Quem não vê beleza no amor? Creio ser quase consensual a admiração das pessoas quando veem gestos de amor partindo de uma pessoa na direção de outra. Ações heroicas ou românticas – por amor – já renderam inúmeros filmes de cinema, por exemplo. Tão admirado é o amor, que muitos querem amar e serem vistos como amáveis. Porém, essa predisposição natural a uma entrega pelo outro não acontece tal como um treinamento. Diferentemente do que a prepotência humana diz muitas vezes, não somos nós que escolhemos o amor – embora possamos facilitar seu surgimento – mas é ele que nos escolhe.

Muita gente busca amar porque é algo muito prazeroso. Mas instituições religiosas e algumas correntes de pensamento do senso comum dizem que podemos treinar o amor. Se, por exemplo, me envolvo em um trabalho de assistência a pessoas necessitadas, a minha prática constante faria de mim uma pessoa naturalmente amorosa. Isso pode acontecer de fato? Certamente pode. Mas não é o ato em si de doar que vai fazer de mim uma pessoa que ama. Nada garante que essa prática vai resultar nisso.  Da mesma forma, muitas pessoas acham que se buscarmos um bom convívio com uma pessoa cuja convivência nos seja particularmente difícil, é possível que passemos a amar essa pessoa. Isso pode acontecer. Porém nada garante que se eu aceito paciente e constantemente ataques verbais pessoais de alguém da família eu vá, futuramente, estar em paz com isso e sempre pronto a fazer o bem por essa pessoa.

Em cada um de nós, toda a predisposição amorosa acontece naturalmente, como fruto de uma reação ao que recebo. Quando eu amo minha mãe, estou reagindo a muitas atitudes de carinho e cuidado que reconheço como oferecidas por ela ao longo da minha vida. Quando amo uma pessoa carente que ajudo em uma instituição, só o faço porque sinto estar recebendo amor, seja dessas pessoas ou da Vida, de Deus, etc. Só amo, quando me sinto amado. É uma reação natural a essa sensação.

Dessa forma, quando eu BUSCO amar, não estou sendo espontâneo. Não há uma reação, mas um cálculo. Agir a partir de um cálculo é assumir um personagem. Adotar um papel é algo que sempre gera muitos sofrimentos ao longo de uma vida, pois tem diversas consequências, como conflitos internos ou com os outros, depressão, medos, ansiedade…

Nenhum de nós tem controle sobre o amor que sentimos. Mas todos nós temos como escolher ser verdadeiros ou não. Eu sempre posso escolher assumir ou não pra mim mesmo o que estou sentindo e desejando, a cada momento. Se não gosto de alguém, por que não assumir isso? Se estou infeliz com determinada tarefa ou relacionamento, será que vale o esforço de fingir que nada está acontecendo? Não digo aqui que isso significa que devemos falar com o outro isso tudo, pois sempre vai depender de cada caso. Porém, se eu assumo corajosamente a minha verdade para mim mesmo, acabo tirando um peso enorme das costas. Posso assim tomar decisões mais adequadas. Passo a ser verdadeiro comigo mesmo.

Quando não tenho mais receio de ser honesto comigo mesmo posso perceber melhor o que sinto e busco. Assim sendo, ao longo da vida descubro que certas coisas que me acontecem geram em mim um desejo de retribuição. Seja um gesto de carinho de outra pessoa, um acontecimento agradável, o visual de um pôr-do-sol, uma música bonita, etc. Sim, tudo isso me faz me sentir amado, e meu impulso natural é amar também. Desejo naturalmente oferecer a outras pessoas essa mesma sensação de alegria que sinto com esses acontecimentos. As coisas que não me despertavam amor continuam não me despertando. Está tudo bem, sigo em frente, assumindo isso. Não há problema nenhum.

O amor que nos escolhe. Não posso jamais escolher amar fulano ou ciclana, amar determinada tarefa ou determinada cidade. Porém, posso escolher ser verdadeiro comigo mesmo. Por mais que muitas vezes minha realidade interior não reflita o que eu gostaria de ser, certamente ela mostra o que eu posso ser. Mostra o que sou. Só dessa maneira posso viver uma vida de verdade. Inclusive, amar de verdade.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

3 COMENTÁRIOS

  1. Oi Vitor, tudo bem? Legal escrever sobre esse tema! O amor é a essência de tudo, da vida , do ser e estar bem. Amor é doação e não retribuição! Não amamos sempre quem nos ama, caso contrário não existiriam amores não-correspondidos e não existiria o amor incondicional, que existe e é real, é prática. Pois o amor é um estado, ele esta latente dentro de nós , todos seres amam, desde o que nos é simpático ao que não nos é simpático, mesmo um criminoso ama alguém. Como você disse, não tem nada demais você escolher quem ama, e isso é a o estágio inicial. O amor mais pessoal, condicionado à algo, alguém, mas existe o amor incondicional, o amor ao próximo. Amar quem nos dá amor é fácil. Amar aquele que está mal, que só faz besteira e precisa se encontrar na vida que é difícil. Quem se encontra em estado de amor não se importa se recebe de volta amor, a retribuição já está acontecendo naquele momento, de estar se doando, sendo a diferença para alguém, pois quanto mais você dá amor, mais você é amor e assim essa energia volta de várias maneiras. Você sabe que tudo é energia e tudo vibra, e as vibrações de alta freqüência atraem as mesmas vibrações. Amar não é querer estar ao lado, querer ficar junto, retribuir um favor, amar é querer o bem, se importar com o bem estar do outro, independentemente de quem seja, mesmo estanho, é se doar de alguma maneira. O amor é mais simples do que as pessoas pensam. É respeitar mesmo não concordando, é entender aquela dor e tentar amenizar, é olhar nos olhos e dizer “você não está sozinho eu posso te ajudar nesse momento”…enfim…Portanto é dando que se recebe, ação e reação, quanto mais nos doamos mais nos sentimos cheios de bons sentimentos e de amor. Para nos sentirmos bem é importante ser verdadeiro com a gente mesmo como falou, e isso varia de pessoa para pessoa, quanto mais egoísta e individualista mais a pessoa espera retribuição e menos se doa, querer doar é escolha, e sabemos que a repetição da ação se transforma em hábito, certo! Um grande abraço!! 😉

  2. Que delícia de texto. há tempo venho buscando novas ideias sobre amar, porque essa história de que “amor é uma escolha” não engulo. rsrsrsrs
    Parabéns pelo texto!

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