Talvez nunca consigamos nos conter nos momentos de raiva, calando-nos para não magoar com ofensas agressivas que machucam no fundo da alma. Por mais que tentemos, jamais conseguiremos verbalizar racionalmente o que sentimos nos momentos em que temos tudo dentro de nós, menos alguma coisa boa. Porque raiva verbalizada muitas vezes fere mais do que a violência física.

Talvez porque engulamos demais e por muito tempo o que sentimos, porque não temos coragem de expor nossos pensamentos na hora adequada, ou porque temos dificuldade de dizer não, por medo de desagradar, acabamos acumulando um monte de contrariedade aqui dentro. Então, quando somos dominados pela raiva, isso tudo acaba saindo de forma distorcida, visto que carregado de rancor demorado.

Muitos dizem que é nessas horas que conseguimos ser verdadeiros e dizer o que temos e o que somos realmente. No entanto, mesmo que exista alguma sinceridade nas ofensas, é de se duvidar que possamos ser tão frios a ponto de magoar quem quer que seja, de forma agressiva, só para desabafar.

Todo mundo tem o direito de falar o que pensa, mas o respeito não poderá se afastar disso tudo, ou se quebram laços afetivos, muitas vezes de forma imperdoável.

Geralmente, quem esbraveja e vocifera violência verbal nos momentos de destempero acaba até nem se lembrando direito do que disse, embaralhado que estava sob o calor do momento. Porém, quem ouve, quem é atingido, quem é agredido jamais se esquecerá do que veio ao seu encontro, machucando fundo seus sentimentos. Sempre ficará no ar aquela dúvida quanto à veracidade das palavras ouvidas.

É preciso exercitar a fuga aos momentos de raiva, tentando ficar sozinho, calado e distante nesses momentos, para não ferir ou ferir-se. Caso já se tenha falado mais do que deveria, de forma violenta e dolorida, nunca será demais o pedido de desculpas, se sincero, verdadeiro. Vale muito, também, tentarmos nos colocar no lugar do outro, entendendo o que ele sentiu ouvindo o que dissemos.

Sim, a sinceridade é uma característica positiva, que pode nos salvar e nos libertar, desde que não tenhamos que ferir ninguém com ela, desde que ela seja parte integrante de nossa vida e não uma válvula de escape que é acionada somente quando estamos de saco cheio. Porque ninguém permanece igual após o confronto com o pior de si e do outro – e todos podemos perder, e muito, por isso.




Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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