Tem um embalinho de um grupo bem popular em Portugal, o D.a.m.a, em parceria com o brasileiro Gabriel o Pensador, que se chama “Não faço questão”, que anda me inspirando. Parte da letra “só vivemos uma vez não vivas em vão”, e “o tempo voa do berço até ao caixão”, vem mexendo comigo desde que o ouvi pela primeira vez. Maldita música que me faz pensar! (Risos)

Em um primeiro momento achei divertido, gostei dos meninos pulando no clipe, cantando, andando de bicicleta na beira do mar em Porto/Pt, sorrisos largos, um jeito adolescente de encarar a vida, brilhos nos seus olhares, inspirando vida, energia, vontade, sonhos e ideais.

Foi o que me transmitiram. Em um segundo, quis copiar a performance, e me flagrei cantando, de sorriso largo também, um jeito adolescente, com igual brilho no olho, vida, energia, e ate fiquei com vontade de andar de bicicleta. No terceiro momento, já não mais tão empolgada, na verdade com um pouco de preguiça e sem muita paciência, meu desejo mesmo era de sentar e apenas assistir os rapazes, ainda que contemplando sua juventude.

No quarto, estranhamente não quis mais pular, cantar nem andar de bicicleta. E no quinto e derradeiro momento acabei concluindo: eu nem faço questão…

Em uma análise psicológico-profissional, que nem sou, eu diria, isso é ser bipolar! Bem, não é para tanto. Guardadas as caricaturas para descrever os topos dos sentimentos, e as devidas proporções, há algo que se parece com isso que tenho reparado em muitas pessoas, e muitas vezes em mim também. Algo do gênero “falta de empolgação”, “perda de potência”, “baixa da energia”, na medida em que vamos crescendo, amadurecendo e, sobretudo, envelhecendo..

Mas antes disso a impressão é a de que a partir do momento em que nos estabilizamos relativamente, e adquirimos um mínimo indispensável para viver, do tipo casa própria, carro e tranqueiras pessoais, damos os estudos por concluídos, constituímos família, contamos com um rol de amizades, costumamos cessar os trabalhos de busca e então a acomodação é a bola da vez. De repente nosso físico, mental e emocional não quer viver mais grandes emoções e aí o encantamento com a vida vai perdendo inspiração.

Mas por que será isso acontece? Por que nos cansamos das coisas? Por que perdemos o brilho do olhar de antes? Por que nos enjoamos facilmente? Por que desaprendemos a empolgação de repente?
Gustavo Santos, escritor português, traduz muito sentido quando encerra cada página de um de seus livros com um “Ama-te”, o que me inspira a ir além complementando com um “Apaixona-te”. Parece pueril a opinião e incipiente. Mas é necessário sim apaixonar-se por alguma coisa, qualquer coisa, qualquer um, desde que nos coloquemos em ação novamente.

Já li algo no sentido de que viver é como andar de bicicleta, para ter equilíbrio é necessário nos mantermos em movimento. Isso dá trabalho, eu sei, mas, se não for isso, então tente dar um basta definitivo e espere a morte chegar, porque não há outra saída.

Ainda que de forma suave, a vida exige o nosso mover. Se nossa energia é de permanecermos parados, o universo mandará mais disso, provendo-nos de uma vida totalmente ociosa, prostrada, apática e vazia. Tudo é energia. O que damos recebemos. Portanto, se esperarmos motivação do além para nos empolgarmos, para começarmos algo novo, até para andar de bicicleta, esqueça! Porque tudo nos é devolvido na medida do que emitimos. Energia da espera nos devolve mais espera.

Olha, arrisco em dizer que, se não fizermos coisa alguma, já estamos a sofrer de qualquer forma. Porque permanecer imóvel também dá trabalho! Só de explicar a nós mesmos os benefícios da inércia e do conforto, de viver uma vida sem riscos, e até nos convencermos disso, já dá um cansaço muito grande! Uma retórica convincente sem dúvida consome um grande depósito de energia, talvez aquele resto da potência vital que tínhamos para aproveitar em atitude.
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A zona de conforto é um sofá de espinhos. Tem casos em que carece até de anestésico para não sentirmos a dor desse espetar. Antidepressivo costuma funcionar para esse tipo de sintoma. Mas só por um tempo, porque infelizmente, ou ainda bem, o efeito não acompanha a demanda da vida e logo é necessário aumentar sua dose. Ou largar. Ou seja, é isso ou mudar de atitude.
A vida quer que andemos, não só fisicamente, mas que avancemos em nossa evolução. Mas isso não quer dizer sair por aí como desesperados fazendo coisas sem parar para encontrar o sonho que nos move, pois isso se confunde com ansiedade, o que rima com desespero, falta de confiança e fé. Não acreditar que o Universo proverá na exata medida da necessidade é agir por ele, autonomamente, o que também faz correr o risco de perda de potência.

O que fazer então? Se parado é prostração e correr é ansiedade? O clipe da música do “D.a.m.a” traz subjacente a solução que já foi dita: movimento. Apenas isso. Como andar de bicicleta! Movimento não é apenas deslocamento do ponto A para o B, é também mudança, dinâmica, permissão ao fluxo. Quando permito que o sonho me encontre, quando autorizo a transição, quando apenas me entrego para novos planos, novas conquistas, novas amizades, novos amores, pequenas viagens, mudar de casa, de ares, de cidade, ou até mesmo de profissão, permito que a vida me encontre. Ao me abrir para essa possibilidade em si já há renovação. A entrega já é de bom tamanho! Na simples permissão há movimento, há fluxo, há vida! Eu sei que você está cansado, mas tente, entregue-se! Faça questão!

Podemos escolher ficar ou andar, mas não ignorar que só vivemos uma vez e que o tempo, de fato, voa do berço até o caixão!




Servidora Pública Federal, rastreadora incansável do desenvolvimento pessoal, e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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