Não é o fato mais confortável do mundo saber isso.

Muitas frustrações decorrem disso. Porém é importante lidar com esse ponto existencial de suma importância: ninguém nunca nos fará felizes.

É muito fácil nos enganarmos e realmente acreditarmos que alguém é responsável pelo nosso bem estar íntimo.

Seja em um relacionamento amoroso, em relações de trabalho, familiares, e até mesmo em relações mais distanciadas, como a com políticos e ídolos em geral, enfim em qualquer relação entre seres humanos.

Posso eu estar vivendo um relacionamento amoroso lindo. Podemos sim viver momentos muito felizes, inesquecíveis. Entretanto, não é ela que me faz feliz.

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Poderia ela me oferecer infinito amor, despir-se na minha frente, ou alegrar meus dias com um doce e envolvente carinho, enfim, fazer o que fosse, que se eu não estiver aberto a receber isso, simplesmente não vou reconhecer.

Aquilo que poderia me fazer muito feliz, não significará nada. Mas para estar aberto, eu preciso estar bem comigo mesmo. Quando estou bem, posso sim ser muito feliz em um relacionamento, mas somente quando antes de encontrar a outra pessoa, aprendi também a me encontrar.

Se eu tenho amigos incríveis, ou uma família maravilhosa, certamente eles não são responsáveis pela minha felicidade.

Não que eles não possam me fazer bem, muito pelo contrário. Porém, assim como no exemplo anteriormente citado, eu poderia estar fechado a todo carinho, atenção, diversão, enfim, a tudo o que essas pessoas poderiam oferecer para mim.

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Acontece da mesma forma, com relação às atividades profissionais. Se eu como psicólogo, por exemplo, estou feliz, não é somente porque consegui clientes que colaboram com a psicoterapia, mas porque estou inteiro, atento, e acreditando que o trabalho pode se realizar bem. Ou também, se estou satisfeito com meus colegas de trabalho, é porque de alguma forma estou receptivo à postura deles. Se não estivesse eu poderia ter os colegas mais companheiros, que estaria insatisfeito.

Todo contato humano é relação. A partir do momento em que estou, de fato aberto para a relação com a outra pessoa, posso receber o que esta tem a me oferecer.

Quando acredito que o outro pode me fazer feliz, ou melhor, vai atender aos meus anseios, não estou mais na relação, estou preso em meus ideais. Estou imaginando que o outro está lá para corresponder às minhas expectativas.

Aí quando o outro me frustra, o que ocorre? Fico chateado (ou com raiva, ou melindrado, etc) e quero cobrar algo do outro. Exigir que ele deveria ter correspondido ao meu anseio. Ao fazer isso eu digo, de certa forma: “você tem que me fazer feliz!”

Quanta restrição! Como posso colocar nas mãos do outro a minha satisfação?

A outra pessoa, por mais afinidade ou proximidade que tenha comigo, não tem obrigação nenhuma de me satisfazer. Quantas e quantas vezes já me enganei. Acredito que muitos dos que leem isso nesse momento também… Acertei?

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A vida se torna muito mais rica quando percebemos que a cada momento, a cada escolha, estamos construindo – não sem lutas e dificuldades – a nossa vida, a nossa satisfação nas coisas.

Em suma, construindo a tal da felicidade. Se estou em paz com minhas escolhas, com meus sonhos, com meus desejos; se estou atento e receptivo às consequências de meus atos e as escolhas dos outros (que de alguma forma sempre interferem nas minhas), posso sim estar bem comigo mesmo.

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Me construo a cada momento. Posso refazer caminhos, ou insistir nos mesmos, sempre buscando o melhor para mim e para os que comigo estão. Se percebo que aí é onde estou realmente, em minhas escolhas e em meus sentimentos, estou sim aberto ao outro. Estou bem comigo mesmo e posso estar de fato com outra pessoa.

Agora sim, posso afirmar com sinceridade: Você me faz muito feliz! Mas é porque meu terreno está arado e adubado para que você plante em mim o seu amor. E ele frutificará…




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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