Cotidiano

SAUDADE CRÔNICA

Saudade é um sentimento esquisito. Já escrevi antes sobre isso, lembro que na ocasião eu disse que era diferente de lembrança porque em minha opinião saudade é querer algo de volta e lembrança é apenas… lembrança.

Mas saudade é de fato algo estranho. Já li muito sobre o tema e a maioria das pessoas acha que é um sentimento bom, gostoso, que faz bem, ou seja, tem opinião de toda ordem, mas a maioria acha um sentimento positivo. Eu não acho.

Acho saudade uma porcaria justamente por conta da minha definição, que é algo que sentimos quando queremos vivenciar novamente uma situação, quando queremos de volta momentos específicos, enfim, essas coisas.

Leia mais: A tal da saudade

Me causa dor. Acho que é isso. É justo que não goste, afinal, quem é que gosta de sentir dor? Eu não gosto.

Há dias em que certas saudades apertam e tornam esses dias insuportáveis. Há outras saudades que passam logo. E há as crônicas. Essas, por mais que a gente lute contra, faça das tripas coração para tentar evitar, não consegue, afinal, como o próprio nome diz, é uma Saudade Crônica.

Sinto saudade de coisas, de lugares, de pessoas. Algumas dessas saudades são insuportavelmente doloridas. E crônicas. Recorrentes.

Leia mais: Falando em saudade

Muitas vezes não suportamos sequer pensar nelas, mas quem é que disse que nossas mentes nos obedecem?

Certa vez ouvi de alguém: “Quando a gente gosta de azul-marinho, podemos até ficar um tempo sem usar essa cor, mas a gente sempre volta a usar e nunca deixa de gostar”.

Foi a melhor analogia sobre o tema que já li ou ouvi. Creio que define tão bem esse sentimento que me recuso a pensar em algo melhor para dizer. É bem isso. Podemos ficar tempos, longos períodos sem dar a devida atenção a alguma coisa, mas isso nem de longe significa que a esquecemos.

Hoje, particularmente hoje, senti uma forte saudade. E por mais estúpido que possa ser, não foi uma saudade apenas do que vivenciei, foi uma saudade do que poderia ter vivido.

Leia mais: Querida e teimosa saudade

Passa um filme na cabeça sobre o que existiu e a mente cria novos cenários, novos personagens, novas cenas do que poderia ter acontecido e não aconteceu.

Felizmente sou escritor e como tal, posso colocar no papel, em algum livro essas cenas vivenciadas e também as novas cenas criadas pela minha mente, fazendo assim, nascer a tal da saudade do que não aconteceu. É um jeito de enganar a mim mesmo e poder imaginar as consequências do que nem foi vivido.

Estava aqui olhando em meu computador umas fotografias. Vi a fotografia de uma praia. O filme que passou em minha mente me fez sentir tanta saudade que decidi incluir até coisas que nunca aconteceram. Pior, apaguei da memória o dia em que a foto foi tirada e mudei tudo. Inseri no cenário mental coisas que jamais aconteceram. Por que? Bem, pode ser que esteja ficando louco, velho, ou apenas com Síndrome da Saudade Crônica.

A verdade é que essa doença não tem cura e volta e meia me pego sendo atingido pelos sintomas. Depois que a crise passa, fico pensando na sacanagem que a mente faz com nossa consciência. Como é possível sentir dor por algo que não aconteceu?

Bom, uma das minhas respostas prediletas é: Porque teria sido bem melhor do que de fato foi. O nome disso é arrependimento pela escolha mal feita. E o tempo não volta, uma oportunidade perdida jamais retorna.

Só resta aquele gostinho amargo pós saudade imaginária… afinal, não dá nem pra querer de volta algo que nunca houve.

Marcelo Mello

Coach Pessoal e Empresarial, Consultor de Negócios, palestrante e escritor. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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