O longa brasileiro VIPs, que tem como protagonista o ator Wagner Moura, conta a história real de Marcelo Nascimento da Rocha, que hoje cumpre pena por estelionato em Goiás.

Ele foi condenado à prisão em regime fechado por aplicar vários golpes. Fingiu ser oficial do Exército, guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii e herdeiro da empresa de linhas aéreas Gol. Até entrevista para o apresentador Amaury Júnior ele deu, fingindo ser uma das identidades criadas por ele próprio.

Nesta entrevista ao iG , a psiquiatra presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria do Rio de Janeiro, Fátima Vasconcellos, aborda quando as mentiras contadas em série configuram doença (chamadas na literatura de mitomania ou pseudolelia).

Ainda não foram divulgadas evidências de que Marcelo Nascimento da Rocha é portador de distúrbio psiquiátricos, mas a médica explica que o hábito de mentir em demasia pode ser sintoma de um transtorno de personalidade.

“Há uma diferença crucial entre o mentiroso compulsivo e o mentiroso consciente”, afirmou.

A seguir, confira a entrevista.

Mentir muito pode ser sinal de doença?
Fátima Vasconcellos:
Alguns quadros podem configurar sintomas de transtornos de personalidade. O histórico de mentir compulsivo aparece em psicopatas, por exemplo, e diferentemente do que a maioria pensa, psicopata não é somente assassino em série. Existem os psicopatas corporativos, que são aqueles que não têm pudor em cometer todo e qualquer tipo de falcatrua, passam por cima de seus colegas e familiares em prol do lucro pessoal ou da empresa. Existem ainda pessoas que têm transtornos de personalidade antissociais, que mentem para se aproveitar de fragilidades dos outros. Um exemplo é sedutor que conquista a mulher só para dar um golpe nela. Lembrando que o mentiroso compulsivo não necessariamente é homem. Mulheres também sofrem deste transtorno.

Mas se todos forem sinceros vão admitir que mentem vez ou outra. Mentir não é essencial para viver em sociedade?
Fátima Vasconcellos
: Existem as chamadas “mentiras sociais”, aquelas que falam que o cabelo da amiga ficou ótimo mesmo estando horrível. Nem sempre as mentiras sociais são usadas para o bem. Vendedores de loja por usam deste artifício só para vender. Mas não é um problema de saúde psíquica caso não traga danos sérios para outras pessoas.

A infidelidade recorrente em relacionamentos amorosos pode configurar uma mentira compulsiva?
Fátima Vasconcellos:
Não necessariamente. Um mentiroso compulsivo é diferente do mentiroso consciente. O ponto crucial entre um e outro é que o primeiro mente em todas as áreas de sua vida: trabalho, amor, amigos e família. Mente tanto que até acredita em suas mentiras, no mundo paralelo que cria para si. Já o mentiroso consciente sabe que não está falando a verdade. Mente para ter um benefício específico. Fala que não traiu só para manter a relação. Políticos que enganam a população para manter o cargo ou perpetuar o poder sabendo que estão mentindo. É diferente.

 Mentir vicia?
Fátima Vasconcellos:
Não sei se o termo é vício. Mas existem pessoas que não sabem se relacionar sem mentira. Aprendem este comportamento em algum momento da vida, para se protegerem ou se beneficiarem, e vão repetindo ao longo do caminho. Vira uma muleta eterna. Existem compulsivos pela verdade também, a relação é a mesma.

Existe tratamento para o mentiroso compulsivo?
Fátima Vasconcellos:
É muito difícil este paciente procurar ajuda especializada para tratar este sintoma. Primeiro porque ele não se acha doente e não acha que faz mal a ninguém. O tratamento só acontece caso ele seja preso por isso ou tenha algum impacto muito devastador. Quem sofre mais são as pessoas que convivem com as mentiras.

 (Autor: Fernanda Aranda, iG São Paulo)



A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui