Comportamento

O sentido no sofrimento

Podemos perceber na própria experiência da vida, que existem diferentes níveis de sofrimento, tanto em relação à intensidade quanto ao tempo de permanência.

Sem dúvida, são muitos os motivos pelos quais consideramos legítimo sofrer: a morte de alguém querido, uma doença, um acidente, a perda de um emprego, o fim de um amor, o rompimento de uma amizade…

Existem também os motivos corriqueiros e banais que geram uma tensão psíquica – mesmo que por alguns minutos. Os exemplos são inúmeros e pessoais: não chegar a tempo de pegar o avião, tirar uma nota baixa, manchar a roupa de ketchup… São situações que depois de um tempo você nem lembrará que aconteceram.

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Existe ainda, o sofrimento sem uma causa aparente; esse tipo costuma ser o mais difícil de suportar, pois a pessoa se sente refém de uma angústia inexplicável e sem prazo para terminar.

Você provavelmente já escutou a expressão “vácuo existencial”, caracterizado pela completa falta de sentido na vida que acomete as pessoas com depressão. Uma frase atribuída a Albert Einstein diz justamente isso: “O homem que considera a própria existência desprovida de sentido, não só é infeliz, como também dificilmente consegue adaptar-se à vida”.

Esse texto é dedicado a uma reflexão sobre como é possível lidar com o sofrimento de forma positiva e proveitosa, ou seja, pensando no sentido de tudo isso estar acontecendo. Afinal, o que não for benção direta é benção indireta em forma de lição; e você não precisa ser religioso para acreditar nisso.

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O primeiro passo, portanto, para se acalmar, é fazer a seguinte pergunta: o que a vida está querendo me mostrar que eu ainda não aprendi? Ter em mente que sempre é possível tirar valiosas lições de qualquer sofrimento – dos mais simples ao mais complexos – é demonstração de assertividade.

Esta sensação de estar aprendendo algo – que você dificilmente aprenderia se não tivesse sofrido essa situação – te prepara para o segundo passo: ok, agora que eu já aprendi X, como posso aplicar isso na minha vida? Em outras palavras, como esta experiência me torna um sujeito melhor no meu cotidiano? Esta pergunta é fundamental para a evolução da própria humanidade, pois uma coisa é aprender na teoria, outra totalmente diferente é praticar os conceitos adquiridos.

Por fim, depois que você sofreu, se recuperou, ressignificou os fatos vividos para tirar as lições apropriadas e conseguiu aplicar na sua vida pessoal as consequências desse aprendizado, você está pronto para o terceiro passo. Compartilhe toda a sua experiência com as pessoas do seu convívio, retribua ao mundo em forma de conhecimento, de gentileza, de ajuda, de amor…

Não importa o que você tenha passado, se conseguiu seguir adiante e percorreu os passos 1 e 2, você está forte o suficiente para se doar, para iluminar o caminho de alguém, para plantar sementinhas em corações alheios.

Leia mais: O perigo de aceitar como normal aquilo que nos causa sofrimento

Daí então, você perceberá que não poderia ter passado pela vida sem essa experiência de sofrimento, pois foi graças a ela que você desabrochou para o mundo.

Tenho a sensação de que as pessoas que passam pela dor com sabedoria e serenidade desenvolvem um conceito de fé diferente das outras. Elas passam a ter coragem de viver a vida como se tudo acontecesse para o seu maior bem. Gostem ou não do acontecimento, elas o aceitam como possibilidade de crescimento emocional e espiritual.

“E é nisto que se resume o sofrimento: cai a flor e deixa o perfume no evento” Cecília Meireles

Rosa Abaliac

Psicóloga e mestre em Psicologia Social. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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Rosa Abaliac
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