Muitas vezes nos questionamos como as coisas seriam se tivéssemos agido de uma maneira diferente em determinada situação. Será que o resultado teria sido outro? Será que poderíamos ter evitado certa consequência ruim que nos tenha alcançado? Poderiam os acontecimentos ter ocorrido de uma forma diversa se tivéssemos agido de maneira oposta à que escolhemos?

A remota probabilidade de um sim para essas indagações nos remete a um estado de profunda estagnação. Revivemos a situação um milhão de vezes, procurando a falha que possamos nos imputar. Relembramos cada palavra, cada gesto, tentando modificar, em vão, o resultado imutável que ora lamentamos. Surge, assim, o sentimento de culpa que nos invade o ser, reforçando ainda mais a apatia pela qual nos deixamos absorver.

Com o passar do tempo, parecemos carregar o mundo em nossas costas, através das somas dos muitos erros que, de certa maneira, protagonizamos ou acreditamos protagonizar.

O sentimento de culpa, então, e ainda que não tenhamos, de fato, culpa de nada, torna-se o nosso maior vilão, retirando de nós aquela alegria inocente sobre a vida e os seus percalços.

Deixamos de comemorar as pequenas vitórias, que sequer se apresentam a nós como vitórias. Trata-se apenas de obrigações para um coração culpado.

E uma vida sem cor, sem pequenas gotas de felicidade, torna-se alvo fácil para outros vilões, tão perturbadores quanto o sentimento de culpa. Somos, então, apresentados à ansiedade, à  depressão, às fobias e  a  outros transtornos.

Importante, assim, notarmos que tudo o que se passa em nossas vidas é aprendizado. E se hoje agiríamos de uma maneira diferente, se hoje escolheríamos um outro caminho, se hoje falaríamos aquilo que não falamos ou, ao contrário, se nos calaríamos, é porque aprendemos a lição oculta contida naquela experiência.

Chegou, então, a hora de nos perdoarmos. Afinal, se ganhamos a consciência sincera de que não mais agiríamos tal qual o fizemos, é porque amadurecemos, porque aprendemos, ainda que a custo de muito sofrimento.

Importante saber virar a página, intuindo o ensinamento que ficou registrado na página anterior. Importante equilibrar a nossa balança interna também com os nossos acertos.

O autoperdão nos possibilita enxergar os acertos que insistimos não ver em razão do reiterado sentimento de culpa.

Procurar mudar aquilo que está ao nosso alcance, refazendo aquilo que puder ser refeito. Entender que nem tudo está ao nosso alcance e que nem sempre o nosso comportamento é a única condição para estabelecer o comportamento do outro. Cada um é responsável por si, por seus próprios atos.

Chorar se assim nos sentirmos mais leve. Não alimentar a nossa bagagem emocional com culpas que mais impedem o pleno desenvolvimento de nosso ser. Entender o porquê de nosso erros e a vontade sincera de fazer o melhor, perdoando a nós mesmos quando não tínhamos a consciência que temos hoje. Eis a verdadeira liberdade, aquela que retém os aprendizados que a vida oferece sem se deixar oprimir, sem se deixar escravizar por sentimentos inócuos que conspurcam a beleza da vida.

 




Mestre em Direito Constitucional. Autora do livro "O empregado portador do vírus HIV/Aids". Criadora do site pausa virtual. "Buscando o autoconhecimento, entendi que precisava escrever sobre temas universais como a vida, o amor e a fé". É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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