Comportamento

Às vezes, é mais fácil falar que está tudo bem do que tentar explicar todas as razões de nossa tristeza

Falta empatia, falta solidariedade, falta amor nessa penca de corações vazios. E assim é que a gente se fecha, por medo de pedir ajuda e ser empurrado ainda mais para baixo.

A cada novo dia, novas surpresas, algumas boas, outras decepcionantes. Seremos, muitas vezes, acometidos de uma angústia que nos entristece, pesando nossos passos e martirizando os nossos corações. Nem sempre saberemos direito o que, de fato, está nos angustiando, porque há épocas, na vida da gente, em que se acumulam tristezas, uma atrás da outra.

Parece que vivemos em uma gangorra, tamanha é a variedade de emoções que nos preenchem, tudo ao mesmo tempo, como se estivéssemos sob testes da vida vinte e quatro horas por dia. Perdemos pessoas, perdemos emprego, perdemos a confiança, perdemos o sono. Até mesmo perdemos a esperança, quando nada mais parece capaz de nos animar. Quando nada à nossa frente parece iluminar. Quando tudo dói aqui dentro de nós.

Quantas vezes estamos felizes e realizados e, de repente, alguma coisa vem feito um furacão, retirando-nos o chão, levando para longe o que tanto era nosso? Quantas vezes a vida vira de cabeça para baixo, num piscar de olhos, fazendo-nos desacreditar de tudo e de todos? E então a gente sofre calado, sozinho, cabeça fervendo, lutando para não ficar preso à cama, sem nada mais por perto capaz de trazer um pingo de esperança. O sofrimento é nosso, ninguém irá sofrer em nosso lugar.

O pior de tudo é que, a cada dia, perdemos mais e mais a confiança nas pessoas, haja vista a falsidade que nos ronda por aí, através de gente que quer ferrar o outro, sem razão aparente. Gente que inveja o que o outro tem, o que o outro é, mas não move uma palha para melhorar a si mesmo. Mais fácil, na lógica doentia deles, destruir o outro do que tentar alcançá-lo. Falta empatia, falta solidariedade, falta amor nessa penca de corações vazios. Falta enxergar a si próprio, falta parar de culpar o mundo, falta fugir do papel de vítima. E assim é que a gente se fecha, por medo de pedir ajuda e ser empurrado ainda mais para baixo.

Ainda que o medo da maldade alheia nos deixe desesperançosos, mesmo que as pessoas passem por nós apressadas, parecendo nem nos enxergar, embora possamos confiar em quase ninguém, muitas vezes precisaremos nos abrir, dividir com alguém o que nos entristece e mina nossas esperanças, ou nossa alma ficará cada vez mais frágil e alquebrada. Sim, se olharmos com esperança, haverá alguém pronto para nos estender a mão e nos trazer aos poucos aos caminhos serenos desta vida. E é assim que a gente volta.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

Share
Published by
Prof. Marcel Camargo

Recent Posts

🍿 Como os cassinos estão se associando a Hollywood para criar experiências inesquecíveis

A relação entre os cassinos e a indústria cinematográfica é uma história de promoção e…

2 semanas ago

Ouvir pessoas que sempre reclamam tira sua energia

O dia a dia está cheio de dificuldades e problemas difíceis de resolver para algumas…

2 semanas ago

Como perder o medo de ficar sozinho

A sociedade moderna mostra o crescimento de lares com apenas um indivíduo. São pessoas que…

2 semanas ago

Por incrível que pareça, pessoas sensíveis são muito fortes

Pessoas sensíveis fortalecem-se porque não escondem o que sentem, o que são, por isso mesmo…

2 semanas ago

Não faça drama, faça brigadeiros

É verdade que a vida às vezes exagera nos tombos que dá, fazendo-nos cair dolorosamente,…

2 semanas ago

As mulheres que gostam de cozinhar têm as almas mais bonitas e puras

Desde os tempos antigos, a imagem das mulheres tem sido associada a atividades domésticas, como…

2 semanas ago