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A Importância da Vulnerabilidade

Estamos vivendo uma epidemia de falta de sinceridade. Um flagelo de pessoas que só conseguem ser gentis quando há algum interesse em jogo. Do contrário, quando se tem nada a ganhar ou nenhuma vantagem a ser tirada, não interessa criar nenhum tipo de empatia ou relação honesta e leal.

A falta de transparência e autenticidade nas relações está formando uma geração de pessoas vazias que representam papéis única e exclusivamente com o intuito de criar uma máscara de aceitação. Seus egos doentes preocupam-se em como se destacar, parecer melhor que todos ou com o que irão ganhar com aquela aparente gentileza e, na maioria das vezes, falsidade. Pessoas escondendo seus verdadeiros sentimentos e vivendo para encaixar-se nas exigências externas, apenas para atender a estas questões. Pessoas soterrando o que importa de verdade a elas, seus valores mais profundos em troca de atender às expectativas dos outros para serem aceitos e sentirem-se superiores de alguma forma. Assim, perdem o mais gostoso da vida: criar conexões autênticas e verdadeiras.

O mundo está cheinho de gente infeliz pela falta de sinceridade em sua interação diária.

O monstro da superficialidade, onde o que mais importa é o que pareço ser, nos impede de criar laços transparentes e mostrar vulnerabilidades. Esta falta de significado traz uma deteriorização gradativa de nossa força e energia vitais, e não é à toa que vemos aumentando os índices de depressão e doenças emocionais. Já está comprovado pela ciência que a qualidade de vida de um individuo está diretamente ligada à qualidade das relações que ele cultiva. Quando minhas conexões são essencialmente rasas e crio uma máscara que me impede de mostrar quem realmente sou, com minhas dificuldades e potencialidades, a tendência é que me feche em mim e crie resistências e barreiras no trato com outros indivíduos. A psiquê humana precisa envolver emoção e deixar vir a tona seus sentimentos verdadeiros para manifestar real bem estar.

A pobreza de atenção genuína, sem qualquer tipo de interesse utilitarista só demonstra a falta de apreço da pessoa por ela própria. O auto-amor envolve um intenso afeto por quem sou e passa pela aceitação das imperfeições; e isto se revela na qualidade das relações. Quando tenho um bom relacionamento comigo, não tenho problemas em demonstrar fragilidades ao outro e isto traz um amplo sentimento de alívio. Não existe a necessidade de ter qualquer vantagem pois busco trocas construtivas com quem me relaciono, não apenas o ganho ou projeção. A necessidade de gastar energia para sustentar aos outros uma máscara daquilo que nem eu tenho certeza que sou já não existe. Quando negligencio estes aspectos, o desgaste emocional é intenso, pois em nossa cultura de aparências, dores emocionais profundas são criadas a partir do desconforto de perceber que não somos bons o bastante em relação ao que é fabricado e imposto por uma mídia cruel e exagerada, ou pela comparação feroz à qual nos submetemos. Esta comparação não leva em conta nossas peculiaridades, nossa história ou nossos valores, apenas confronta de forma cruel e degradante.

A energia que emprego neste movimento é geralmente o que me consome e impede de fazer a marcha contrária, olhando sinceramente para dentro, encarando aquilo que ainda não aprendi a aceitar, acolhendo meu negativo. A autoestima necessita de aceitação das dificuldades para acontecer. Preciso entender o que ainda não está bem, quais as dificuldades e pontos de melhoria precisam ser desenvolvidos. Mas com a consciência de quais potencialidades possuo para desenvolver estes pontos. Sem aceitação não existe evolução. E sem auto-estima, não existem conexões sinceras.

Quando não gosto de alguém, minha tendência é afastar-me desta pessoa. Quando não gosto de mim, a tendência é que me afaste cada vez mais de minhas próprias necessidades. Esta percepção irá refletir nos relacionamentos que estabeleço, que serão o resultado da autoestima que cultivo ou não. Se estiver distanciado de minha essência verdadeira, ou me permito relacionamentos desrespeitosos e manipuladores, ou desenvolvo a necessidade do controle, para sentir-me bem. Minha relação com a individualidade é tão frágil que só consigo sentir prazer quando domino ou me deixo dominar.

Se reconhecemos nossas fraquezas a força da sinceridade emerge e é justamente ela que nos impulsiona à conexão franca e honesta com as pessoas ao nosso redor. A paz de espírito que tanto procuramos aflora destas interações saudáveis. Não desenvolvemos nosso crescimento pessoal sozinhos, somente conosco mesmos. Este desenvolvimento se dá no convívio com o outro, no desenvolvimento da inteligência e maturidade emocional para lidar com as situações que envolvam relações com os que estão a minha volta. E é a qualidade destes relacionamentos que ditam nossa felicidade, pois não há contentamento na solidão. O bem estar só é verdadeiro quando desenvolvemos o hábito de colocar-nos no lugar do outro e nos conectarmos de forma significativa, doando os melhores sentimentos que já estão dentro nós, adormecidos por uma falta de entendimento de quem realmente somos e das potencialidades maravilhosas que carregamos e podemos dar ao mundo.

Semadar Marques

Semadar Marques, palestrante, educadora e analista em inteligência emocional. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Semadar Marques

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