Terapia

Depois do deserto, o retorno

Tem momentos na vida que passamos por profundas dificuldades; achamos que alguma coisa fora desse plano está contra nós; as provações são diárias. Não é incomum que nesses momentos, que os cristãos chamam de deserto, seja exatamente o momento em que, o que o mais profundo do nosso ser requer, é mudança.

É disso que se trata, estamos em trabalho de parto, um novo Eu em nós está tentando nascer. Geralmente vemos a borboleta, e pouco prestamos atenção na crisálida. A crisálida é o casulo de seda que envolve o inseto que ainda não é uma borboleta.

É um tempo de formação, de preparo, de espera, até que o momento pra se tornar outra coisa, uma borboleta, acontece. O casulo é desfeito, a borboleta se projeta e, voa.

Nosso sofrimento, que pode ser um desajuste em relação a tudo que está a nossa volta, pode ser a falta de sentido na vida, pode ser o desejo de largar tudo, pode ser uma angústia que não passa, pode ser uma depressão que nos paralisa, um estresse permanente, uma síndrome do pânico, ou muitas outras expressões de sofrimento psíquico; não são outra coisa senão um ser novo que anseia pra nascer.

As sessões de análise é exatamente esse espaço onde o indivíduo pode cuidar de si mesmo enquanto se prepara pro nascimento do seu eu renovado.

Estamos mudando o tempo todo, nossas células morrem todas e, nascem todas novamente a cada sete dias. Ocorre que depois de uma extensa estação, estamos completamente diferentes do que éramos, e precisamos estar atentos a essa mudança. Sofrimento nada mais é que o desajuste entre o novo que você já é, e o seu velho eu que ainda insiste em viver.

É por isso que crianças não sofrem – quando estão saudáveis e podem ter um espaço seguro e amoroso pra viver sua infância – posto que não são apegadas ao que eram. Vão vivendo sua infância como uma grande e nova descoberta, se entregando todo tempo ao novo que elas se tornam a cada dia que algo novo aprenderam.

Com o tempo vamos perdendo o jeito de mudar, vamos enrijecendo, e isso é ruim, uma vez que mesmo que não mudemos, estamos mudando. Por isso sofremos, estamos mudando mas não aceitamos a mudança. Daí a impressão de que estamos vivendo com o freio de mão puxado.

Primeira coisa, pare de ter medo de sofrer; se o tempo é de sofrer, então sofra e aprenda com esse sofrimento.

Segundo, pare de sofrer se o tempo de sofrer já terminou; o tempo do sofrimento é pra que saibamos o que precisa ser superado, dispensado, jogado fora, esquecido. Terceiro, agora que você sabe o que precisa dispensar, jogar fora, esquecer, superar, então … desapega.

Quarto, agora que a alma está limpa, leve e novíssima, viva a pessoa nova que você é.

(Imagem: Jake Melara)

Luciano Alvarenga

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