Na nossa sociedade, muitos psicopatas chegam ao poder e assumem cargos de alta responsabilidade porque puxam o tapete dos colegas e praticam ações insensíveis sem nenhum constrangimento ou culpa. A falta total de sentimento de culpa é outro traço marcante da psicopatia. Sentimento de culpa exagerado é algo negativo também, típico dos neuróticos. Por outro lado, não sentir culpa de nada, mesmo quando prejudicamos as pessoas, é um sintoma muito grave. Por ação insensível, não se entende apenas atos ilegais ou que contrariam a ética. Entende-se também atos dentro da legalidade, mas que desconsideram totalmente os valores humanistas. Muitos líderes corporativos mutilam a dignidade humana dentro da lei.

Sempre defendo, em meus artigos e também em sala de aula, a ideia de que o cinema é uma fantástica ferramenta para quebrar tabus e preconceitos. Por outro lado, defendo também o pensamento de que filmes mais comerciais podem fazer o contrário: reforçar padrões preconceituosos e estereotipados, além de pregar ideias de forma simplista.

Obviamente, que nem todo filme comercial cumpre a função de reforçar preconceitos e transmitir ideias simplistas. Alguns servem apenas para entreter mesmo, sem causar nenhum prejuízo. Outros até tocam em questões interessantes de forma mais simples e acessível.

No atual artigo, gostaria de falar um pouco sobre a forma que o cinema mostra os psicopatas. Quase sempre eles surgem como assassinos em série, sedentos por sangue. Mas, na realidade, a maioria esmagadora dos psicopatas não derrama uma gota de sangue por toda a vida. Os capazes de assassinar são os casos mais severos do transtorno e são minoria na sociedade.

Sabemos que mostrar assassinos em série proporciona mais interesse e consequentemente mais audiência. Mas, seria interessante, o cinema e as artes de um modo geral, tratar sobre este tema com mais senso de realismo para alertar as pessoas sobre típicos traços de um psicopata. Obviamente, que não devemos sair por aí dizendo que fulano é psicopata porque tem um ou dois traços típicos de um psicopata, até mesmo porque todos nós temos diversos traços de diversos transtornos. Ter traços Borderline ou de psicopatia ou de qualquer outro transtorno não nos torna necessariamente Borderline, psicopata ou qualquer outra coisa.

Por outro lado, saber reconhecer que certas atitudes devem ser evitadas porque são erradas, porque indicam alto grau de manipulação, é benéfico para todos. Não apenas para nos defendermos de pessoas manipuladoras, mas também para procurarmos ajuda especializada caso percebamos que nós mesmos estamos assumindo atitudes vitimistas, egoístas, autodestrutivas e passíveis de um tratamento psicológico.

Psicopatas são incuráveis. Mas quem passou intimamente pela vida de um deles pode ser beneficiado pela terapia, pois conviver de perto com psicopatas deixa marcas profundas, pois derramar sangue não é a única forma de assassinar alguém.

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Os psicopatas têm baixa ação no sistema límbico. O sistema límbico é o que chamamos popularmente de coração. Enfim, são incapazes de sentir empatia. Não conseguem se sensibilizar com o drama alheio. Por outro lado, costumam ser inteligentes e muito racionais, sabendo fingir emoções que não sentem.

Uma das grandes marcas do psicopata é usar a capacidade de sentir dos outros para obter favores. Muitos psicopatas se aproveitam da boa alheia para conseguirem tudo o que desejam sem praticar nenhum tipo de esforço ou sacrifício. Em relações amorosas, apenas recebem, mas nada ou quase nada dão em troca. E quando o parceiro não é mais útil, os dispensam sem nenhum tipo de remorso ou sofrimento.

Certa vez, ouvi um relato assustador. Um homem psicopata deixou a esposa, mãe da filha dele, após três anos de casamento. Disse que nunca a amou, que apenas se casou com ela pois ela era atraente e preenchia os requisitos para proporcionar a ele uma boa imagem social. Enfim, as palavras não são exatamente essas, mas a mensagem sim.

Leia Mais: Características de Psicopatas: eles são distraídos, não insensíveis, diz pesquisa

Na nossa sociedade, muitos psicopatas chegam ao poder e assumem cargos de alta responsabilidade porque puxam o tapete dos colegas e praticam ações insensíveis sem nenhum constrangimento ou culpa. A falta total de sentimento de culpa é outro traço marcante da psicopatia. Sentimento de culpa exagerado é algo negativo também, típico dos neuróticos. Por outro lado, não sentir culpa de nada, mesmo quando prejudicamos as pessoas, é um sintoma muito grave. Por ação insensível, não se entende apenas atos ilegais ou que contrariam a ética. Entende-se também atos dentro da legalidade, mas que desconsideram totalmente os valores humanistas. Muitos líderes corporativos mutilam a dignidade humana dentro da lei.

Alguém pode receber o diagnóstico de psicopata apenas a partir dos 18 anos, mas na infância e na adolescência, já podemos detectar traços psicopatas por meio de jovens que machucam animais e maltratam outras crianças: o famoso bullying. Exemplos de bons filmes que mostram psicopatas não assassinos são: Ligações perigosas, o cheiro do ralo, Garota interrompida e Uma garota dividida em dois. Neste último, de Claude Chabrol, um homem maduro se aproveita do amor de uma garota para fazê-la passar por inúmeras experiências sexuais humilhantes.

Enfim, da próxima vez, que você pensar na palavra psicopata, tenha em mente de quem nem sempre ele está munido por um facão, pronto a te esquartejar. Talvez, tudo que ele faça é cortar o seu “coração” em pedacinhos, executando um projeto profissional da sua autoria sem te dar crédito, te negando uma promoção merecida porque você não quis ter relações sexuais com ele ou simplesmente ignorando o seu sofrimento porque não consegue sentir empatia.




Profa. doutora , idealizadora da Pós em Cinema do Complexo FMU, escritora e psicanalista. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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