Silêncio. Talvez não haja uma atitude humana mais angustiante quanto essa nos dias de hoje.

Na era da informação, em que precisamos ser felizes, bem resolvidos, comunicativos e etc, a ausência de som é um verdadeiro enigma cotidiano a abalar muitos de nós.

Quantos já não nos inquietamos com a presença silenciosa de alguém ou com a demora na resposta de uma mensagem visualizada no celular?

Muito da nossa vida cotidiana se baseia na comunicação verbal. Conseguimos suprir necessidades materiais e emocionais através da fala. Esta também é o meio pelo qual damos e recebemos informações, nos mostramos ou fingimos ser alguém, dentre outras possibilidades.

É troca. Trocar com o meio não só é saudável, é fundamental para a sobrevivência e a evolução da existência humana. Entretanto, de alguma forma, o desejo de se interar com os outros e de imprimir velocidade à vida, retira a naturalidade diante de um dos aspectos absolutamente fundamentais da comunicação: o silêncio.

Tudo na natureza apresenta momentos de expansão e outros de retração. Antes de chegar a ventania de uma frente fria, sempre existe um dia de ar mais parado. Antes da chegada das ondas em uma praia o mar sempre recua. Antes de iniciarmos um dia ativo necessitamos de uma noite de calma e descanso. Da mesma forma ocorre com a comunicação verbal humana.

Existem momentos de fala absoluta. Novidades acontecem, duvidas surgem, medos aparecem, desejo de troca surgem… enfim, diversos são os motivos que nos fazem querer falar.

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Faz bem colocar para fora o que pede para sair, tanto que a expressão do cliente é um elemento fundamental na Psicologia Clínica. Mas existe uma hora em que não há mais novidade, não pulsa uma dúvida, não há desejo de troca, e a pessoa silencia.

Momento em que a necessidade é de sentir, de curtir alguma coisa em silêncio, seja uma música ou mesmo um mergulho em si mesmo e nos próprios sentimentos. Muitas vezes não há nada relevante implícito naquela pausa, é apenas um momento de intervalo e de interiorização, que pode ser curto ou longo. O silêncio, assim como a fala, faz parte da interação humana.

Porém, essa pausa gera normalmente angústias. Quando vejo a outra pessoa em silêncio, acabo projetando diversos receios e questões minhas sobre ela. Pensamentos como “será que fulano parou de falar por não me suportar?”, “ele deve estar se achando muito, não quer nem papo comigo”, “olha como ele sofre, coitadinho, nem tem assunto…”, e outros do tipo “caramba, preciso falar algo, ou ele vai me achar sem graça”, “ah, que saco, não quero falar, mas preciso falar pra ser simpática com ele”, são possíveis de ocorrer.

Buscamos encontrar uma causa para o silêncio do outro ou queremos romper de qualquer forma com ele, por achar essa pausa desagradável ou indesejável. Muitos de nós crescemos sem entender ou sentir o valor do silêncio, e achamos se tratar de algo quase prejudicial. Quando na verdade, é tão necessário quanto a noite é importante para completar o dia.

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Fala excessiva, sem momentos de pausa, pode sinalizar ansiedade forte, desejo grande de fugir da própria realidade existencial. Silêncio excessivo, sem momentos de fala, pode sinalizar desejo de fugir do mundo e das pessoas, o que também não é saudável, pois precisamos interagir para suprir necessidades.

Quando acaba o assunto… é hora de curtir uma outra forma de interação. A interação silenciosa, que quando não é angustiante para nenhuma das partes, possibilita muitas vezes uma conexão indescritível com a outra pessoa. Sim, difícil descrever, pois não passa por um assunto em comum ou uma concordância de ideias, ou por uma piadinha.

Mas se trata de uma aceitação plena do outro, de seus momentos de expansão e de retração. Fica implícito: “Aceito e gosto de seus assuntos, mas também gosto do seu silêncio. Te respeito, te aceito e te gosto em sua totalidade.”

Quando acaba o assunto é hora de respirar. É hora de permanecer e se aceitar. É hora de conhecer o outro. É hora de se conhecer.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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