Era um dia frio de inverno e estávamos eu e meu marido fazendo um curso de imersão em um hotel distante de nossa cidade.

Na hora do retorno, uma das participantes sentiu-se mal e como estava com seu próprio carro, ficamos preocupados em como iria retornar, pois não tinha condições de dirigir. Então ela perguntou ao meu esposo se ele poderia guiar seu carro no retorno e ele responde que infelizmente não, pois não dirigia, mas que sua esposa (no caso eu) certamente poderia.

Ela fez uma cara de espanto e prontamente agradeceu e recusou-se.

Trago este breve relato para contextualizar o que infelizmente ainda é a realidade para a maioria de nós mulheres: a falta de credibilidade e confiança em nosso poder pessoal e capacidade.

E me refiro ao que acreditamos a respeito de nós mesmas e das demais mulheres.

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Ainda possuímos uma insegurança histórica, resquício dos anos de submissão e dependência financeira e emocional da presença masculina.

E é fato (comprovado pela ciência) que quando se trata de gênero, homens são vistos com maior competência apenas pelo fato de serem homens. E os dois grupos tendem a acreditar nisso.

Julgar que não somos boas o suficiente nos coloca em situação de inferioridade de alguma forma.

Claro que não estou generalizando, mas convido você a observar no ambiente ao seu redor e perceber o quanto isto ainda está nas entrelinhas do nosso dia a dia.

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Ai você poderá me dizer: mas existem diversas mulheres fortes, que demonstram muita segurança no que fazem e impressionam por sua superioridade.

E a minha resposta para você é:

Se esta mulher estiver vivendo plenamente seus valores, seu propósito de vida, aquilo que realmente faz o coração dela vibrar, ok, ela superou de verdade a insegurança feminina e acredita que tem o direito de fazer o que ama e a faz feliz.

Maaaaas,

Se ela vive angustiada, querendo a todo momento provar o seu valor através do papel de super mulher, eu lhe afirmo: ela ainda precisa se autoafirmar de alguma forma.

E tem uma necessidade inquietante de atender as expectativas de todos a sua volta, esquecendo muitas vezes das próprias vontades e anseios.

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E isto não é nada bom. É uma postura que nos distancia de nós mesmas e faz com que percamos muito em autoestima e autovalorização.

A premissa de que a mulher não é boa o suficiente para determinado assunto é apenas uma lenda que nos foi contada por gerações e que aos poucos estamos transcendendo, mas que precisamos aprender a recontar para nossos filhos e filhas.

Nós mulheres somos responsáveis pela forma que com que nos impomos ou não para a sociedade.

E isto não quer dizer que sejamos culpadas por estas histórias malucas de inferioridade que nos convenceram. Mas somos sim, responsáveis por não comprá-las e não deixar que elas se perpetuem.

Existem atualmente milhares de iniciativas que se dispõem a acabar com estes estigmas horrorosos que ainda persistem na sociedade de que mulheres não são capazes para algo.

Ações que buscam empoderar e inserir mulheres para o empreendedorismo, a tecnologia e ferramentas de programação (que trata-se historicamente de um campo masculino), a inserção de mulheres no campo das Ciências Exatas, entre muitas outras iniciativas, estão tomando espaço cada dia maior.

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Pensar em introduzir a mulher nos diversos contextos e oferecer a ela um olhar de credibilidade e confiança é um desafio necessário para o desenvolvimento e a consolidação da qualidade de vida em um cenário coletivo.

De acordo com a ONU Mulher (entidade das Nações Unidas responsável pela promoção da Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres) o empoderamento feminino é quem garante o crescimento efetivo da economia e o desenvolvimento humano de uma nação, o impulsionamento dos negócios e a melhoria da qualidade de vida global.

Nós mulheres somos provedoras, maternas e empáticas por natureza e são estas as qualidades e potencialidades que viabilizam este crescimento.

Mas para isso, precisamos ser totalmente sabedoras de nossos valores internos e estarmos seguras de nossas potencialidades e capacidades.

Preparadas para oferecer ao mundo nossos melhores dons, de maneira otimista e confiando umas nas outras, desenvolvendo a união necessária para nos fortalecermos e conquistarmos nosso espaço.




Semadar Marques, palestrante, educadora e analista em inteligência emocional. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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