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Não se iluda: você provavelmente não é ‘acima da média’

Faz sucesso na internet um texto que diz como os medíocres estão dominando o mundo, e como os verdadeiros gênios da humanidade vêm sendo sufocados pela súcia sem talento. Imagino que a maior parte das pessoas que compartilhou o link tenha se identificado com o sofrimento dos pobres gênios massacrados, e não com a malta conformista e invejosa. O que é curioso.

Porque, veja bem, o gênio é, por definição, uma coisa rara – estatisticamente falando, é muito mais provável que você (ou eu, ou a pessoa ao seu lado, ou o seu chefe) seja parte da multidão de medíocres do que da elite genial. Não é difícil entender o motivo: imagine que você vai escolher um jogador de futebol ao acaso, dentre todos os profissionais que já atuaram no esporte em todos os tempos. Há muito mais chance de sair um perna-de-pau qualquer do que o Pelé.

É um fato psicológico conhecido que 80% das pessoas se consideram “acima da média” – o que é uma impossibilidade estatística. Em algumas categorias profissionais a distorção é ainda maior: levantamento realizado numa universidade americana em 1977 mostrava que 94% dos professores se consideravam acima da média, e 68% acreditavam estar entre os 25% melhores da instituição – de novo, isso força um pouco a matemática. A autora da pesquisa, Kathryn Patricia Cross, definiu o fenômeno como “autossatisfação presunçosa”.

A psicologia já catalogou uma meia dúzia de fenômenos que nos transformam em presunçosos autossatisfeitos. O mais básico é o chamado erro fundamental de atribuição: a tendência de acharmos que, quando os outros erram, a culpa é deles e que, quando nós erramos, a culpa é das circunstâncias. Mais ou menos assim: eu saio mais cedo do trabalho na sexta-feira porque a firma me explora muito nos outros dias da semana, e ninguém é de ferro; ele sai mais cedo na sexta porque é um vagabundo sem vergonha.

Artigo publicado, em 2011, no Journal of Experimental Social Psychology mostrava que as pessoas avaliam as próprias qualidades pelo pico – por exemplo, achando que a foto mais bonita é a que revela a “verdadeira aparência”, ou que a melhor nota do ano é o “verdadeiro retrato” da competência acadêmica – e as qualidades dos outros, pela média.

Assim, cada um de nós acha que a melhor coisa que já fez é o exemplo típico do que somos capazes de fazer. Já quando se trata de avaliar os outros, somos mais realistas, e medimos a capacidade deles considerando tanto os altos quanto os baixos.

No ano passado, cientistas identificaram uma base neurológica para essa ilusão de superioridade, ligando-a ao neurotransmissor dopamina e sugerindo que ela é biologicamente determinada. O que indica que as redes sociais continuarão a ser dominadas por medíocres presunçosos que se acham o máximo. E que, provavelmente, estaremos entre eles.

(Autor: Carlos Orsi)

(Fonte: revistagalileu.globo.com)

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