A dor pede, sim, silêncio, não desses que deprimem, mas daqueles que pausamos para continuar, estações de parada antes de seguirmos viagem, pede, também, companhia, esclarecimentos sobre o que perdemos e o que fica quando alguém sai de nossas vidas. A dor pede para fazermos as pazes com o futuro combinado e não acontecido.

Histórias vividas, que nos dizem quem somos, falam das nossas construções. Lugares onde aprendemos a amar, onde descobrimos as rejeições, raivas e alegrias. Amores que, primariamente, nos ensinam que a vida é esse movimento de sim e não, quero e recuso, amo e odeio, chego e me despeço. Amores que relatam nossa força quando somos frágeis e nossa fragilidade quando precisamos, continuamente, ser fortes.

Adoecemos, quando alguém sai de nossas vidas e nos despedimos de nós mesmos, levando o direito de amanhecermos. Adoecemos, quando as janelas do quarto não se abrem, os lençóis não são esticados, a louça se acumula na pia, dias em que as miudezas da vida gritam sobre nossa ausência, sim, é preciso retirar os escombros, apesar dos arranhões e cicatrizes, brigar com as demolições, retirar os tijolos possíveis e recomeçar de onde não deu mais, recomeçar das despedidas, do amor que não deu certo, do desemprego. Recomeçar de onde doeu.

Nós, brigando com os combinados da vida, amores que se rompem ou não acontecem, a pele que enruga, o corpo que engorda, a promoção que não veio, a aposentadoria que sussurra sobre a vida que passou. Nós, esperando grandes acontecimentos para enxergar os ipês que florescem, nós desacreditando que a vida é, sim, feita de miudezas, pequenas grandes miudezas e que nosso mesmo, só o instante presente.




Psicóloga Clínica Especialista em Família pela PUC SP, especialista em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia SP.

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