A lembrança de uma prova na escola, um dia tenso no trabalho ou um filme de suspense no cinema bastam para que as mãos sejam automaticamente levadas à boca. Adeus, unhas. Após a destruição das estruturas que protegem a ponta dos dedos, vem a difícil missão de esconder as feridas e as deformações que surgem.

A situação é velha conhecida de quem sofre com onicofagia, nome dado ao comportamento crônico e descontrolado de roer e arrancar unhas e cutículas com os dentes. Um grupo cada vez maior de pesquisadores tem reservado mais atenção ao problema. Um levantamento publicado recentemente na revista especializada Acta Dermato Venereologica indica que o hábito é um distúrbio emocional de causas variadas e ligado a problemas como ansiedade.

A onicofagia começa durante a infância ou início da adolescência e pelo menos metade dos indivíduos em idade escolar apresenta o distúrbio. Para muita gente, trata-se de uma compulsão mais difícil de superar que o tabagismo. Mesmo assim, ela costuma ser ignorada por pacientes e médicos, que ainda consideram o hábito inofensivo, com consequências meramente estéticas, o que não é correto.

“É surpreendente que esse problema seja raramente relatado na literatura e não tenha sido muito estudado até agora. O prejuízo não é apenas estético. Foi claramente demonstrado que roer as unhas de maneira crônica pode causar anormalidades nos dentes, tais como recessão gengival”, argumenta o principal autor do estudo, Przemyslaw Pacan. Ele acrescenta que o hábito pode causar complicações graves, como infecções da pele ao redor das unhas, que sofrem um encurtamento irreversível.

Em seu estudo, Pacan investigou a incidência do problema em 339 jovens estudantes de medicina. Os resultados mostraram que 46% dos entrevistados tinham ou já haviam tido onicofagia. As mulheres apresentaram maior frequência no transtorno e agiam de forma mais inconsciente. Já 51,5% dos homens admitiram perceber claramente o momento em que levavam a mão à boca. Quanto às comorbidades, boa parte dos adeptos foi diagnosticada com ansiedade (22,5%), e o TOC apareceu com menos frequência (3,1%).

“A onicofagia parece uma variante de compulsão e pode conduzir à destruição das unhas. Alguns indivíduos relatam prazer e relaxamento, e algumas observações sugerem comorbidades (males associados), como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) ou os transtornos de ansiedade”, diz. As causas ainda são desconhecidas.

O que se descobriu até agora, no entanto, é que, para muita gente, o ato é automático, especialmente quando a pessoa está envolvida em uma atividade imersiva, como ver televisão ou ler um livro. Por outro lado, há indivíduos que roem as unhas de maneira intencional. Pacan aponta ainda outro motivo. “Também pode ser resultado de uma necessidade de ter unhas perfeitas. Algumas pessoas tentam morder as irregularidades, mas o comportamento traz mais prejuízos que ganhos. Curiosamente, mesmo que as unhas fiquem feias depois, elas continuam”, relata.

Ranaia Tatsukawa, dermatologista do Hospital Santa Luzia, explica que roer as unhas de forma crônica provoca microtraumas nos dedos. As lesões possibilitam a entrada de bactérias, resultando na paniculite, uma inflamação da pele na região mordida. “Com o tempo, as unhas passam a crescer com defeito e ficam permanentemente distróficas. Observamos em consultório que há muita ansiedade por trás, inclusive em crianças. Quanto mais cedo esse hábito for tratado, mais chances há de superação”, alerta a especialista.

Fonte: farmaup.com.br




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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