As drogas são definidas como toda substância, natural ou não, que modificam as funções normais do organismo. A palavra “droga” remete as ilícitas, as quais apesar de serem proibidas, podem ser vistas facilmente nas mãos de pessoas que moram nas ruas, como também as que frequentam festas da “elite juvenil”, evidenciando que são presentes em todas as camadas sociais. Há que se pensar que existem também uma série de drogas licitas, como álcool e tabaco, mas afinal, o que define algo como “droga”? Talvez possa se pensar na marca do excesso. (BIRMAN, 2006)

Desde os povos da antiguidade, em diversos contextos e culturas, as substancias psicoativas estiveram presentes, com fins terapêuticos, religiosos, festivos, entre outros. De fato, o ser humano sempre buscou desafiar o próprio corpo e mente, assim como curar males e dores. A questão do uso de drogas é complexa, podendo se repensar aquela velha frase “A diferença entre o remédio e o veneno é apenas a dose”. Já ouviu?

A marca da dependência de algo é a exclusão social, seja do viciado em álcool, comida, psicoativos, entre outros. A sociedade fuzila com olhares aquele que claramente goza e sofre por um vicio que traz reflexos visíveis, porém muitos podem ser bastante silenciosos. O julgamento constante do adicto como um “caso irremediável” ou “sofrendo por desejo próprio” dificulta o trabalho de recuperação destes pacientes que sofrem diante da dependência, que na verdade é apenas um sintoma de um ser humano com muitas subjetividades. O vicio seria como “a ponta do iceberg” de uma história de vida marcada por vazios e sentimentos de desamparo.

Freud (1930) diz que o homem procura meios de evitar o desprazer, assim o modo mais eficaz e “grosseiro” de não sentir a dor seria a intoxicação. Para o dependente químico é muito difícil falar sobre as suas angústias, busca lidar com elas de um modo mais fácil para “esquecê-las”, o que é natural ao ser humano fazer. O uso da droga seria um meio de vivenciar seu mal-estar, cada um elege suas drogas e vícios, a diferença está no quão danoso este é para o usuário e quem convive com ele.

O excesso marca o vício e dependência, assim a sociedade que antes era marcada pelas proibições e rigores, hoje é marcada pelo excesso e isso gera intenso mal-estar. As drogas passam a existir na vida daquele sujeito como forma de prazer corporal instantâneo.

Aquele que se viciou em uma substância, vivendo diante dela certa impotência, é alguém que encontrou um prazer extremo, porém aniquilador. Um trabalho psicológico deve levar em conta a relação deste usuário com a substância, entendendo como esta foi eleita, quais os prazeres e desconfortos que provoca nele e quem o cerca, além de muitos outros pontos que devem ser tocados com delicadeza e empatia. Afinal, aquele ser sofre psiquicamente por sua dependência e falta de controle.

Um olhar acolhedor e subjetivo pode fazer a diferença, já que cada usuário parece desaparecer, assim ele se torno o “viciado em…”, fazendo com que o paciente se identifique com aquele papel de “doente incurável”. A psicoterapia seria um espaço para este ser poder se constituir e resignificar estes vazios e dores intensos.

O dependente é um escravo do vicio, uma overdose ou intoxicação poderia ser então pensada numa tentativa voraz em suportar o mal-estar. Diferentemente de outras abordagens mais intervencionistas, para a psicanálise, a recomendação de melhora não significa abstinência ou não-abstinência, porém o entendimento do desejo inconsciente que habita aquele ser e o faz repetir esse modo de prazer e dor.

Referências:
BIRMAN, J. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006
FREUD, S. Mal-estar na civilização. (1930). In: FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Direção de Tradução Jayme Salomão. 2. ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1986, v. 21.
ZIMERMAN, D. E. Manual de técnica psicanalítica – uma re-visão. Porto Aelgre: Artmed, 2004




Psicóloga, estudante de Psicanálise. Colunista do site Fãs da Psicanálise.

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