Cotidiano

Depressão não é meio de vida, bipolaridade não é frescura, ansiedade não é falta do que fazer

Existe certa dificuldade de se aceitarem as chamadas “doenças da alma”, uma vez que seus sintomas muitas vezes não são visíveis fisicamente.

Estamos tão acostumados a enxergar apenas o que pode ser visto, que tudo aquilo que os olhos não veem cerca-se de hesitações. Materialistas que somos, amantes das aparências, tendemos a neutralizar o que requer profundidade e sentimento.

Nesse contexto, pode-se dizer que há um certo preconceito em relação a estados de espírito, pois, caso não existam sintomas visíveis, a doença existe como?

E é assim que muitas pessoas reagem mal ao se depararem com doenças e/ou transtornos mentais, não os aceitando, inclusive desdenhando de quem padece desses males. Afinal, vendo a pessoa, ali na frente, sem manchas pelo corpo, sem febre, aparentemente normal, a muitos não ocorre perceber que há um mundo dentro de cada um de nós.

Possivelmente, somente quem já passou por um quadro depressivo ou viu algum familiar assim pode dimensionar a dor que isso traz, tanto para quem sofre como para quem ama e convive com ele, da mesma forma ocorrendo com transtorno ansiedade generalizada e bipolaridade.

Todos os envolvidos acabam atingidos de alguma forma, porque as cicatrizes são invisíveis e o pedido de socorro vem do fundo do olhar.

Se atentarmos para as características da sociedade de hoje, perceberemos que há um terreno propício para que o emocional se abale, haja vista a pouca importância dada ao que vem de dentro de cada um.

A supervalorização das superficialidades, a superexposição de conquistas materiais, a busca desenfreada pela fama virtual, entre outros, caracterizam uma sociedade descuidada com o que os sentimentos possam dizer e, portanto, claramente suscetível a padecer de doenças emocionais.

A depressão é escuridão. A ansiedade é desespero. A bipolaridade é insegurança. E vice-versa. Enquanto os sentimentos não forem valorizados pela sociedade, as doenças da alma dificilmente serão encaradas socialmente com a urgência que se requer, como realmente deveria ser.

Se o essencial é invisível aos olhos, as escuridões dolorosas de uma alma que sofre também o são. Entender isso é o mínimo a se fazer. Com urgência.

Prof. Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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  • Convivo com uma pessoa que muda de humor constantemente, acho que é bipolar! A busca incansável por ter dinheiro o faz ser ansioso e se sente bem em maltratar quem está perto! É grosseiro, estupido, ignorante na maioria das vezes e outras quando está com dinheiro aparentemente fica mais calmo trata um pouco melhor as pessoas. TD vai ruim antes, mas quando está com o que ele mais gosta, melhora!!
    Se sente feliz em maltratar a pessoa do lado e põe nela toda a culpa da sua incapacidade! O que fazer? Se essa pessoa acha que não tem nada, não precisa de ajuda? Como se chama isso? E como tratar? Se a pessoa o deixar sozinho melhora???

      • Respostas como essas, não ajudam em nada,nem quem sofre de ansiedade..nem quem sofre ao redor dele.
        Leia mais sobre ansiedade amigo,talvez mude de opinião.
        Um sincero abraço,e que Deus abençoe todos.

      • Depressão é uma coisa a pessoa ser egoísta e ruim é outra.. se afaste e não seja capacho de ninguém porque quem vai acabar ficando depressiva é você

    • Meu marido é assim... me deixou depressiva com as atitudes dele, agora jogou na minha cara que não suporta mais viver comigo assim... qdo só
      Adoeci tentando ajudar ele dar a volta por cima toda vez que precisou de ajuda e ninguém lhe estendeu a mão.

  • Patrícia Moraes É muito difícil quando a pessoa não se reconhece como bipolar e não acredita que precisa de ajuda. Experiência própria: A alternativa mais saudável pra nossa saúde mental, é cair fora, o mais rápido possível. Não há nada que possa ser feito pelo outro, só por vc mesma!

  • Meu filho tem( toc),e ansiedade e é bipolar então não e fácil, tem horas que ele ta bem, tem horas que nao. Ele faz tratamento co psicologia e psiquiatra e faz uso de medicamentos. E meu marido tem esquizofrenia, só sei que e uma luta mas não me desanimo vou enfrente.

  • Sou depressiva, ansiosa e bipolar, mesmo estando com dinheiro não sinto muita alegria, tenho meus momentos, acabo magoando as pessoas e de uma hora p outra já estou com aspecto melhor, com tudo fico irritada ate mesmo uma brincadeirinha simples, mais depois fico triste por ter feito isso.

  • Boa tarde! É preciso compreender que transtorno de humor, seja bipolaridade, seja depressão, seja ansiedade ou pânico não são escolhas do paciente, tampouco frescura! Sim, pode ser insuportável conviver com alguém assim, principalmente se a pessoa não aceita que tem um problema e não procura ajuda. Indico manter-se presente dos que decidem se tratar. A bipolaridade por exemplo é ausência ou baixa produção de litium. Tão simples e tão cruel. 20 minutos de exercício e qq ser humano começa liberar endorfina, sensação de prazer, o bipolar não, demora até 2 horas p iniciar a mesma produção em baixa escala. Portanto, boa conversa e busca de soluções médicas, medicação, esporte e até espiritualidade ajudam mto, mas o doente tem que querer, senão se torna um peso e adoece aos que estão a seu redor. Mas frescura não existe, existe é mto sofrimento! E sim, alguns bipolares clássicos compram, compram, compram, gastam o q não tem em busca de uma sensação de alegria...é uma droga!
    Tomo 100mg de lamotrigina td manhã, caminho e corro diariamente e sou feliz à beça!!!

  • Bom dia professor. Li seu artigo e passei aqui para lhe parabenizar pelo texto impecável. Conciso, coerente e muito bem escrito.

  • É muito difícil ter depressão.O que ajuda muito além do psiquiatra e o psicólogo é ter a família presente.Parece que quando vem a crise eu me anulo, fico sem vontade de fazer qualquer coisa.

  • Sofro com essa bipolaridade, nossa é muito complicado, não queria viver assim ,só quem tem essa doença sabe realmente o que é isso!

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