Sexualidade

Homofobia: a intolerância que mata

A homofobia é uma questão complexa que envolve elementos culturais e históricos antes mesmo dos individuais. Expressar-se de modo agressivo perante gays, bissexuais, transexuais ou travestis, ao ponto até mesmo de práticas criminosas é a resposta sem crítica de pessoas que internalizaram as homossexualidades de modo pejorativo, cunhado na noção de pecado ou doença comum, sobretudo, na história antiga da humanidade, que ecoa ainda hoje.

Segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), 343 LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) foram assassinados no Brasil em 2016, o equivalente a uma morte a cada 25 horas, fazendo do Brasil o campeão mundial em crimes homofóbicos.

Além do histórico e social, relacionar tais crimes a uma repressão sexual por parte dos agressores é, muitas vezes, também um raciocínio correto. A psicanálise nos mostra que tudo o que gera ódio, nasce de um conflito interno.

Nesse sentido, a agressão a homossexuais pode ser compreendida como uma dificuldade do agressor em lidar com os próprios desejos homossexuais, por conta de todo histórico de repressão e preconceito social. É como se o sujeito matasse no outro o que gostaria de matar em si mesmo.

É mais “simples” tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ao invés de enfrentar o próprio desejo. Existem algumas pesquisas que comprovam essa relação.

A condição homossexual, assim como a heterossexual, bissexual e transexual, diz respeito exclusivamente ao sujeito. Não há implicação social, subjetiva ou histórica que justifique a necessidade de sua repressão. Neste sentido, o caminho mais saudável é a vivência afetiva e sexual sem culpa, tendo o desejo como guia e a relação com o outro como limite.

Antes de qualquer coisa, o homossexual deve entrar em contrato com seus próprios preconceitos. O primeiro desafio de um homossexual é, geralmente, aceitar o próprio desejo afetivo e sexual, compreendê-lo como parte de sua identidade e fazer desse detalhe uma característica para se orgulhar. Por esse motivo é comum ouvirmos falar acerca do “orgulho LGBT”.

Leia Mais: Não sou gay, não sou bi e não sou hétero, sou gente

Orgulho, pois diferente de quem nasce heterossexual, o homossexual enfrenta muita resistência e preconceito pelo fato de simplesmente desejar ou amar um sujeito do mesmo sexo. O caminho do orgulho saudável é uma ferramenta que possibilita o reconhecimento do desejo e a vivência afetiva e sexual tal como qualquer ser humano, independente do gênero ou sexo.

A partir do momento em que é possível lidar com o preconceito interno, poderemos pensar em estratégias para lidar com o preconceito social, investindo em diálogos amorosos, pacientes, reivindicando igualdade e respeito. Respeito a toda diversidade e em última análise a todo ser humano. Afinal, a diversidade é uma das principais características da humanidade.

Quanto ao preconceito social, o grande antídoto para posturas enrijecidas é o conhecimento. É preciso que o conhecimento científico chegue até a população. É imprescindível desconstruir equivocadas compreensões acerca do desejo sexual e do gênero.

Além da educação, o Estado também precisa se posicionar criminalizando atos de homofobia. Não há justificativa para que um ser humano agrida ou mate outro ser humano apenas por discordar de sua orientação afetiva ou sexual.

As pessoas também precisam investir em análise pessoal, entrar em contato com dramas subjetivos mal resolvidos e fazer de possíveis sofrimentos, material para construir vivências saudáveis e significativas. É a partir da intervenção tanto no âmbito social quanto subjetivo que poderemos avançar a posturas inclusivas, menos rígidas e acima de tudo humanas.

João Paulo Zerbinati

Psicólogo clínico de orientação psicanalítica, atendendo em Itápolis-SP e Ribeirão Preto-SP. Graduado pela PUC (2014). Mestre pela UNESP (2017). Pesquisador membro do grupo de pesquisa SexualidadeVida USP\CNPq. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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  • É vergonhoso perceber em como pessoas q se dizem psicólogos estão afundados em ideologias de movimentos ativistas.

  • Também acho vergonhoso perceber como os comentários diante de questões tão fundamentais estão afundados em construções morais homofóbicas, segregadoras e ofensivas.
    Psicologia, assim como o texto, apresenta problemáticas de extrema relevância no nosso contexto, não pressupõe julgamento moral, diferente do exposto no seu comentário. Melhore!

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João Paulo Zerbinati

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