“Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno”, Rubem Alves.

Todo o ano é a mesma coisa: as promessas, esperanças, planos, angústias e estratégias para que as coisas caminhem em linha reta.

Dezembro é o mês da despedida. Raro alguém se lembrar das passagens boas. Sobressaem as ruins, porém, apesar de que os momentos bons são raríssimos, a esperança nunca acaba. Ela é a mola propulsora para uma vida com menos sofrimento ou para suportar o fardo nosso de cada dia.

O psicanalista Jorge Forbes, no texto “Feliz Ano Novo”, publicado na revista Emoção, em 6 de novembro de 2000, diz que o ano vindouro até auxilia os analistas no diagnóstico de algumas neuroses, por exemplo:

obsessivos seriam os que só querem o que não desejam, pois assim não arriscam perder o que lhes é mais precioso, mantendo-o escondido a sete chaves; e histéricas aquelas que, eternamente insatisfeitas com o que obtém, desejam sempre uma outra coisa. Querer o que se deseja implica o risco da aposta – toda decisão é arriscada – e a coragem de expor sua preferência, mesmo sabendo que toda carta de amor tende ao ridículo, como lembra Fernando Pessoa”. Este trecho é meu preferido

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Em resumo, o analista quer dizer que suportar querer o que se deseja e não temer a surpresa do próprio Ano Novo é a grande chave para a esperança. Em termos leigos seria isso, porém há de se considerar que tudo que é “novo” causa receio. Para alguns, medo seria mais apropriado. Mas, para mudar algo deve sair do eixo estagnado. Não é o ano que será diferente. A mudança deve acontecer dentro ou fora de cada um senão não acontece.

Certa vez escrevi que as festas de fim de ano produzem muitos efeitos, menos a indiferença. A data tem seus adeptos e seus desafetos. Os dois têm algo em comum, o sentimento despertando durante o período de festas. Bom ou mau, o que vale é sentir.

Há um conjunto de expectativas quanto às comemorações de fim de ano. Troca de presentes, socialização e outros. Por mais que racionalizamos um mal estar, o que vale é o que sentimos.

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Dar algo sem querer nada em troca não tem preço, e faz bem.

Na verdade é preciso olhar para frente e buscarmos no simbolismo da mudança perspectivas para um recomeço esperançoso. Se a mãe de todos os afetos é a angústia, por que não, só desta vez, proclamar que o “Ano Novo” nasce da esperança? Vale a pena tentar de novo!




Psicanalista; Especialista em Saúde Mental e Dependência Química; Mestre em Filosofia da Religião; Doutor em Psicologia (Dr.h.c); Doutorando em Psicanálise (Phd); Analista Didata da Escola Freudiana de Vitória (Acap); Ex-presidente e membro da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees); Coordenador do Centro Reviver de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (Crepad); Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL). É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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