Essa semana ao conversar com uma amiga, notei que ela falou uma mesma palavra 3 vezes, em menos de 5 minutos. E me pediu desculpas pela ausência, pois os últimos três convites que fiz, ela recusou por conta da “Correria”.

“Correria” virou desculpa plausível e absolutamente incontestável para todas as ausências. Se encontramos um conhecido no supermercado e não queremos parar para conversar, simplesmente dizemos “E aí amigo, tudo certo? Comigo tudo bem, só na correria!” e isso nos libera imediatamente de estender o papo. Ao chegarmos atrasados ou faltarmos na reunião de pais, somos prontamente absolvidos pela “correria”.

Ao faltarmos no chá de bebê de uma amiga, mesmo que ela fique magoada, tenho certeza que ela entende que foi culpa da Dona Correria.

Afinal, caro leitor, quem não vive na CORRERIA hoje em dia?

É correria para se manter informado em um mundo que nos fornece 10864 informações novas por segundo. É correria para sair do trabalho e dar tempo de ir para a academia…

A correria é uma perigosa pandemia.

Porque na Correria perdemos momentos imperdíveis, deixamos de dar os devidos abraços em quem amamos; esquecemos de ligar para jogar uma conversa fora…não lemos mais, não ouvimos mais e não conversamos mais.

A correria nos afoga sem dó nem piedade e quando ela se afasta um pouco, uma enorme lacuna se revela dentro da nossa alma. E assim, para não vermos o abismo, nos viciamos em Correria. Ela se tornou uma droga. Uma droga lícita.

Peraí…de repente temos tudo para nos sentirmos felizes e realizados, mas não estamos. Por que? Esquece, não temos tempo para pensar nisso. Mas faço questão de te dizer o porquê: Porque estamos conectados com o planeta inteiro, 16hrs por dia, sabemos tudo que alguém que nem conhecemos faz, onde ela passou o carnaval, como as viagens dela são maravilhosas, mas não sabemos o que aconteceu com nossos filhos no colégio, com nossos pais na última consulta médica.

Estamos aqui, mas não estamos aqui. Não soa um tanto assustador?

Nos conectamos com a equipe de trabalho às 23:30hrs de uma quarta feira; nos conectamos com o primo que está morando do outro lado do mundo. Nos conectamos com pessoas, coisas, marcas. Mas desconectamos de nós.

E aí, não tem dinheiro, emprego ou Instagram que dê jeito.

Quando perdemos a conexão conosco, o wifi com o Divino, esse buraco na alma se faz. A saúde fica ruim, o sistema imunológico responde; a cabeça começa a doer, o estômago pede para parar, o sono não é mais suficiente e nem a ida aquele restaurante tão badalado nos fornece bem-estar. Porque não são os eventos magnânimos (e esporádicos) que nos proporcionam a genuína felicidade, pelo contrário, são os pequeninos prazeres camuflados na rotina que nos dão a sensação de paz e alegria.

Enquanto você espera a promoção de cargo para, enfim, ser feliz, ou o casamento sair, ou o divórcio acontecer, ou a troca de carro, ou a compra do apartamento, experimente desconectar um pouco disso tudo para se ouvir.

Se dê atenção!

A Correria nos faz esquecer de como é bom tomar um café da manhã sem pressa; ligar para ouvir a voz de um amigo querido; sair para brincar com nosso cachorro, ver um filme bobo; ler um livro novo. A Correria nos tira o prazer de um banho demorado; de uma hidratação nos cabelos, de organizar a bagunça dos armários e de nossas mentes.

Reconecte-se com a sua essência. Se leve para comer um bolo de chocolate com muito recheio, saboreie uma revista, por exemplo. Reviva o prazer de sentar no chão para brincar com as crianças, de se jogar na cama às 20:00hrs, de comer uma pizza em plena segunda feira. De cuidar pessoalmente das coisas da sua casa e da sua alma. De abrir um vinho ouvindo a sua banda preferida; de surpreender seu amor sem uma data sazonal.

Quando esses pequeninos prazeres nos faltam, os grandes acontecimentos se tornam efêmeros, porque ignorar toda a viagem só pensando no destino final é um grande desperdício de vida.

Mantenha seus objetivos, lute por eles, mas não se negligencie as belezas da jornada.

A saída é para dentro. A felicidade não está à venda, exposta na vitrine.

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(Imagem: Rafael Barros)




"Bruna Stamato - Neurolinguista, palestrante, autora dos livros "Nunca quis um marido sempre quis um companheiro " "Você merece um amor bom. Mãe, geminiana e uma eterna sonhadora"

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