionaliza que poderia ser qualquer coisa, e sim, um milhão de possibilidades negativas. E todas elas, por mais absurdas que sejam, são completamente plausíveis para nós. São palpáveis e possíveis.

A partir disso começaram a vir as crises de pânico.

Ainda sobre minha experiência, entrei em um ciclo tão vicioso, que chegava a calcular meus atos para que pudesse obter resultados certeiros no futuro. Não vivia o hoje, e quando algo saia errado, eu tinha meus chamados “surtos”.

Vivia em um constante estado de terror e depressão. A ansiedade me induziu `a depressão – que considero o pior castigo. Palavras de pessoas importantes pareciam granadas prestes a explodir. A falta de controle as machucavam.

A sensação de morte iminente me perseguia. O descanso, possível apenas sob medicação pesada. Eu achava que ia morrer o tempo todo. Nada podia deter esse sentimento.

Então me isolei completamente de tudo e de todos. Vivi seis meses isolado, evitei trabalho, amigos, relacionamentos. Sempre fui muito fã de terapias, até porque eu conheço perfeitamente meus traumas, e os trabalho. E não aconselho que dispensem, meu conhecimento é relativamente grande para que eu possa me manter com a doença, por isso em caso de paralização total de suas atividades diárias, consulte um psicólogo ou psiquiatra, pois é indispensável na manutenção da mente para que você possa ter uma vida normal. No meu caso, descobri que com terapia junto a esportes, possuíam grande benefícios.

Comecei praticando muaythai, e sempre que os treinos acabavam eu conseguia sentir a endorfina rodando meu corpo, e o alívio iminente fazia com que os problemas já não parecessem tão grande (imaginários, no caso). Comecei então a focar cada vez mais e mais em atividades físicas. Você pode controlar suas crises, por respiração, dedicação e paciência.

Saiba que durante um surto, você está tendo uma visão deturpada da realidade, e que nada do que você imagina é real. Enquanto nada acontecer, tudo permanece possível, inclusive sua remissão.




Colunista do site Fãs da Psicanálise.

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