Comportamento

Quanto coração solitário no mundo

De repente você começa a ouvir os sons da noite, os sons dos dias, os sons dos fins de semana, os ruídos da vizinha, o andar mais apressado de alguém na rua. Sons quase inaudíveis, e que parecem enlouquecer o seu silêncio interior. Quem sabe você pode chamar isso de paz, de sossego, de silêncio… ou solidão.

Muito silêncio e muito barulho não traduz ninguém, nem indica se a vida está bem ou mais ou menos. Tenho escutado muitos corações solitários no mundo. Nos últimos anos tenho percebido pessoas que se isolam, que se trancam e se afastam de carinhos, de outras pessoas e do mundo. Deste silêncio, eu tenho medo.

Tenho medo… confesso! Confesso que não tenho entendido algumas pessoas próximas de mim, elas se silenciam, nunca estão dispostas a um dedo de prosa e ainda traz uma tez carregada de silêncio, introspecção e distância. Silêncio não significa solidão ou vazio, mas quando vem acompanhado de desinteresse pelo outro e pelo mundo, aí sim, é de meter medo.

Quantas pessoas trancadas dentro de si mesmas na esperança de um colo para contar um segredo, sonhando com um abraço, que se sente sufocada pela dor e é castigada pela depressão interior, massacrada pelos medos mais estranhos e sigilosos. Quanta gente solitária neste mundo que também precisa de atenção.

Da minha cama, muitas vezes, fico imaginando pessoas que nem conheço e suas solidões, porque eu também tenho as minhas. Fico imaginando na desigualdade social, cultural e espiritual. Penso nas distâncias que inventamos para nos afastarmos do mundo. Todo mundo foge da existência e se esconde em solidões pessoais.

Tanta gente solitária mesmo rodeada de gente e de vida, porque os silêncios doídos na gente, ninguém vê ou percebe. Nas pessoas há uma solidão velada: desgosto, decepção, desamor, apatia, ódio, raiva, medo, depressão, desilusão… carregam sentimentos solitários na alma, para que ninguém sinta ou perceba, porque reclamar, nem sempre, resolve os ecos doídos que sentimos.

Só entende de solidão quem assume que fins de semana na sala de tv, sem nada para fazer ou não ter algum lugar para ir, incomoda muito. Só entende de solidão quando o seu melhor amigo não é quem você acreditava. Só entende de solidão quem chorou debaixo do chuveiro, no meio da madrugada. Só entende de solidão quem olha ao redor de si mesmo e percebe dias patéticos e pessoas sem nexos. E também tem tanta gente solitária no mundo, mesmo tendo uma família ou um alguém.

Um coração solitário ainda é a pior solidão sentida, porque não tem como explicar em algumas situações, apenas sente tal inquietação. Tantos corações solitários porque não se acharam nas rotinas dos dias, porque falta um sentimento verdadeiro, porque foram desenganados por alguém querido ou porque nunca experimentaram um abraço amigo. Um coração solitário é como um dia nublado sem horizonte à vista, e dói mais do que uma decepção inesperada. Cabe apenas a você para destrancar essas limitações, medos e dar uma oportunidade para si mesmo, porque se você não tentar ver a luz, não entenderá a beleza do sol que surge todas as manhãs mesmo se tudo está cinza. Por detrás das nuvens, há sempre um brilho do sol e há sempre uma esperança que ecoa.

Quanto coração solitário no mundo, é verdade… mas não se esqueça que só você pode transformar cada momento difícil, ruim e desanimador em segundos inesquecíveis, quando decide abrir a porta do seu coração, dar a mão para si mesmo e sair para ver que a solidão existe porque seu comodismo grita mais alto.

Está se sentindo sozinho? Já experimentou sair por aí e ver que tantas pessoas também estão procurando o mesmo que você? Pegue sua vontade, mesmo que mínima ou quase inexistente e faça a opção por viver melhor. Se você leu até aqui, certamente, não está sozinho, está com as palavras.

Simone Guerra

Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.

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Simone Guerra

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