Dia nublado. Leite talhado na geladeira. O pó do café acabou, e você só percebe quando amanhece. Mau humor. Ombro e pescoço tensos. Está chovendo e a sombrinha estragou. A maquiagem disfarça a noite mal dormida.

As lágrimas foram lavadas debaixo do chuveiro. Tantas situações que maquiamos, que camuflamos e que escondemos do mundo e das pessoas, porque talvez ninguém entenda.

Tudo está bem, mas nós não estamos, porque aquela dor que aparece de onde não sabemos, se instala. Aquele vazio apossa das horas que temos tempo e ninguém desconfia. Todo mundo vive dias de impasses, de desajustes, de desesperos, e guardamos todos esses conflitos dentro de nós, porque nem sempre a vida à nossa volta, tem a capacidade de entender que ser gente é muito difícil.

Temos um costume estranho de apontar o outro, de pensar mal das pessoas e de situações, de cobrar demais, e esquecemos de que ser leve é mais fácil do que ser exigente. Deixamos de lado a paz para vivermos inferninhos que nós mesmos criamos. Cultuamos o mal muitas vezes, até mesmo sem perceber.

Inferno é quando achamos um jeito para destruir a nossa paz interior, é quando perdemos tempo em denegrir alguém ao invés de tentar relevar e ser feliz. Criamos tantas expectativas ruins com relação às pessoas e esquecemos de dizer “eu te amo” com a alma.

O mundo está tão estranho, que as pessoas preferem apontar e prestar atenção nos deslizes, nos dias do avesso dos outros do que fazer um elogio ou segurar a mão. Além da vida pessoal e profissional, ainda temos que inventar risos nos dias de muitas turbulências… melhor fazer cena de que tudo está bem do que transparecer amarguras. Uma pessoa que leva para os dias tudo que transborda nela, causa um certo ranço na gente.

Não sei quantas vezes saí por aí com um sorriso que não era meu, com palavras certas sem muitas vontades, com abraço inventado, porque ninguém tem nada com isso quando não estou bem. Mas, não fique por aí inventando modas sobre mim, se meu humor evapora, se meu rosto tranca a serenidade, porque você não sabe quantas vezes precisei inventar até para mim mesma, vontade para enfrentar os problemas.

Saí por aí com sorrisos que não eram meus e também busquei sorrisos que pudessem me confortar. Inventar sorrisos, dias melhores e vontade de seguir são necessários quando nada vai bem, porque falta de alegria não resolve a situação e nem alivia os problemas.

Não me julgue, não tente decifrar minhas intolerâncias, não invente histórias quando não quero conversar, não implique com minha falta de brilho e nem aponte minhas olheiras… preste atenção nos meus sorrisos, porque esses, muitas vezes, mesmo não sendo da alma, te fazem sorrir também.

Você não sabe quantas vezes saí por aí com um sorriso que não era meu, na procura de um abraço que acalentasse minhas tristezas, de um beijo que acalmasse meus desesperos ou uma palavra que pudesse confortar meus desesperos. Você não sabe, mas eu sei… então, não me culpe pelas minhas caras feias e pelos meus silêncios.




Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.

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