Ela não devia ter sentado na minha mesa…

Era intervalo da aula e naquele curso tem uma cantina muito boa (e barata). Vi dois tipos de torta salgada, perguntei qual era a mais gostosa e a dona do café, sempre muito atenciosa, disse que a feita de abóbora era a melhor.

Confiei no gosto dela e comprei. Comprei também um refrigerante de garrafinha. Adoro refrigerantes de garrafinha. Sei lá, lembram a minha infância, parece que até o gosto é melhor…

Sentei e chegou uma colega:

– Posso sentar aqui contigo?

– Claro, senta aí.

Começamos a conversar e logo veio a pergunta, na verdade “as” perguntas:

– Tu és casada? Tens filhos?

Respondi sorrindo: – Não, mas sou tia. Serve?

E ela fez aquela cara de pena, como se eu fosse uma pobre coitada. Quis sondar se sou heterossexual. É que quando se chega solteira na minha idade, muita gente pensa que a gente é lésbica, sabe?

Bom, nada contra as lésbicas, até tenho amizade com algumas, mas não sou uma delas. Sei lá, para mim isso não funcionaria. Não me imagino discutindo a relação todos os dias, nem tendo que aturar qualquer outra mulher além de mim.

Mulher é um bicho muito chato. E digo mais: se eu fosse homem, com certeza seria gay, hahahaha… Então tá, continuando, quando na tentativa de sondar “discretamente”, ela perguntou sobre ex-namorados, falei deles, na verdade dele, namorado mesmo foi um só.

Disse o nome para ela ficar tranquila e ver que pode ser minha amiga (mesmo sendo casada). Bom, achei que ela fosse casada, pois usa aliança. Foi então, que ela resolveu falar um pouco de si.

Disse que “mora junto” faz 15 anos, mas que ele não quer casar, que ele não quer também usar aliança, que ele não quer ter filhos, mas que ela quer muito. Falou que não tem emprego, que ganha uma mesada do pai, que faz um curso de idiomas e aulas de pintura, que não é muito feliz com ele. (Ela não dizia o nome dele, apenas “ele” e mesmo que dissesse eu não poderia escrever aqui, nem o dele nem o dela, rs).

Falou que quer se separar, mas que tem medo de não achar outro. E perguntou por que não me casei. Perguntou como se fosse uma situação definida. Não “por que não casei ainda”, por que não casei (fato consumado).

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Eu respondi “que não achei o cara certo, que na verdade nunca procurei direito, que faço mil coisas que me trazem felicidade. Que faço dois cursos à noite, que trabalho igual uma “camela”, que gosto muito de viajar, de escrever e de desenhar, que a caminhada sozinha não é ruim (claro que acompanhada seria melhor) mas não a qualquer custo, entende?” Ela concordou.

Disse que desse ano não passa, que vai largá-lo e mudar para Paris. Rimos muito! Realmente, sou uma péssima influência para as amigas casadas. Ela não devia ter sentado na minha mesa. Fim.




Advogada. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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