Comportamento

Hoje, despreza-se o que é autêntico e ama-se o que é falso

O problema é que as pessoas estão sendo odiadas quando são reais e estão sendo amadas quando são falsas. (Bob Marley)

Parece ser inerente ao ser humano criar expectativas em relação a tudo, em relação às pessoas. Esperamos o pior ou o melhor do que está por vir e de quem faz parte de nossa jornada.

Esperamos que as coisas aconteçam de determinada forma e que todos ajam conforme nossas perspectivas, seja quem conhecemos, sejam políticos, artistas, figuras públicas em geral. Porque ninguém quer frustração, nem dentro de si, nem lá de fora.

Queremos dar certo na vida, no amor. Queremos ter votado acertadamente, queremos que nossos ídolos ajam corretamente. Queremos ser valorizados no trabalho, na escola, nos círculos sociais. Muitos de nós não conseguimos lidar direito com rejeições e quebra de expectativas, pois isso requer equilíbrio, coragem e consciência sobre nossa própria responsabilidade no que ocorre. E é por isso que, muitas vezes, acabamos por nos enganar, conscientemente, alimentando ilusões que falsamente abrandam nosso sentimento de decepção e/ou derrota.

E é assim que, numa era em que a perfeição estética, a felicidade perene e o sucesso financeiro ditam as regras do jogo, torna-se ainda mais difícil digerir o que não dá certo, quem não é perfeito. Nesse contexto, a autenticidade vale menos do que a falsidade, em muitos aspectos, principalmente quando aquilo que não for real trouxer mais conforto do que uma verdade indigesta. Mesmo que se trate de mera aparência forjada, de encenação teatralizada, de perfumaria, verniz, patifaria.

Soma-se a isso a intransigência de muitos, hoje em dia, uma vez que várias pessoas são resistentes a perceber que podem estar erradas, que podem ter escolhido mal, que podem ter optado equivocadamente. Há muita dificuldade em mudar de opinião, em rever conceitos, repensar atitudes, em se olhar no espelho e encarar a necessidade de mudar os rumos das escolhas, dos pensamentos, do modo de vida. Com isso, é mais fácil se manter agarrado ao que já ruiu. Mudar dói.

Podemos até tentar nos confortar com mentiras que iludem, por temermos sair da zona de conforto, a qual, na verdade, nada mais faz do que incomodar. Podemos tentar manter velhas ideias, que já caíram por terra. Podemos tentar investir no que nunca terá futuro e ficar esperando o melhor de pessoas que nunca se dispuseram a nos ver como merecedores de algo. Mas a dor então será contínua e nunca cessará. Por outro lado, aceitar o erro e mudar também dói, mas passa. E a escolha é tão somente de cada um de nós.

(Imagem: Sharon McCutcheon)

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

Recent Posts

🍿 Como os cassinos estão se associando a Hollywood para criar experiências inesquecíveis

A relação entre os cassinos e a indústria cinematográfica é uma história de promoção e…

3 semanas ago

Ouvir pessoas que sempre reclamam tira sua energia

O dia a dia está cheio de dificuldades e problemas difíceis de resolver para algumas…

3 semanas ago

Como perder o medo de ficar sozinho

A sociedade moderna mostra o crescimento de lares com apenas um indivíduo. São pessoas que…

3 semanas ago

Por incrível que pareça, pessoas sensíveis são muito fortes

Pessoas sensíveis fortalecem-se porque não escondem o que sentem, o que são, por isso mesmo…

3 semanas ago

Não faça drama, faça brigadeiros

É verdade que a vida às vezes exagera nos tombos que dá, fazendo-nos cair dolorosamente,…

3 semanas ago

As mulheres que gostam de cozinhar têm as almas mais bonitas e puras

Desde os tempos antigos, a imagem das mulheres tem sido associada a atividades domésticas, como…

3 semanas ago