João e o pé de feijão é um conto de fadas de origem inglesa. A versão conhecida mais antiga é a de Benjamin Tabart, publicada em 1807 e popularizada por Joseph Jacobs em 1890, com a publicação de English Fairy Tales. A versão de Jacobs é mais comumente publicada atualmente e acredita-se que seja mais próxima e fiel às versões orais do que a de Tabart (Fonte: Wikipedia).

Resumidamente a história conta que um menino, chamado João, vai ao mercado a mando de sua mãe com o fim de vender uma vaca. Quando a criança chega ao mercado, um estranho lhe propõe cinco feijões mágicos em troca do bovino. Barganha aceita retorna para casa com os grãos no bolso. Sua mãe se enfurece pela clara instrução de vender a vaca ter sido ignorada. Fora de si, ela joga os feijões pela janela, que caem na terra ao lado da casa deles.

Enquanto João dorme, os feijões germinam e dão origem a gigantes pés de feijão despontando no céu. Ao acordar, o menino escala o colossal feijoeiro e encontra a um castelo acima das nuvens, lugar habitado por um gigante que se alimenta de gente.

Protegido pela esposa do grandalhão, João consegue fugir, após surrupiar uma sacola de moedas de ouro. Retorna no dia seguinte para furtar a galinha dos ovos de ouro do gigante e novamente escapa ileso. No terceiro dia, João escala o feijoeiro de novo e tenta roubar uma harpa de ouro. Dessa vez, o gigante persegue João, mas o menino consegue descer o pé de feijão mais rapidamente e o corta com um machado.

João é um menino que vive sozinho com a mãe. A vida dos dois é de muita miséria. Vejam que João não possui a figura do pai, o que em termos psicológicos significa que ele precisará de um modelo masculino para construir sua identidade.

Nas culturas mais primitivas era comum o menino passar por um rito de passagem, onde deveria abandonar a mãe para a eliminação do ego infantil a fim de se tornar adulto. Pois se sabe que ficar preso a mãe significa não crescer e permanecer em uma miséria psicológica. Para isso é importante que ele renuncie a ligação com a mãe e a vaca simboliza justamente o matriarcado que agora já não lhe garante mais o alimento. É necessário que ele busque algo mais sólido.

O pé de feijão leva o menino ao céu que representa os valores do patriarcado, com suas leis e normas (vide Moisés que subiu ao Monte Sinai para conseguir a tábua dos mandamentos). Os feijões também o levarão a desenvolver sua personalidade, deixando-a mais completa.

Mas por incrível que pareça é pelas mãos da mãe que os feijões são plantados quando ela os joga fora. Isso significa que por vezes temos que esquecer nossos projetos e sonhos, e deixar que eles germinem por si só. Alguns processos psicológicos devem ocorrer no inconsciente sem que fiquemos o tempo todo observando e perguntando para que possam se manifestar na vida externa no tempo certo.

Pois bem, o pé de feijão cresce e João resolve subir e lá encontra um gigante. Os gigantes nos contos de fadas são conhecidos por serem lentos e estúpidos. Psicologicamente representam uma supervalorização de si próprio, mas que por vezes é necessária, pois caso contrário a pessoa não consegue realizar nada e assim sair de um estado que é apenas confortável. Os gigantes então representam certa megalomania de João que o faz sair de sua zona de conforto.

O grande desafio de João é subir, enfrentar sua inflação egóica e descer a realidade ileso, sem ficar preso a sua megalomania. E ele deve descer carregando os tesouros roubados.

Para o inconsciente cada passo que damos rumo à consciência é sentido como um roubo, que causa culpa. A transgressão as normas parentais rumo a uma individuação é sempre sentida pelo individuo com uma dose de culpa.

João sobre aos céus e rouba os tesouros três vezes. Nos contos de fadas é comum o herói enfrentar três vezes um desafio. Isso significa que a consciência deve encarar outros pontos de vistas mais de uma vez para que possa se desenvolver e enfim voltar a vida cotidiana agora amadurecido. Dessa forma o João infantilizado e preso a mãe morreu. Sua carência de pai foi suprida agora pela sua capacidade de se colocar no mundo a ganhar seu próprio sustento.




Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

2 COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui