“Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho”, cantava Tom Jobim em 1967. Essa concepção de que somos seres sociais e que dependemos das pessoas para viver bem é uma sabedoria milenar, defendida por diversas religiões, teorias, pesquisas científicas… Está presente na literatura, na música e em qualquer outra arte.

Ainda assim, pesquisas mundo afora, como a mencionada por Robert Waldinger com a geração Y dos EUA, apontam que o maior objetivo da vida de jovens adultos é se tornarem ricos e o segundo se tornarem famosos.

Somos levados a supervalorizar o trabalho desde pequenos. Quando uma mãe fala com frequência: “Filho, essa semana seu pai está trabalhando muito e não tem tempo para te ver” ou “Não posso ir à sua apresentação da Escola porque tenho reunião” estamos aprendendo que o trabalho vem em primeiro lugar.

Entretanto, o discurso é o oposto: “só trabalhamos tanto assim para dar o melhor para nossa família”. As crianças ficam confusas (e com razão), já que pensam: “ok, meus pais querem o melhor pra minha vida, mas porque nunca têm tempo para mim?”

Passamos a vida correndo atrás de capacitação, títulos e novas oportunidades. É como se o que você faz fosse uma extensão de quem você é. Mas adivinha? Seu trabalho não te define, sua formação acadêmica / profissional pode sofrer muitas mudanças ao longo do tempo.

Portanto, sua ocupação é momentânea e não está colada ao seu nome, como muitas pessoas fazem crer. Agora, suas relações sociais, essas sim dizem muito mais sobre sua vida. A forma como você convive com sua família, amigos, parceiros e colegas de trabalho é a principal chave para uma vida satisfatória, saudável e harmônica.

Uma equipe de pesquisa da Universidade de Washington, em conjunto com a de Harvard, publicou em 2012 uma pesquisa chamada “Social Support Linked to Health Satisfaction Wordwide”, baseada em dados do Gallup; a principal conclusão: indivíduos que dizem ter família e amigos com quem podem contar em tempos de adversidade estão muito mais satisfeitos com sua saúde pessoal.

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O estudo incluiu mais de 270.000 entrevistados de 15 à 75 anos entre 2005 à 2009 em 139 países. “Pessoas que são socialmente isoladas tendem a ter mais estresse fisiológico, menor imunidade e uma vasta gama de fatores de riscos biológicos.

Com frequência elas também têm comportamentos mais arriscados à saúde como consumo de álcool e tabaco” (Lisa Berkman, uma das coordenadoras dessa pesquisa, publicada na íntegra no jornal Social Science & Medicine,).

“The Health Benefits of Strong Relationships”é outra pesquisa publicada em 2010 na Harvard Health Publications, que examinou dados de mais de 309.000 pessoas e descobriu que a falta de relacionamentos fortes aumentava em 50% o risco de morte prematura de todas as causas – um efeito comparável a fumar 15 cigarros por dia, e maior que a obesidade.

A falta de laços sociais também foi intimamente relacionada com depressão, declínio cognitivo precoce, distúrbios de sono e de alimentação. Existem muitos estudos sérios disponíveis na internet para quem se interessa pelo tema “saúde e relações afetivas”, como por exemplo, o que conclui que mulheres de meia idade em casamentos satisfatórios têm menos chances de apresentar doença cardiovascular do que as que estão insatisfeitas com o matrimônio.

Agora um exercício de reflexão: Pense nas 10 pessoas (uma média) mais importantes na sua vida atualmente. Como você tem se relacionado com elas? Quais aspectos poderiam ser melhores com cada uma? Você acredita que daqui 20 ou 30 anos essas mesmas pessoas ainda vão estar no ranking de importância na sua lista?

Você considera que o relacionamento que tem com todas é forte o suficiente para enfrentar obstáculos? Você se sente especial em poder contar com elas? Essas pessoas também demonstram gratidão por você? Se você fosse dar uma nota de 0 a 10, onde 0 representa completamente insatisfeito e 10 completamente satisfeito com a convivência, você daria notas acima de 7 para todos da sua lista?

Se respondeu sim às últimas cinco perguntas, tenho uma notícia excelente: você sabe se relacionar bem e, consequentemente, sabe viver bem. Mas, importante ressaltar que, conviver bem não significa falta de brigas, conflitos ou decepções.

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Significa que apesar disso tudo vocês se respeitam e se admiram. Sabem que podem contar um com o outro em momentos difíceis, sabem dos defeitos e das qualidades de cada um. “Mas é só isso? Não pode ser… E todo o resto?”

O resto, como a própria palavra sugere, é isso: o que sobra e o que é secundário. É possível viver feliz sem esse resto (que pode ser diversas coisas), mas é impossível viver feliz sem o essencial, ou seja, sem as pessoas que são importantes para cada um.

A capacidade de amar e manter relacionamentos é uma consequência direta de uma vida altruísta e o inverso também é verdadeiro, o isolamento social, a arrogância e sentimento de superioridade ao se relacionar é consequência de uma vida egoísta. Qual vida você anda escolhendo?

“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade.”

(Miguel de Cervantes).




Psicóloga e mestre em Psicologia Social. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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