Ok.Ok.Ok. Às vezes é inevitável e a gente acaba pisando na bola. Às vezes, a gente pisa na bola e nem se toca. E ficamos com cara de “Ah?” quando alguém que nos tratava com cortesia, passa a nos tratar secamente ou pior ainda: passa a mudar de calçada quando nos avista ao longe.

Na vida não temos controle sobre tudo. Às vezes, a boca vai mais rápido do que a cabeça. Às vezes, a gente faz apenas uma brincadeira e é mal interpretado. Às vezes, a gente não está num bom dia e acaba sendo mais frio do que o normal, o que pode gerar uma visão alheia equivocada a nosso respeito.

Por outro lado, muitas e muitas vezes, quando pisamos na bola, sabemos exatamente o que estamos fazendo. As motivações para pisar na bola são variadas, mas neste post, quero me centrar naquelas bobagens que a gente faz movido por sentimentos mesquinhos.

Existe uma grande diferença entre negar uma ajuda a uma pessoa por preguiça e negar uma ajuda pelo prazer de negar. Existe uma grande diferença entre magoar uma pessoa porque no afã de sermos felizes, vamos passando por cima de tudo e de todos e magoar alguém por maldade, por necessidade de parecer maior do que o outro, pelo simples prazer de dizer que levou a melhor.

Como diria a personagem teatral Blanche Dubois, a única coisa imperdoável é a maldade deliberada e gratuita.

Sim, parece óbvio, parece clichê, lugar comum, frase pronta, esvaziada de um real significado. Mas não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que fizessem a nós talvez seja o cerne de toda bondade, de todo pensamento religioso, moral e humanitário.

Talvez seja a melhor e ao mesmo tempo mais possível maneira de “amarmos” o nosso próximo. Coloco amarmos entre aspas porque o amor é espontâneo e não amamos a todos. Não existe lei ou preceito religioso capaz de nos fazer amar a todos. E como diria Freud, o nosso amor perderia o valor se fosse dispensado a todos.

Por outro lado, não amar não significa que devemos magoar. Independente dos sentimentos que as pessoas nos despertam, não devemos impor a elas o que para nós é intolerável, o que para nós provoca grande dor. Ok.Ok.Ok. A gente não é obrigado a distribuir beijinhos e sorrisinhos para todos. Se alguém me trata secamente, não sou obrigado a ser mega doce e carinhosa. Se alguém abusa da minha boa vontade e/ou me ironiza, não sou obrigada a puxar papo e ser gentil. Me sinto no direito de passar reto, como se não tivesse vendo a pessoa em questão. Não preciso agredir, ser hostil. Mas também não preciso fingir que está tudo bem.

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Por outro lado, devemos considerar mais os sentimentos das pessoas antes de fazermos algumas escolhas e tomarmos algumas atitudes. Quando somos levianos e vamos passando por cima das pessoas, sem parar para pensar que podemos estar magoando-as, oprimindo-as, colocando-as em situações constrangedoras e/ou estafantes, estamos promovendo uma corrente de sofrimento. Sim, pequenas atitudes bondosas e maldosas podem salvar ou estragar o dia de outra ou outras pessoas. Pequenas atitudes podem melhorar ou piorar a semana, o mês …quiçá, o ano de outras pessoas.

Se a gente tivesse mais noção do impacto que alguns gestos nossos provocam na vida alheia, seríamos muito mais cuidadosos. Se a gente compreendesse o quanto pequenos gestos interferem na vida alheia, ao estilo efeito borboleta, pensaríamos mais vezes antes de optarmos por soluções mesquinhas, preguiçosas, arrogantes.

Eu sei…não é fácil. Teoricamente é tudo muito simples e linear. Na prática, nem tanto. Só sei, que de alguma forma, todo o sofrimento que produzimos na vida do outro, regressa a nós, em algum momento, por meio de uma outra pessoa.

Realmente não sei explicar o porquê e já perdi a pretensão de obter tal resposta. Mas sinto que mais cedo ou mais tarde tudo volta de alguma forma. E muitas vezes, este regresso é a nossa salvação. Salvação no sentido de compreendermos o mal que fizemos a outra pessoa. Sim, muitas vezes, precisamos provar do nosso próprio veneno para sabermos o quanto ele é amargo e como fomos egoístas obrigando outras pessoas a tomá-lo.




Profa. doutora , idealizadora da Pós em Cinema do Complexo FMU, escritora e psicanalista. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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