Existem situações muito singulares às quais a Vida nos oferece a viver, e uma delas é o falecimento de alguém próximo. É um momento dos sentimentos mais diversos e confusos. Vem a saudade de quem foi, o medo da suposta solidão gerada pelo vazio que ficou. Em alguns casos, alívio, em outros, raiva. O que faz desse momento uma vivência tão singular?

A pessoa que se foi ocupava um determinado lugar. E não somente um lugar em uma poltrona ou em uma cama, mas um lugar na mente e no coração de quem fica. As preocupações diárias, os planos, os agrados, as desavenças e as discordâncias passavam por alguém que não mais está presente de maneira visível. Então quando alguém falece, seja em circunstâncias esperadas ou inesperadas, gera certo atordoamento nos pensamentos e emoções de quem fica.

E não há o que se fazer diante da morte. Não há uma solução que vá preencher esse espaço tão singular daquela pessoa que me despertava tantas coisas. Posso de certa forma dizer que uma parte de nós mesmos se vai junto a quem partiu. O que se pode oferecer a alguém que perdeu uma parte de si mesmo? Apenas atenção, acolhimento. Esse processo, conhecido como luto, só pode ser vivido sozinho, mas muitas vezes a presença de alguém próximo facilita a vivência desse momento. Quando uma pessoa é acolhida ela se sente mais livre para entender e aceitar, com o tempo, o que aconteceu.

Portanto, se você está vivendo esse momento de perda, de saudade, de vazio, se permita. A saudade é um clamor de dor diante do vazio, que precisa se acalmar com o tempo. E ela se acalma. Talvez nunca suma, mas ela se acalma. É importante identificar o momento em que a vida ganha novo fôlego e transformar a energia que você direcionava para essa pessoa que se foi em novos planos, projetos, ou na direção do bem de alguém. De alguma maneira, quem partiu permanecerá junto a ti, na forma de energia voltada para o seu bem-estar e o de quem está a sua volta.

A morte é a faceta oculta da vida, sempre presente. Se não há a morte de alguém próximo, há a morte de planos, de relacionamentos, de pensamentos, e inúmeras outras. Tudo morre para dar lugar a algo novo. A morte, graças a seu movimento, é o que gera a vida. A vida, por sua vez, gera a morte, pois tudo que nasce tem um ciclo que culmina em um final.

A dor maior, com o tempo, passa. A pessoa que partiu permanece presente em forma de saudade e energia criadora. E a vida – em parceria com a morte – segue soberana, acolhendo a todos nós.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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