A persona é um arquétipo, que possui como função básica a adaptação do individuo com o mundo externo. É uma função psíquica que ajuda na adaptação social, nos relacionamentos e nos intercâmbios entre as pessoas

Seu nome é inspirado pelo termo romano para designar máscara. A máscara que os atores utilizavam no antigo teatro greco-romano.

Portanto, ela simboliza o rosto que usamos para o encontro com o mundo que nos cerca.

Jung (2008) define persona como:

“A palavra persona é realmente uma expressão muito apropriada, porquanto designava originalmente a máscara usada pelo ator, significando o papel que ia desempenhar. Como seu nome revela, ela é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando, na realidade, não passa de um papel, no qual fala a psique coletiva.”

A persona é muito importante e não significa necessariamente falsidade. Afinal de contas nós não podemos nos comportar no trabalho da mesma forma que nos comportamos em um barzinho com os amigos. Se fizéssemos isso, perderíamos nossos empregos.

A persona está a serviço da individuação, pelo lado positivo, pois mostra nossas aspirações, nosso desejo de reconhecimento e ela pode ser o caminho para a manifestação do Self.

Essa é construída pela educação; começando na família de origem, na escola, na cultura em que se está inserido, entre outros fatores.

A verdade é que saber usar no momento adequado a persona é educação e auxilia o individuo com uma facha mais polida, pois a vida exige diversas adaptações. Ela impulsiona a movimentação em direção ao coletivo.

Essa instância psíquica só passa a ser prejudicial quando o ego se identifica apenas com um papel. Se afastando a ponto de se esquecer de sua verdadeira essência.

Um exemplo disso é o homem de negócios que leva trabalho para a casa e não dá a devida atenção à família, a ponto de terminar sendo abandonado por ela.

Sobre outro efeito negativo da persona Jung (2008) diz:

“A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. Só quem estiver totalmente identificado com a sua persona até o ponto de não conhecer-se a si mesmo, poderá considerar supérflua essa natureza mais profunda. No entanto, só negará a necessidade da persona quem desconhecer a verdadeira natureza de seus semelhantes. A sociedade espera e tem que esperar de todo indivíduo o melhor desempenho possível da tarefa a ele conferida; assim, um sacerdote não só deve executar, objetivamente, as funções do seu cargo, como também desempenhá-las, sem vacilar a qualquer hora e em todas as circunstâncias.”

Enquanto arquétipo, a persona está contida no inconsciente coletivo. Portanto, ela possui certa autonomia em relação ao ego, podendo “engoli-lo”, a ponto de fazer o individuo se comportar de uma forma unilateral em todas as situações externas, o que gera grandes problemas de adaptação social.

A identificação com a persona, por parte do ego leva a uma perda dela, pois ai se manifesta outro arquétipo, o da sombra, que constela de forma a compensar a atitude unilateral do ego.

Como mediadora entre o ego e o mundo externo a persona forma um par de opostos com a anima (ou animus), que são os mediadores entre o ego e o mundo interno. A persona se ocupa com a adaptação do individuo ao coletivo, já a anima/animus estão ocupados com a adaptação àquilo que é pessoal, interior e individual.

Tanto persona, como anima, animus e sombra não são a totalidade psíquica, são complexos dentro da psique total. E como complexos eles podem nos tomar a qualquer momento.

A persona pode diferir em muito da personalidade verdadeira do ego, no entanto, estar consciente de que é apenas um papel que se está desempenhando em prol da adaptação ao coletivo e de que isso não vai interferir na vida privada, traz benefícios.

Um ego bem estruturado relaciona-se com o mundo exterior através de uma persona flexível; alavancando o desenvolvimento psicológico e o amadurecimento.

A palavra de ordem, então, para o ego passa a ser flexibilidade. Flexibilidade para colocar a devida máscara no momento certo e aprender a tirá-la quando devido e relaxar dos papéis sociais.

Quando o ego se compromete excessivamente aos ideais coletivos, a persona passa a mascar a individualidade mais profunda. Nesse caso a dissolução da identificação com o papel exercido é extremamente necessária para o processo de individuação.

Ao longo da vida muitas personas serão usadas, muitas máscaras serão colocadas. Faz parte do processo de individuação reconhecer as máscaras que usamos em cada momento, mas também devemos buscar aquilo que há de mais individual em nós, aquilo que ninguém pode copiar, pois é único e exclusivo.

Referência Bibliografica:

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.




Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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