Durante toda a história da humanidade, o homem, mesmo não tendo consciência disso, procurou manter um relacionamento com o inconsciente coletivo e os arquétipos.

Entre os povos antigos isso se dava por meio da análise dos sonhos e das histórias contadas ao redor de fogueiras.

Os contos de fada, assim como os mitos, falam a linguagem da alma. São similares aos nossos sonhos, as nossas fantasias.

Observe qualquer menina quando tem o contato com os contos pela primeira vez. Elas se encantam com as princesas, com as fadas, com as rainhas. Elas vivem aquilo em suas brincadeiras, em sua fantasia.

Quando nos tornamos adultos perdemos esse contato, dando primazia à consciência, e parte desse mundo arquetípico vai para o inconsciente.

Mas retomar a leitura e a compreensão dos contos, pode se tornar um refrigério para a alma. Neles podemos resgatar impulsos, sonhos e instintos perdidos.

Marie Louise Von Franz, uma das maiores expoentes no estudo dos contos de fada, diz que os contos são a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo, pois eles representam os arquétipos na sua forma mais simples, plena e concisa. Muito mais que a Mitologia!

Em sua obra A interpretação dos contos de fada, ela distingue os contos dos mitos.

“Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado, atingimos as estruturas básicas da psique humana através de uma exposição do material cultural. Mas nos contos de fada existe um material cultural consciente muito menos específico e, conseqüentemente, eles espelham mais claramente as estruturas básicas da psique.”

Portanto, os contos estão em uma camada mais profunda da psique coletiva.

Ainda na mesma obra Von Franz diz:

“Para mim os contos de fada são como o mar, e as sagas e os mitos são como ondas desse mar; um conto surge como um mito, e depois afunda novamente para ser um conto de fada. Aqui novamente chegamos à mesma conclusão: os contos de fada espelham a estrutura mais simples, mas também a mais básica — o esqueleto — da psique.”

Como atualmente carecemos de mitos, um retorno aos contos de fada tem se feito presente com uma força tremenda. Basta observar a quantidade de filmes e séries, sobre o tema, que estão sendo produzidas atualmente.

No trabalho psicoterápico, as imagens dos contos servem para ilustrar situações de vida, nas quais as pessoas passam. Muitos se identificam com determinada situação ou personagem levando a uma compreensão do que deve ser feito no momento.

Os contos possuem a mesma função dos sonhos. Eles podem confirmar, criticar, compensar e até mesmo curar uma atitude consciente, desde que o individuo se abra àquele ensinamento.

Sua linguagem, assim como as dos sonhos, dos mitos e lendas, é simbólica por isso a sua escuta e leitura, possibilita que a psique se manifeste. Ativando processos inconscientes e facilitando a integração desses conteúdos psíquicos afetados com a consciência.

Por isso, o conto de fada, e seus personagens, sempre tem a ver com cada um de nós, mesmo que não gostemos de reconhecer as bruxas, ogros, madrastas e vilões dentro de nós. Mas eles estão ali, nos mostrando nossas sombras, medos e conflitos internos.

Essas histórias, portanto, trazem o mundo dos arquétipos para o nosso dia a dia, elas dão sentido a vida! Mostram-nos como viver o nosso destino, passando por momentos felizes, de conflitos, de perdas, mas que se nos abrirmos ao aprendizado desses momentos iremos encontrar o tesouro interno. Aquele que irá enriquecer as nossas vidas e nos encher de significado.

(Autora: Hellen Reis Mourão,é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas.

Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ)

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Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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