Somos irritantemente insistentes em criarmos uma distância entre o amor e nós. Somos excelentes em desviarmos do amor; excepcionais em sermos mancos no amar. Exímios defensores da nossa indignidade, criamos, para isso, as mais diferentes estratégias quando, por exemplo, nos apegamos a alguma versão anterior de nós mal sucedida e a ela nos resumimos, repetindo-a num padrão, dizendo a nós mesmos nas entrelinhas: “veja, eu sou isso ainda, não está vendo? Eu não sou digno de ser amado. Eu não mereço algo assim.

Afinal, quem sou eu para receber? Eu não mereço ser cuidado”. O que é o boicote senão um desejo nosso de navegarmos para o lado contrário do que também desejamos? Eis aí um deles que muito bem frequentamos. E tudo porque atravessamos o tempo sem nos perdoarmos nem nos permitirmos. E tudo porque o tempo passou e o que não se dissolveu se acumulou e endureceu, endurecendo-nos diante de nós próprios. E tudo porque não fizemos as pazes conosco, não abandonando seja lá o que tenhamos feito ou o que tenham feito com a gente, que nos tenha muito doído ou julguemos por demais reprovável.

Diminuirmos, não permitindo que a vida venha em nós caber nos parece mais fácil a crescermos ao permitir cabermos nós na vida. Assim, repetimos o que não queremos mas sutilmente julgamos que merecemos. Assim, repetimos o que não queremos como se desta vez conseguíssemos ultrapassar o que nos cortou com afiada tristeza a nossa alma. E isto só poderá ser conseguido através da dissolução das mágoas, da despedida da raiva, do perdão para todos os lados. Caso contrário reincidiremos no que buscamos sem querer, dizendo que continuamos a ser os mesmos e merecedores do que nos falta.

Enquanto não nos encontrarmos, cada amor que vier será insuficiente como o teu próprio amor.




Poeta, escritor e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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