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Sobre um jogador, uma mulher e agressões (in) toleráveis

Depois de ser encurralada pela mídia nacional, que para mascarar importantes projetos que estão em votação, faz uma vigília maçante sobre o escândalo envolvendo um ídolo nacional. Assisti à reportagem em que uma mulher que denunciou um caso de agressão corporal grave é entrevistada.

(Vou pedir que tentem esquecer por um instante quem são os envolvidos)

O que se espera de um entrevistador de uma suposta vítima de estupro:
“-O ato ocorreu? Foi consentido? Você verbalizou ou demonstrou de forma que ele soubesse se era a sua vontade ou não?” SOMENTE!

O que eu ouvi:
“Quem pagou sua passagem? Quem bancou a hospedagem? Você deve dinheiro? Você já foi condenada ou foi a julgamento por outros crimes? Você enviou fotos nuas ou seminuas a ele? Você um dia já pensou e/ou verbalizou desejo de ter relações com ele? Você faz o que da vida?”

EEEE para finalizar: “Você tem ideia do que essa sua queixa pode fazer com a vida e carreira dele?”

Não, não tenho intenção de ser juri deste caso, como tantos “digital influencers” estão sendo.

Mas me pergunto com qual direito e intenção o suposto agressor divulga PARTE da conversa de quando a suposta vítima fazia planos, divulga inclusive fotos íntimas (…). E todos, até eu por um instante, rebelam contra a suposta vítima, como se uma vez que ela demonstrou interesse, agora terá que “””aguentar”””.

Não estou defendo essa ou aquela pessoa. Jamais. Graças a Deus esse não é meu trabalho.

Mas cabe a nós, em especial nós mulheres, nos questionarmos se esse é o modo que queremos que uma mulher que sofra abuso se auto-analise e a forma como ela será abordada, DESEJAMOS O ROTEIRO INFELIZ DAQUELE JORNALISTA?

Somos o país onde maridos estupram esposas porque é o dever delas satisfazê-los. O país onde homens chantageiam mulheres com fotos íntimas para forçarem relações sexuais. Onde uma mulher é espancada até quase a morte e o foco da sociedade foi: “mas errada foi ela de levar o cara no primeiro encontro para casa”. Onde uma mulher apanha até a morte do namorado e esconde até da família porque eles não entenderiam que ela estava vulnerável demais para o denunciar no primeiro instante. Onde um “João de Deus” abusa de centenas de mulheres que se acham inferiores demais para questionarem um “santo”. Onde um médico ginecologista abusa por anos de mulheres que dependem do seu conhecimento para realizarem um sonho que se transforma em pesadelo. Onde homens matam a sangue frio mulheres por não entenderem que elas podem “DEIXAR DE QUERER OU DEIXAR DE AMAR”.

Estão nos matando dentro de casa, na rua, no nosso trabalho, no ônibus, jogando nosso corpo pela sacada. Estão até dando nosso corpo para cachorro comer, quando nossa existência os incomoda, lembram-se?

Onde foi parar a campanha do “NÃO É NÃO”??? Eu, como mulher, NÃO DEVO ser analisada sobre quais circunstâncias eu estava: se era meu marido, ou “a razão da minha libido”, se eu estava embriagada ou de saia curta, nenhuma dessas variáveis deveriam influenciar o processo. Nada disso deveria ser barreira para alguém que quer ter o direito de não transar, não apanhar ou não morrer!

Como o texto ficou longo, assim como o histórico de violência contra mulher também é, e o brasileiro tem a interpretação bastante tendenciosa, reitero: não acho que ela é vítima e ele agressor, mesmo porque eu não tenho que achar nada! Eu tenho que deixar a justiça trabalhar e impedir que uma mídia machista e manipuladora ENSINE MULHERES E HOMENS A FORMA DE PENSAR, DE JULGAR E DE AGIR!
#SORORIDADE

Autora: Maísa Lima é solteira, tem 28 anos, é enfermeira e está cansada de relacionamentos líquidos e abusivos.

* Texto escrito exclusivamente para o Fãs da Psicanálise, reprodução não autorizada!!

(Artigos assinados não remetem, necessariamente, à opinião do Fãs da Psicanálise)

Fãs da Psicanálise

A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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